Gargalos na logística continuam impactando setor exportador, apesar do valor expressivo na balança comercial
Os problemas geopolíticos persistem e com eles os entraves na logística global também. Para os exportadores do Brasil o cenário não seria diferente e o setor continua enfrentando gargalos para o embarque de cargas.
Os dados mais recentes do Boletim Detention Zero, elaborado pela ElloX, mostram que no mês de janeiro foi registrado o maior índice de atraso de navios no Porto de Santos. A cada 20 navios, pelo menos 16 tiveram alguma alteração na estimativa de chegada.
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O índice de alteração de escalas e atrasos de navios em Santos alcançou 85% em janeiro de 2024, o maior percentual registrado até então, agravando o já crítico cenário, que havia aferido seus maiores percentuais nos três últimos meses de 2023: 76% em outubro e dezembro e 81% em novembro.
“Tais problemas estão resultando em adiamentos regulares de embarques e pátios abarrotados de contêineres nos terminais portuários, que estão com dificuldades para receber cargas devido a limitações físicas de espaço do terminal”, revela o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.
Segundo Lucas Moreno, porta-voz da ElloX, todo o setor exportador brasileiro sente os impactos dos desafios na logística interna, sobretudo pelas taxas indevidas que são cobradas pelos armadores. Sem citar a empresa exportadora, menciona que uma usina estava foi cobrada indevidamente em R$ 560 mil.
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"Ou seja, o navio atrasou e mesmo assim o navio quer passar essa cobrança. Quando você vai exportar, a empresa avisa que vai chegar em determinado dia e dá um prazo para o exportador embarcar a carga, porém com as alterações o armador justifica que a empresa ficou mais tempo que o estimado com o contêiner e é cobrado US$ 100/dia por contêiner", explica. Diante deste cenário, o exportador consegue despachar a carga, mas precisa entrar com uma série de ações para não realizar o pagamento.
Já em relação ao tempo de gate aberto, os terminais têm alterado o deadline, mas mantido a data de abertura estática, gerando um aumento artificial do prazo. “Isso desvirtua a realidade uma vez que notamos, nos terminais e ansportadores, que eles não possuíam janelas para entrega nesses períodos e, assim, postergaram o deadline”, observa.
Moreno ressalta ainda os números da balança comercial referentes ao mês de janeiro. Os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a balança acumulou superávit de 6,527 bilhões de dólares em janeiro. De acordo com informações da Reuters, a projeção é de que as exportações brasileiras este ano atinjam 348,2 bilhões de dólares, um valor 2,5% superior ao visto em 2023, enquanto as importações devem somar 253,8 bilhões de dólares, 5,4% acima do visto no ano passado. As projeções foram atualizadas em janeiro.
O especialista ressalta, no entanto, que é importante que se tenha em mente que muita carga que estava represada nos portos foram embarcadas no último mês. É importante ressaltar que os problemas no Oriente Médio e geopolíticos persistem, apesar de leve melhora nas últimas semanas, além da estabilidade nos custos dos fretes marítimos.
NECESSIDADE DE NOVO TERMINAL?
Os problemas resultados em pátios lotados no Porto de Santos. Patricio Junior, diretor do grupo TIL - empresa responsável pelo terminal da MSC, a maior companhia marítima do mundo, recentemente em sua página no LinkedIn a necessidade de um novo terminal de cargas em Santos.
"Os números de ocupação dos pátios dos terminais, de utilização dos berços dos terminais, de espera na barra dos navios para atracar e dos preços em geral de todo o sistema logístico portuário está aumentando", disse.
Confira na íntegra o posicionamento da Autoridade Portuária de Santos (APS):
Primeiramente, é importante ressaltar que as cargas são movimentadas por operadores privados, ficando a Autoridade Portuária de Santos (APS) responsável pela infraestrutura pública do Porto de Santos. Dados de 2022 apontavam a capacidade de movimentação anual de contêineres em Santos na casa dos 5,7 milhões de TEUs. Os dados estão sendo atualizados, pois houve ampliações de terminais: Ao final de 2022, o terminal da Santos Brasil homologou a ampliação de seu cais em mais de 220 metros. A obra é parte de uma série de investimentos que o terminal está efetuando desde 2019. Com a ampliação do berço, a previsão é que o terminal aumente sua capacidade para 2,4 milhões de TEU/ano. Em 2023, o terminal DP World ampliou seu cais em 200 metros, ampliando a capacidade do terminal em 200 mil TEU/ano. Desta forma, a projeção APS é de que, até 2030, as atuais condições atendam perfeitamente o movimento e o crescimento previsto.
No cabe à responsabilidade pública do Porto, está sendo ampliada a capacidade, com estudos para o aprofundamento do canal para 17 metros. A previsão contida no plano estratégico da APS é atingir essa profundidade em 2030. Entretanto, a Autoridade Portuária está iniciando estudos para antecipar essa meta. E, com a concessão da Ferrovia Interna do Porto de Santos (Fips), haverá nos próximos cinco anos a ampliação da capacidade ferroviária, que diminui o tráfego rodoviário de graneis vegetais, abrindo espaço para os caminhões de contêineres, que tem tamanho menor e maior rotatividade.
A propósito, a capacidade de movimentação de contêineres também terá impacto positivo com o encerramento de uma disputa de mais de dez anos, que tem a ver com a Fips: a APS viabilizou a transferência de um terminal retroportuário de contêineres para a entrada da cidade, permitindo que o local onde está instalado hoje possa receber a implantação de uma pera ferroviária - que aumentará em 20 milhões de toneladas/ano o escoamento de granéis vegetais. Este terminal retroportuário ficará próximo ao Brasil Terminal Portuário (BTP), especializado em contêineres, que teve o arrendamento da área que ocupa prorrogado por mais 20 anos após o término da vigência atual (Até 2047). Com a prorrogação está previsto o adensamento de área e a obrigatoriedade de investimentos por parte da arrendatária, para aumentar sua capacidade de movimentação.
Finalmente, a APS informa que a atracação de navios está normal. Como exemplo, o Porto de Santos recebeu neste mês (1º de fevereiro) o navio MSC Natasha XIII, com 366 metros, o maior navio da história a atracar em seu cais. Alterações de escalas de embarcações são naturais e não significam atrasos, uma vez que decorrem de diversos fatores: conveniência dos operadores marítimos e portuários, clima, desembaraço documental, dentre outras situações menos comuns. No momento, não há fila preocupante de navios. Evidentemente, considera-se que a navegação mundial está impactada por situações adversas, como a guerra Rússia-Ucrânia (Mar Negro e Mar Mediterrâneo), ataques a navios no Mar Vermelho e seca no Canal do Panamá. são questões que estão sendo monitoradas.
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