"O maior inimigo do palmito é a lei"
Conversamos com um agricultor-extrativista que prefere se chamar de mateiro e explica como é a "ecologia caiçara"
Um cidadão anônimo tem o privilégio de morar dentro da maior remanescente de Mata Atlântica do Brasil e num dos biomas mais importantes do planeta: a Área de Proteção Ambiental de Guaratuba.
O cidadão aparece sem nome nesta reportagem porque não quer ser preso por crime ambiental. O crime: faz replantio de palmito e mantém a espécie preservada em sua pequena propriedade e ainda em algumas matas próximas. Não diz quantos pés chega a colher, mas diz que ganha entre R$ 100 e R$ 300 por mês com a atividade.
O manejo com o corte e replantio assegura a perpetuação da juçara, incluída na lista de espécies ameaçadas de extinção, e ainda o sustento de centenas de famílias do litoral do Paraná.
Anônimo conta que tem banana, mandioca, taiá (inhame) e palmito na propriedade, mas é o último que dá mais lucro.
Como não quer perder a fonte de renda, diz que está sempre replantando pelo menos o dobro do que derruba. Este manejo caiçara existe séculos antes da criação de leis ambientais que protegem as espécies e penalizam os preservadores nativos.
“Faço o replantio com mudas que é mais rápido e eu posso continuar meu pequeno cultivo clandestino”, conta. “Mas se você simplesmente não cortar com exagero, o palmito cresce por conta própria”, assegura.
“Um pé de palmito dá 5 mil sementes por ano. Se você espalhar bem nos lugares certos e vingar 1%, dá, dá, 50 pés de palmitos por ano. É palmito que não acaba mais”. “Se você plantar mais do que derruba, vai durar para sempre”, assegura.
De acordo com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que fez diversas semeaduras aéreas de juçara, cerca de 60% das sementes lançadas de helicóptero sobre a Mata Atlântica se transformam em árvores adultas.
O agricultor e extrativista garante que segundo maior inimigo da proliferação dos palmitos é a árvore mais velha que não dá tantos frutos e ainda impede que outras cresçam ao seu redor. “Se passar do ponto de corte, que é entre cinco e oito anos, um abraço. A planta não dá mais palmito e nem adianta germinar na sua sombra”.
– E o maior inimigo?, perguntamos:
– Quem mais prejudica o palmito é a lei. Como não pode derrubar e replantar, quem vê um pézinho nascendo na sua propriedade já trata de matar o mal pela raiz. Igual que fazem com os pinheiros, tascou.
Nosso cidadão conta que até seu cultivo de mandioca já está ameaçado pelas leis. “A gente planta por onde dá, no mei do mato mesmo. Mas se algum fiscal ver, vai me multar. Vai ter de fazer o cultivo organizado, como se fosse agribusiness”, disse, em inglês mesmo.
Produção industrial
Apesar da proibição da extração de palmito juçara, assim como o "manejo caiçara", são permitidos seu cultivo e colheita.
Quem opta pela palmeira juçara para uma produção industrial arca com todos os custos da espécie nobre e pouco produtiva. Uma muda já chega ao solo com um custo de cerca de R$ 1,20. Depois tem de esperar pelo menos cinco anos.
Com todos os percalços e burocracias, a atividade assegura a manutenção da espécie nativa na Mata Atlântica
Açaí ainda é um sonho
Uma das alternativas econômicas para a preservação da juçara está sendo desenvolvido em Antonina pela comidade de Cachoeiracom apoio do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná). Trata-se da colheita e beneficiamento do fruto, o açaí de juçara.
O fruto pode ser utilizado em bebidas energéticas, sucos, produtos nutracêuticos, cosméticos, entre outros.
A comunidade já possui equipamento para a produção e armazenamento mas eles fazem parte de um projeto-piloto. Ainda não tem dimensão para absorver a produção da região. Em Garuva (SC) também existe uma fábrica de polpa de suco de açaí, mas que só compra a produção de três meses de Guaratuba e região.
Juçara ou jussara?
O nome da palmeira nativa que dá palmito passou a ser escrito com “ç” na Reforma Ortográfica de 1970, que estabeleceu a norma para todas as palavras com origem indígena. A regra ainda é ignorada e o próprio Correio do litoral.com já escreveu errado, com “ss”. Juçara, em tupi-guarani significa "tronco de árvore"
Todos os palmitos
Uma palmeira juçara (Euterpe eudulis Martius) leva entre 5 e 8 anos para produzir uma polpa que rende cerca de 600 gramas, ou dois vidros de palmito (de 300 g cada), em tolete e mais um vidro de palmito picado. É a espécie de palmeira mais ameaçada.
Já a palmeira real australiana (Archontophoenix alexandrae e A. cunninghamiana), considerada uma alternativa para evitar a extinção da juçara, leva entre três e quatro anos para produzir, mas só rende cerca de 200 gramas de palmito e mais um vidro de palmito picado. Pode ser explorada livremente sem a necessidade de projetos e licenças, por não pertencer à flora brasileira.
A pupunha (Bactris gasipaes Kunt) ou pupunheira é a palmeira mais produtiva. mas o sabor de seu palmito é bem menos apreciado. Um pé demora de 1 ano e meio a dois anos para produzir e rende o mesmo que uma palmeira juçara. Sua maior vantagem é que rebrota na base por isto não precisa ser derrubado como a juçara.
Açaí
Também há diferenças entre os frutos da juçara e do açaizeiro, ou açaí, que tem duas espécies (Euterpe oleracea Martius e Euterpe precatoria Martius). A segunda também é muito valorizada pelo seu palmito. Ambas rebrotam da base como a pupunha. Podem ser podadas em intervalos entre 2 e 3 anos.
Seu fruto é um pouco menos doce que a da juçara mas não azeda com o tempo como este. por estas característica é mais apreciado.
Além do suco, o açai é utilizado no preparo de cremes, sorvetes, licores, geléias, bombons ou para fazer o tradicional vinho de açaí que é consumido no norte do Brasil.
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