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Recebimento de cacau recua 13% no primeiro semestre de 2023

Publicado em 19/07/2023 11:21 e atualizado em 19/07/2023 14:51
Já a moagem, frente aos primeiros seis meses de 2022, cresceu 19,19%, passando de 106.086 toneladas para 126.442 toneladas.

O ano de 2023 fechou o primeiro semestre com um volume recebido de amêndoas nacionais de 93.121 toneladas, um recuo de 13,11% frente às 107.179 toneladas dos primeiros meses de 2022, isso de acordo com os dados compilados pelo SindiDados – Campos Consultores e divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). “Diferente do que aconteceu em 2022, quando as entradas de cacau foram expressivas no fim da safra principal e início da safra temporã, este ano tem apresentado números menores. Essa redução ocorreu principalmente em razão de uma alta incidência de pragas na região cacaueira, especialmente na Bahia”, explica a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi.

Se compararmos o volume de recebimento do segundo trimestre de 2023 com o volume de recebimento do primeiro trimestre de 2023, tivemos um acréscimo de 144%, passando de 27.046 para 66.075. Esse aumento era esperado, já que a safra temporã tem início em maio, período de maior entrada de cacau no Brasil.

Entre janeiro e junho de 2023, a moagem de amêndoas foi de 126.442 toneladas, um crescimento de aproximadamente 19,19% em relação às 106.083 toneladas do mesmo período do ano anterior. “O aumento se deu em relação a dois fenômenos, o primeiro relacionado ao crescimento do mercado nos últimos anos, mas também em razão do aumento do número de empresas que informam os dados de recebimento e moagem para o SindiDados. Até 2022 eram cinco empresas, e agora em 2023 são seis”, pondera Anna Paula.

A moagem entre o segundo trimestre de 2023 e o primeiro trimestre de 2023 ficou praticamente estável, com uma pequena queda de 2%. Como no primeiro trimestre ainda temos o atendimento de demandas de Páscoa, é normal essa redução no trimestre seguinte. Anna Paula explica que os números de 2023, no entanto, demonstram um crescimento consistente, tanto na comparação semestral, entre este ano e o anterior, como na comparação entre os segundos trimestres dos dois últimos anos: em 2022, a indústria processou 50.644 e em 2023 o crescimento foi de 23%, passando para 62.426 mil toneladas de amêndoas de cacau.

Em termos de importação de amêndoas, o acumulado dos primeiros seis meses do ano foi de 43.181 toneladas, ante 10.010 toneladas importadas no mesmo período de 2022. Anna Paula afirma que “o volume importado em 2022 foi o menor dos últimos cinco anos, e em razão disso, aliado à perspectiva de redução no nível de recebimento de amêndoas de cacau originárias do Brasil nos primeiros meses deste ano, já sabia-se que o volume de importação seria maior. No entanto, conforme a safra brasileira for crescendo, os volumes de importação ficarão cada vez menores e acreditamos que, em até cinco anos, serão volumes ainda mais insignificantes.”.

As exportações de derivados, que atendem principalmente os mercados da Argentina, Chile e Estados Unidos, recuaram 33,75% no primeiro trimestre de 2023, passando de 24.987 mil toneladas, em 2022, para 16.552 toneladas neste ano. Segundo Anna Paula Losi, “O mercado da Argentina, nosso principal destino dos derivados, tem passado por momentos desafiadores, o que tem atrasado as exportações e, em alguns casos, até mesmo reduzido o volume comprado. Essa não é uma situação que afeta somente a indústria moageira, e o governo brasileiro tem realizado esforços para que o comércio com a Argentina volte à normalidade”.

Recebimento por estado

A Bahia, no primeiro semestre de 2023, foi responsável por 55% do volume total de amêndoas nacionais recebidas pela indústria moageira, totalizando 51.120 toneladas. Em comparação com o mesmo período de 2022, quando o volume foi 64.196 toneladas (68% do total), houve um recuo de aproximadamente 20%. O Pará foi responsável por 41% do volume total recebido, no total de 38.485 toneladas, praticamente o mesmo volume de 2022 (38.474t). Espírito Santo, com 2.349 toneladas, e Rondônia, com 1.072 toneladas, foram responsáveis por 4% do volume total recebido neste primeiro semestre. Comparando os números desses dois estados, nota-se uma redução de praticamente 22%, ante os números de 2022 (2023 – total de 3.421t e 2022 – total de 4.377t).

Análise do mercado internacional

De acordo com o analista da StoneX, Caio Santos, nos últimos meses as cotações dos contratos futuros de cacau têm operado em níveis historicamente elevados, atingindo o maior patamar em cerca de 7 anos nas bolsas de Nova Iorque (ice/US) e de Londres (ICE/Europe). "Em junho deste ano, o segundo contrato com vencimento mais próximo na bolsa de Nova Iorque atingiu USD 3.262/ton, a maior cotação desde dezembro de 2015", ressalta.

Um dos principais fatores que contribuem para dar sustentação aos preços do cacau é a revisão da projeção da Organização Internacional de Cacau (ICCO), que reduziu sua estimativa para a produção cacaueira para o ano- safra atual (2022/23) em 37 mil toneladas para 4,980 milhões de toneladas. Já para a demanda de amêndoas, a organização aumentou a sua previsão em 45 mil toneladas, para uma moagem de 5,07 milhões de toneladas ao fim da safra que se encerra em setembro. "Esse cenário indica um balanço de oferta e demanda mais apertado", indica o analista.

Outro fator de atenção é a ocorrência de El Niño, fenômeno responsável por causar diversas mudanças climáticas ao redor do globo e que tende a prejudicar a produção cacaueira por deixar o clima mais seco no Oeste Africano, região responsável por mais de 70% da produção mundial de cacau. Segundo projeções da Administração Nacional de Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), nos próximos meses há uma forte chance de ocorrer um El Niño de intensidade moderada, o que pode prejudicar a produção dos frutos na Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões. “Para a produção brasileira é reportada uma safra menos robusta neste ano, de maneira que a ocorrência de El Niño nos próximos meses, que tende a tornar o clima mais seco no sul da Bahia, continue impactando negativamente a produção cacaueira no Brasil”, conclui Santos. 

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Fonte:
AIPC

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