Início de 2025 ainda deve ser positivo para o setor leiteiro, mas com atenção aos custos de produção no 2º tri
Segundo analistas de mercado, o ano de 2024 foi, de certa forma, positivo para o setor leiteiro, com preços pagos pelo produto ao pecuarista em patamares elevados e custos de produção menos voláteis do que o que foi observado em 2023. Desde o final de 2024, entretanto, os preços pagos ao produtor vêm em queda, fator relacionado ao aumento da oferta de leite no campo. Especialistas destacam que os preços do milho no início do ano em paralelo com a queda sazonal do preço do leite pago ao produtor pode representar um ponto de atenção, mas será preciso observar a proporção em que estes dois fatores devem avançar.
Glauco Carvalho, economista da Embrapa Gado de Leite, explica que neste início de ano, o primeiro semestre deve ser ainda de importações elevadas, mesmo com a alta do dólar, mas acredita que deva haver uma leve desaceleração, justamente pelo fator cambial. “Isso dá uma sustentação aos preços, e pela proximidade da entressafra, o cenário pode ser melhor que o primeiro semestre de 2024”.
Em relação aos custos de produção, Carvalho destaca que deve haver um pouco mais de atenção ao milho, porque até que haja a entrada da safrinha, será um mercado ainda incerto. “
O ponto mais crítico deve acontecer e tende a piorar o cenário ao longo do ano é a demanda pelo leite. A taxa Selic está subindo, indicando poder chegar até 15%, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve ser menor, e isso deverá pressionar negativamente o consumo. Nos últimos dois anos, houve um crescimento de quase 9 litros por habitante, com indicadores macroeconômicos bons, o que não deve se repetir em 2025”, destaca o economista da Embrapa Gado de Leite.
Em análise conjuntural publicada em dezembro de 22024, a equipe de pesquisadores e analistas da Embrapa Gado de Leite aponta que “é esperado que o preço ao produtor, no primeiro semestre de 2025, siga em linha com os praticados em 2024. Para o segundo semestre, espera-se queda nos preços já que a melhoria das margens ao produtor tende a estimular a produção, fortalecendo a oferta de leite. Também é preciso maior atenção aos custos de produção que vêm sendo majorados por incertezas de oferta interna no mercado de milho, além de um cenário complicado no ambiente internacional, com potencial para impactar preços de petróleo e fertilizantes”.
Como pontos de atenção citados pela Embrapa Gado de Leite, estão o monitoramento da volatilidade climática, a tendência de que produtos com alto teor de proteína e zero açúcar devem dar fôlego adicional aos produtos lácteos funcionais em 2025, e a desaceleração no crescimento da produção na China, que deve levar a um maior equilíbrio entre oferta e demanda global nos próximos anos.
“Em síntese, o ano de 2025 é esperado que seja também um bom ano, mas aquém do que tem sido o de 2024. Os desafios climáticos e as incertezas macroeconômicas do Brasil, podem afetar o desempenho da economia, com reflexo no setor lácteo nacional”, aponta o relatório da Embrapa.
Pela análise da pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Natália Grigol, os preços do leite pago ao produtor vêm em queda desde outubro de 2024, apresentando tendência de queda neste início de 2025. E essa queda do preço do leite cru pago ao produtor está relacionada ao período de safra e ao aumento da oferta no campo.
“Então com as chuvas, maior disponibilidade de pastagens, diminui os custos com a alimentação dos animais, favorece a produção, aumenta o volume ofertado e, consequentemente, o preço cai. Vemos que este movimento de desvalorização do produto deve persistir até, pelo menos, fevereiro. Março pode ser um mês de estabilidade, mas ainda é incerto cravar como o mercado vai reagir”.
Ela explica que é normal que haja comportamento de preço no primeiro trimestre do ano, levando em conta a sazonalidade, porque à medida que vai transicionando do verão para o outono, aumentando o período seco e começando a entressafra, a oferta vai diminuindo e as cotações tendem a subir no segundo e no terceiro trimestre.
“Apesar de ter este viés de queda entre janeiro e fevereiro, ainda não é possível afirmar com precisão qual será a intensidade desta queda, porque ao passo em que há diminuição da receita do produtor, ele também está encarando um aumento pontual no custo de produção”, diz Natália.
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Natália Grigol explica que em 2024 o cenário para os custos foi mais positivo que em 2023 e 2022, considerando o ano passado tendo mostrado custos de produção bem mais estáveis para a pecuária leiteira. “De janeiro a novembro, o custo operacional aumentou, no acumulado destes meses, 2,7% na Média Brasil, realizada pelo Cepea”, apontou.
Apesar desta alta, a pesquisadora do Cepea destaca que foram variações pequenas mês a mês; foi mais para o final do ano que a variação ficou mais expressiva, mas ainda assim na faixa de 1% de um mês para o outro. Isso porque, no final do ano de 2024 subiram os preços dos insumos ligados à nutrição dos rebanhos, como, por exemplo, a suplementação mineral, o concentrado, milho, soja, adubos e corretivos de solo. Sendo assim, no final do ano passado, o produtor de leite perdeu parte do seu poder de compra frente a estes insumos que são tão importantes na operação.
“Neste contexto em que o produtor perde receita e os custos começam a sinalizar uma alta, fica delicado fazer previsões de preço para o próximo trimestre porque não se sabe qual vai ser o comportamento do produtor diante desta perda de poder de compra”.
Glauco Carvalho, economista da Embrapa Gado de Leite, detalha que o ano de 2024 se encerrou de forma mais positiva do que o esperado. No segundo semestre, a partir de maio, o preço ao produtor e a remuneração foram melhorando. O que colaborou foi: o crescimento mais fraco da oferta, com o Rio Grande do Sul com problemas pela enchente, seca muito forte no terceiro trimestre, então 2024 deve fechar com produção crescendo 1,6 a 1,8%. Pelo nível de rentabilidade que houve, era para ter um crescimento superior, o que não ocorreu.
Houve também um processo de saída de produtores da atividade. Aqueles produtores mais eficientes, com melhor situação em relação aos custos têm obtido rentabilidade, mas outros produtores com menos tecnologia, não têm. Os custos de produção fecharam o ano perto de 4% a 5% acima do ano de 2023, mas os preços pagos ao produtor subiram mais.
Um dos questionamentos feitos por Natália Grigol é se isso pode afetar investimentos por parte do pecuarista leiteiro nas operações. De uma maneira geral, segundo ela, o setor ainda está otimista, acreditando que o produtor ainda tem capacidade de investimento na atividade e que o ano de 2025 deva ainda ser vantajoso para a pecuária leiteira.
“Para o encerramento dos cálculos de 2024, acredito que a produção deve aumentar 2% e para 2025 um percentual semelhante, apontando para uma manutenção no ritmo de investimento, o que não é um cenário ruim. Mas este avanço no custo com a nutrição dos animais preocupa um pouco em relação ao poder de compra do pecuarista no primeiro semestre, mas à medida em que as colheitas de grão forem acontecendo, a situação pode mudar e ficar muito mais positiva para o produtor de leite no segundo semestre. Essa alta no custo de produção é o principal ponto de atenção para o setor neste ano. De uma maneira geral, não há uma perspectiva negativa para 2025”, finalizou.
COM A PALAVRA, O PRODUTOR
Áureo Carvalho, produtor de leite em Santa Rita de Caldas, em Minas Gerais, explica, em resumo, que o produtor tem o dever de fazer todo o trabalho de controle da porteira para dentro, como controle de compras e gastos, investimentos no momento e na media certa, e os preços pagos, vêm do mercado.
“Trabalho com a Danone e ela fornece a assistência da Educampo, e o técnico acompanha mensalmente os dados e lança tudo no sistema e no ano passado, ficamos em 7º lugar em Minas Gerais entre 800 fazendas que são monitoradas pelo educampo. Tivemos o 7º melhor custo por litro de leite.
O produtor que faz o dever de casa, que controla seus custos, seus gastos, que faz pesquisa de preços na hora da compra, que compra no momento certo (milho de abril a junho, polpa cítrica de maio a junho, e farelo de abril a maio). Procuramos trabalhar com animais com boa genética, que ajudam a puxar custo para baixo.
Os custos, hoje, para quem se controlou, para quem se organizou, se planejou, está uma maravilha. Hoje, está me sobrando R$ 1,48 por litro de leite. Minha produção hoje está em 1800 litros por dia.
Mas o produtor que está todo mês comprar ração da mão para a boca, que está a mercê da especulação do mercado, que não tem bons parceiros, não investe em genética, este mal está sobrevivendo ou até deixando a atividade.
Eu travei farelo em contrato através da Danone com preço de R$ 2.200,00 a tonelada. Quem busca na agropecuária paga R$ 2.700,00, R$ 2.800,00 a tonelada. Milho, eu comprei em maio e abril do ano passado, R$ 48,50 a saca, e hoje, quem busca na agropecuária, paga R$ 75,00 80,00 a saca. A polpa cítrica paguei 54 a saca de 60 quilos, e quem compra hoje paga 75 reais a saca. Está na mão do produtor se profissionalizar, ver a atividade como uma empresa, como um negócio.
A questão dos preços, o mercado vai ditar o preço, o mercado é soberano. O produtor pode ter um leite de qualidade boa, ter qualidade melhor para ter bonificação, e os preços estão bons no momento. As quedas, geralmente, começam em setembro, e em 2024, começam em novembro. E já há rumores que o spot em janeiro deve reagir, o que geralmente é previsto para acontecer em março. Os preços estão acima do que a gente esperava este ano, e estou entusiasmado com 2025.
Este ano promete ser bom para a pecuária leiteira, e estou até investindo em compost barn”.
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