Embrapa: Fungo foi eficiente contra dois males da bananeira
O fungo Beauveria caledonica tem ação simultânea contra a fusariose da bananeira – o mal do Panamá e suas linhagens têm potencial para o manejo da "broca" ou “moleque-da-bananeira” (Cosmopolites sordidus), dois dos principais problemas fitossanitários da cultura. Ainda pouco estudado no Brasil e no mundo, foi recentemente isolado por cientistas da Embrapa, Unicamp e da Bioversity International, Colômbia, para controle de pragas, em especial besouros. O analista da Embrapa Meio Ambiente Gabriel Mascarin destaca que este é o primeiro estudo que demonstra essa capacidade do fungo, encontrado na região de produção comercial de banana em Registro, SP.
"Na nossa pesquisa, isolamos adultos da broca-da-bananeira coletados em campo e depois fizemos uma formulação em óleo emulsionável para aumentar sua eficácia, acelerando o processo de infecção e controle da praga", explica Mascarin. "Além disso, comparativamente, isolados de B. caledonica se mostraram mais eficientes no controle de adultos da broca, o que enfatiza seu potencial para biocontrole desse inseto”. Ainda descobrimos que este fungo produz um composto secundário chamado oosporina, que teve ação antagônica sobre o fusarium. Esse efeito é inédito", explica Mascarin.
A oosporina foi detectada e quantificada pela equipe liderada pela professora Ljubica Tasic do Instituto de Química da Unicamp. “Em ensaio in vitro contra o fusarium, verificamos que os filtrados extraídos do caldo fermentado de B. caledonica contendo o composto oosporina, exibiram atividade antifúngica, resultando em forte inibição da germinação do fitopatógeno”, complementa Mascarin. "Este resultado expande nosso conhecimento sobre o espectro de atividade biológica de B. caledonica. Também fornece novos insights sobre o seu estilo de vida, ressaltado por seu notável papel antifúngico contra esse patógeno destrutivo da bananeira", diz o analista.
Principais doenças da banana
A broca e a fusariose estão entre as mais importantes pragas e doenças da bananeira, respectivamente. O inseto provoca um efeito direto no rizoma, enfraquecendo o sistema radicular da planta, reduzindo a absorção de nutrientes e causando perdas significativas de produtividade. Os adultos também podem ter um papel na disseminação e exacerbação de infecções por patógenos de plantas do solo.
A fusariose da bananeira também causa graves perdas de rendimento na banana e o patógeno se espalha rapidamente por vários meios. É necessária uma combinação de práticas de manejo em plantios comerciais para mitigar o aumento das populações de brocas e a incidência do fungo. Entretanto, o controle desses organismos ainda se apresenta como um grande desafio aos produtores e é muito importante a busca por alternativas de controle biológico para complementar o manejo em campo.
O solo é um importante reservatório de fungos entomopatogênicos, sendo um local no qual os patógenos de insetos podem infectar seus hospedeiros e se multiplicar, persistir e crescer. Por isso, compreender a interação entre C. sordidus, causador do moleque da bananeira e fungos entomopatogênicos, além de entender como ambos podem estar relacionados a outros microrganismos no solo, é crucial para o desenvolvimento de biopesticidas à base de fungos.
Foi demonstrado que certos bananais comerciais, infestados pela broca da bananeira, podem abrigar uma comunidade muito especializada de espécies de fungos entomopatogênicos. É interessante notar que todas as três cepas de B. caledonica isoladas naturalmente de C. sordidus foram capazes de produzir e secretar o pigmento vermelho conhecido como oosporina tanto em meio à base de ágar quanto em meio líquido, embora nenhum sinal desse pigmento tenha sido observado para as outras cepas de Beauveria bassiana – fungo que tem amplo espectro de ação sobre insetos-praga, incluindo diversas espécies de importância agrícola. Esse metabólito secundário pode estar associado à maior virulência do fungo à broca-da-bananeira, embora isso deva ser mais bem investigado.
"Para acelerar a taxa e aumentar o nível de mortalidade da broca da bananeira pelo nosso melhor isolado de B. caledonica, fizemos uma formulação de conídios desse fungo com um óleo vegetal emulsionável, totalmente biodegradável, mostrando que o óleo provavelmente desempenha um papel importante na adesão do fungo ao corpo do inseto e facilita a sua infecção", esclarece a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Jeanne Prado.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Rogerio Biaggioni Lopes, o desenvolvimento de biopesticidas com linhagens mais virulentas ao inseto-alvo, seja por seleção em laboratório, formulação, novas estratégias de aplicação ou manipulação genética, podem tornar este microrganismo mais competitivo para uso em programas de manejo da broca-da-bananeira, contribuindo assim para sistemas de cultivo mais equilibrados. “Até onde sabemos", diz Mascarin, "não há produtos comerciais com este microrganismo. Saímos na frente aqui no Brasil e temos muito chão ainda para percorrer em busca de um produto biológico eficaz no controle simultâneo da praga e da doença na bananeira”.
O trabalho de Gabriel Mascarin, Jeanne Prado e Márcia Assalin, da Embrapa Meio Ambiente, Lucas Gelin Martins, Erik Sobrinho Braga e Ljubica Tasic, da Unicamp, Miguel Dita, da Bioversity International, Cali, Colômbia e Rogerio Lopes, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, foi publicado na Pest Management Science, pode ser acessado aqui. Foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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