Rio Grande do Sul: Retomada da horticultura pode levar até décadas em algumas culturas
O final de abril e o mês de maio foram de muita chuva e enchentes no Rio Grande do Sul. A situação trouxe inúmeros danos para diversos setores da economia gaúcha, logística, infraestrutura e na agricultura. Além de safras de grãos como soja, milho e arroz, culturas do setor de hortifrutis também foram afetadas em maior ou menor grau.
“Dentro das folhosas mais afetadas estão a alface e a rúcula, que tem de 35 a 40 dias de ciclo. Além das folhosas, temos couve-flor, brócolis e repolho que tem um ciclo um pouco mais longo. Entre as frutas, principalmente a citricultura que estava em fase de colheita como a bergamota (mexerica), laranjas e limão”, conta o Assistente Técnico Estadual da Área de Olericultura da Emater/Ascar-RS, Gervásio Paulus.
Neste momento, mais de 3 meses após o acontecido, algumas dessas atividades já retomaram a normalidade, seja de abastecimento ou de preços no mercado, especialmente na Ceasa de Porto Alegre, principal centro de abastecimento de hortifrutis do estado.
“A produção de folhosas e brássicas foi muito atingida na Região Metropolitana de Porto Alegre, Canoas, Viamão, Vale do Caí e essa produção é muito voltada ao abastecimento do estado. Muitos produtores tiveram perdas e outro não chegaram a perder com as enchentes, mas não conseguiram entregar seus produtos pelos problemas na logística”, relata o Engenheiro Agrônomo e Gerente Técnico da Ceasa/RS, Leo Omar Marques.
Citando alguns exemplos desses impactos nos preços registrados na entidade, Marques cita que a alface de R$ 18,00 a caixa chegou à R$ 50,00 no período, o brócolis com 12 unidades foi de R$ 36,00 para R$ 70,00, couve-flor à R$ 80,00 a caixa, mais do que o dobro do normal, a batata de R$ 4,80 passou para R$ 7,20, a cenoura foi de R$ 3,33 para R$ 7,22 e o tomate de R$ 3,00 para R$ 9,00.
Além da diminuição da oferta local, o que ajudou nessa elevação dos preços foi a necessidade de buscar produtos em outros estados para suprir a demanda gaúcha.
“Agora já estamos em um cenário de normalidade. A folhosas tem ciclo mais curto e se recuperaram mais facilmente. As brássicas demoram mais, mas também estão retornando à normalidade. Nesse período de inverno já seria normal termos menos oferta, especialmente de folhosas, mesmo sem nenhum problema de enchente, mas a situação acelerou esse movimento”, diz Marques.
Prova dessa retomada das atividades normais é que dos 35 produtos mais comercializados no Ceasa de Porto Alegre, 23 estavam com preços menores no final de julho do que o registrado na final de abril, antes das chuvas.
Já para as frutas, o dano foi maior e mais duradouro, podendo levar vários anos para a retomada das atividades em patamares considerados normais.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar de São Sebastião do Caí/RS, Vanessa Ludwing, destaca que a região deve acumular R$ 43 milhões de prejuízo nas áreas de olericultura, citricultura, flores, milho e pecuária. Com previsão de muito tempo para a retomada, especialmente na citricultura.
“Os citrus estavam bem na safra e entre 70 e 80% da produção deste ano foi perdida seja pela enchente ou pelo excesso de chuvas. Onde alagou vai demorar para fazermos análises do solo, alguns locais ainda nem estão 100% secos. Alguns pomares mais atingidos prejudicaram as árvores, então leva de 3 a 4 anos para retornar”, diz Ludwing.
“Houve muita queda de frutas e, mesmo depois que a água baixou, continuaram as perdas porque faltou oxigênio no solo. Os pomares foram totalmente inundados nos vales e vai levar tempo para recuperar a fertilidade do solo. Vai precisar de esforços de recomposição, fazer cobertura e investir para recuperar da erosão. Tem áreas comprometidas nos vales que mais do que a inundação, que a água sobe e baixa lentamente, houve enxurrada, com a água passando com força e velocidade arrastando o solo e sua camada cultivável”, ressalta Paulus.
A projeção de demora na retomada das atividades e necessidade de muitos investimentos em reconstrução de solo também são realidade para outra importante cultura gaúcha, a da noz pecan.
O Engenheiro Agrônomo do IBPecan, Jonas Janer Hamman, conta que com o alto volume de chuvas registrados por muitos dias de maio, muitos pomares sofreram lixiviação de nutrientes, que saíram das zonas onde a raiz consegue absorver esses nutrientes.
“A perda química dos pomares foi significativa. Houve também erosão com a abertura de valas no meio do solo. Para recompor é preciso colocar solo de outras áreas para recuperar esses buracos e isso não é simples, o solo não é adubado, não é corrigido”, conta Hamman.
Outro grande problema é que a chuva acidificou o solo. “Vai precisar aplicar calcário para ajustar o pH do solo novamente em torno de 6. Essa correção leva de 4 a 6 meses. Também será preciso reposição de fosforo e potássio na adubação e isso leva 2, 3, 4 anos, além do alto custo, o produtor não consegue todo o fertilizante em apenas 1 ciclo, são 1 ou 2 toneladas de fósforo, por exemplo, e isso é muito caro”, diz o engenheiro agrônomo.
“Já áreas que sofreram desbarrancamento, onde a chuva levou a terra e árvores junto, vão levar décadas para retomar a produção”, acrescenta Hamman.
Os danos foram grandes em muitas culturas, mas poderiam ter sido ainda maiores caso as chuvas e enchentes acontecessem em outra época do ano.
“As frutíferas demoram mais para retomar, os problemas levam mais uma safra para voltar. As frutíferas de clima temperado já estavam entrando em dormência após a colheita, como figo, uva, pêssego e maçã. Se a enchente tivesse sido em outubro ou novembro teria sido muito pior para esse setor. Já pegou em uma época menos crítica, o leque de culturas afetadas neste período seria muito maior”, afirma Leo Omar Marques.
Entre os dias 19 e 23 de agosto, sempre às 16h (horário de Brasília), o Notícias Agrícolas trará cinco reportagens especiais sobre a atual situação do agronegócio do Rio Grande do Sul e do produtor gaúcho. Acompanhe!
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Cácio Ribeiro de Paula Bela Vista de Goiás - GO
Perdas irreparáveis!! Tão iguais ou piores são as perdas emocionais (autoestima, por exemplo) dos irmãos do RS.
Nossa contínua solidariedade aos compatriotas!!