Leite/Cepea: Preço sobe em setembro, mas deve cair no terceiro trimestre
A pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostra que, em setembro, a “Média Brasil” fechou a R$ 2,8657/litro, 3,3% acima da do mês anterior e 33,8% maior que a registrada em setembro/23, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de setembro). O movimento de alta, contudo, parece ter terminado. Pesquisas ainda em andamento do Cepea indicam que, em outubro, a Média Brasil pode recuar cerca de 2%.
O aumento do preço do leite cru em setembro se explicou pela maior competição dos laticínios e cooperativas na compra de matéria-prima – num contexto em que a oferta vinha crescendo de forma lenta, devido ao clima mais seco (sobretudo no Sudeste e Centro-Oeste) e aos estoques de lácteos em volumes abaixo do normal. Mas, mesmo com as adversidades climáticas, a captação de leite em setembro seguiu em alta, por conta da estratégia das indústrias em assegurar volume para reabastecer seus estoques. Assim, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea subiu 8,3% de agosto para setembro.
Porém, em outubro, o mercado não deve suportar novas altas de preços, à medida que a captação seguiu avançando. Sazonalmente, o retorno das chuvas da primavera melhora a disponibilidade e qualidade de pastagens, o que favorece a produção de leite. Além disso, pesquisas do Cepea mostram que a demanda por insumos ligados à nutrição animal seguiu elevada em outubro, o que têm mantido o ritmo de crescimento da oferta de leite cru. Ainda assim, a situação não é confortável para o produtor, tendo em vista que os custos com nutrição animal seguem subindo. Mesmo com a valorização do leite em setembro, o produtor perdeu poder de compra frente ao milho, dada a alta nos preços do grão.
Além da sazonalidade, as oscilações nos preços dos derivados também devem pressionar as cotações do leite ao produtor a partir de outubro. A pesquisa do Cepea realizada com o apoio da OCB mostra que, apesar das leves valorizações no leite UHT e da muçarela no mercado atacadista de São Paulo, a tendência de desvalorização dos lácteos tem se fortalecido depois da segunda quinzena de outubro, ao passo que a oferta tem crescido.
O mesmo ocorreu no caso do leite spot. Em Minas Gerais, a média mensal de outubro, de R$ 3,22/l, ficou 1% maior que a do mês anterior. Contudo, quando se analisa a trajetória do spot ao longo do período, verificase que houve queda de 4,4% no preço médio da segunda quinzena de outubro, que ficou em R$ 3,15/l. E esse movimento de redução ganhou força, de modo que a média mineira caiu mais 6% na primeira quinzena de novembro, chegando a R$ 2,96/l.
Forma-se, assim, um iminente cenário de pressão para as cotações do leite cru, no campo, e para os lácteos, na indústria, que deve permanecer pelo terceiro trimestre. A dificuldade do setor não é lidar com a queda em si, mas com a falta de previsibilidade dos negócios. A instabilidade do mercado e a incerteza sobre o posicionamento de concorrentes têm elevado a cautela dos agentes e encurtado o horizonte da tomada de decisão. Isso é ainda mais complicado nesse momento de alta nos custos de produção e possível estreitamento de margens no campo, elevando a dificuldade dos agentes em mensurar o potencial de oferta e em determinar as variações nos preços.
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