Revitalização da cajucultura: a próxima meta da fruticultura do Rio Grande do Norte
Uma atividade que gera cerca de R$ 1 bilhão anuais aos cofres do Rio Grande do Norte e movimenta a economia levando emprego e rendas às cidades do interior, a fruticultura é o principal ativo agrícola do estado. Atualmente baseada nos 4 Ms, melão, melancia, mamão e manga, o setor potiguar busca agora se reinventar e abrir novas frentes de culturas, ou reviver antigos cultivos.
É o caso da cajucultura, cultura originária do Norte-Nordeste brasileiro com primeira referência datada de 1.558 e que já chegou a ocupar 514.934 hectares em meados de 1986, de acordo com dados da Embrapa, mas perdeu espaço em decorrência das secas registradas entre 2012 e 2017 e do avanço de pragas e doenças (mosca branca, antracnose e oídio), que levaram redução de 60,7% nos hectares cultivados no Rio Grande do Norte.
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“Isso se deu pela estiagem longa que tivemos em 2017 com perdas significativas dos pomares desde Severiano Melo e também em Serra do Mel, aquela seca devastou e muito os cajueiros, que como estavam já com 40 anos, muitos não resistiram. Além disso, a produtividade deles já estava baixa”, conta o Diretor Técnico do Sebrae RN, João Hélio Cavalcanti.
Pensando em reviver essa cultura tão característica e importante na região, diversas entidades governamentais, associações e empresas estão unindo esforços para trazer a cajucultura de volta aos tempos de ouro no Rio Grande do Norte.
“Nós fizemos uma parceria com a Embrapa, Governo do Estado e outros parceiros e estamos implementando um programa de substituição desses cajueiros por clones desenvolvidos pela Embrapa que tem o cajueiro anão. O que está acontecendo com a cajucultura hoje é que as áreas de produção estão diminuindo, porém esse melhoramento genético e outras tecnologias estão fazendo com que a produtividade aumente, mesmo que ainda baixa. Nós temos produtividade de 350 a 400 quilos por hectare e queremos dobrar essa produtividade, visto que já existem produtividades muito mais elevadas em outros países, na África por exemplo”, relata Cavalcanti.
Chefe Geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Gustavo Saavedra, explica com mais detalhes qual é o papel da Embrapa nessa revitalização da cultura do caju, utilizando a tecnologia genética para clonar matrizes que aceleram a multiplicação das mudas e garantem plantas com genética melhor, resultando em mais produtividade.
“Você copia a genética da planta mãe de uma maneira muito fácil. Uma planta, durante a época de enxertia, consegue produzir 300 ou 400 cópias. A gente vem desenvolvendo genéticas superiores, de mais produtividade, de mais resistência à algumas doenças e, uma vez que a gente consegue estabelecer qual é o genótipo que realmente vale a pena se tornar uma cultivar, a gente precisa produzir essa cultivar em longa escala e aí entra a estratégia de clonagem. Quando você planta um pomar, todo o pomar vai ter a mesma genética e essa uniformidade genética no pomar te dá uma uniformidade produtiva também. Então você sabe como manejar, porque aqueles cajueiros todos respondem da mesma forma e com isso, você tem uma capacidade de transformar uma planta nativa em uma estratégia industrial de produção a campo”, pontua Saavedra.
Os governos municipais e estadual também estão atuando neste sentido, como destaca o Prefeito de Mossoró/RN, Alysson Bezerra (SOLIDARIEDADE). “Nós estamos investindo com o Sebrae mais de R$ 1,6 milhão na capacitação e assistência técnica ao homem do campo. Objetivamente, isso faz com que a cajucultura, que tinha desaparecido do nosso munícipio pela mosca branca, volte. Já entregamos mais de 250 hectares, mais de 40 mil mudas de caju, e vamos ampliar para mais de 300 hectares plantados diretamente com esse importante fruto. Além de assistência técnica chegando para esses pequenos agricultores pelas cooperativas que estão trabalhando com a fruta”.
DEMANDA INTERNA JÁ EXISTE
Para sustentar esses investimentos na cultura, as autoridades se baseiam em uma demanda já existe para o setor, especialmente olhando para a utilização da castanha de caju. Dados da Agrostat e do IBGE aponta que, entre 2012 e 2019, o Brasil importou quase 183 mil toneladas de castanha de caju, especialmente de países africanos.
“Nós temos hoje castanha para atender, principalmente as três principais empresas processadoras, mas essas empresas estão importando castanha da África. Estamos trabalhando para que toda produção do Brasil possa anteder a demanda das empresas brasileiras. Estamos trabalhando a industrialização da castanha e do próprio caju, visto que, hoje o que se percebe com relação à cajucultura é que a castanha, ou até a própria carne do caju, é uma comoditie” afirma o Diretor o Sebrae.
Ele ainda complementa contando os planos para ampliar ainda mais essa demanda interna do caju. “Pouco se usa o caju na merenda escolar, mas é possível seja carne, seja hamburguer, seja no desenvolvimento de outros produtos do fruto em si que se perde muito. O que tem valor é a castanha, mas na verdade o potencial da carne de caju é muito maior, pelo que nós temos observado, do que da própria castanha. Então é possível agregar valor e aumentar a renda desses produtores, mas para isso nós precisamos aumentar agregando valor ao produto, ou seja, a agroindústria é a saída para o caju aqui no estado. Estamos aproveitando alguns estudos de transformar o caju em outros produtos. O Rio Grande do Norte investiu na agroindústria que processa a castanha e o caju e o momento agora é de encarar essas oportunidades e avançar agregando valor”, diz Cavalcanti.
A NOVA CARA DA CAJUCULTURA
Neste caminho de industrialização e melhor aproveitamento de todas as partes do caju, novos empreendimentos estão surgindo no estado, com foco voltado a produtos derivados do caju, como pastas, geleias, doces, salgados e méis.
Francisco Canindé Maia da Silva trabalha com o caju há mais de 30 anos e agora aproveita esse novo cenário para investir em derivados como o mel de caju e a própria castanha.
“O cajueiro hoje é uma cultura em ascensão, mas que precisa de um olhar para o produtor, que já faz a parte dele e de forma sofrida, principalmente os pequenos. O mercado do caju atualmente está em baixa em termos de preço, mas em termos de produção está bem. A aposta para isso são os derivados, entre salgados e doces você encontra uma imensidão de derivações”, comenta.
Outro caso de empreendedorismo derivado do caju é o do casal Adrienne Maria de Lima e Milton Cortez da Silva, que começaram no ramo há 4 anos produzindo doces à base da fruta.
“O caju é uma fruta abundante na região, mas que não é muito explorada. Então produzimos esse doce de caju sem açúcar e sem conservantes. As pessoas de hoje querem uma vida mais saudável, se preocupam mais com a saúde e querem produtos mais saudáveis”, diz de Lima.
Outra oportunidade que surge é a exportação, não da castanha, como já acontece, mas da própria fruta, com mira nos restaurantes de alta gastronomia que podem utilizar o ingrediente cada vez mais apreciado. “O caju, embora a gente saiba que a fruta in natura é extremamente perecível, mesmo no transporte aéreo, mas é uma fruta hoje de alta gastronomia. Não estou nem falando da castanha, estou falando da polpa. Ela é usada em alta gastronomia, então nós temos muitas oportunidades”, aponta Jorge de Souza, Gerente Técnico de Projetos da Abrafrutas.
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