Rússia proíbe exportação de cereais e cria expectativa de alta de preços
A proibição das exportações de cereais russos, ordenada pelo primeiro-ministro Vladimir Putin, entrou em vigor neste domingo (15/8), com o governo lutando para manter os preços internos dos alimentos básicos em meio a uma seca recorde no país.
De acordo com um decreto governamental assinado por Putin em 5 de agosto, a proibição se estenderá até 31 de dezembro, embora o primeiro-ministro tenha afirmado que a proibição poderá até mesmo ir além dessa data, se a safra for ruim. O decreto proíbe a exportação de trigo, cevada, centeio, milho e farinha de trigo e centeio.
Rússia, que se firmou como terceiro maior exportador mundial de trigo no ano passado, já havia alertado que sua safra de grãos deste ano será apenas de 60 milhões a 65 milhões de toneladas, baixa, se comparada com as 97 milhões de toneladas de 2009.
Naquele ano, o país exportou 21,4 milhões de toneladas de cereais. Os principais compradores de cereais russos são Egito, Turquia, Paquistão, Azerbaijão, Síria, Jordânia, Irã, Líbia, Bangladesh e Iêmen.
Anúncio da medida fez subir preço do trigo
A proibição de exportação por um integrante tão importante do mercado global como a Rússia assustou o mercado mundial de trigo, causando um aumento do preço do cereal, que subiu ao mais alto patamar nos últimos dois anos, e provocou preocupações de uma crise no abastecimento mundial de alimentos.
A falta e o aumento dos preços dos cereais deverá ter um efeito multiplicador em várias indústrias europeias. Na pecuária, grãos mais caros poderão provocar um aumento no preço da ração animal.
Apesar de os maiores grupos da indústria alimentícia europeia, como Nestlé, Unilever e Danone, terem demonstrado pouca preocupação com aumento dos preços dos grãos, empresas menores são suscetíveis de sofrer com a medida de Moscou.
Grupos que são grandes usuários do trigo, como a fornecedora de suprimentos para panificação e confeitaria holandesa CSM ou a britânica Premier Foods, já sugeriram que podem ser obrigados a aumentar seus preços.
A medida foi motivo de reclamações também dentro da Rússia, com alguns críticos afirmando que o país vai levar anos para recuperar sua posição no mercado internacional e que a medida pode fazer com que os produtores domésticos sejam obrigados a abandonar o setor.
Efeitos vão ser sentidos até 2011
As condições climáticas têm sido devastadoras para milhares de agricultores em toda a Rússia. Segundo analistas, eles podem precisar de anos para se recuperar da crise.
"Mesmo que o clima retorne à normalidade rapidamente, as repercussões certamente serão sentidas até 2011, pois a onda de calor e a seca tornou a semeadura de inverno problemática ou mesmo impossível", disse um representante do banco de investimento russo Renaissance Capital, segundo a agência de notícias AFP.
O veto à exportação visa manter o mercado doméstico russo bem suprido de grãos, para evitar aumentos acentuados nos preços. Os líderes russos, preocupados com possíveis distúrbios sociais, tentam evitar o clima de descontentamento provocado por possíveis aumentos dos preços dos alimentos.
"Não podemos permitir o aumento dos preços internos e temos que preservar o número de cabeças de nosso gado e criar reservas para o próximo ano", disse Putin, ao anunciar a proibição.
Mercado interno requer 78 milhões de toneladas
No ano passado, a Rússia exportou 21,4 milhões de toneladas de grãos e iniciou uma nova campanha para aumentar sua parcela de participação no mercado internacional, uma ambição que hoje terá que ser deixada de lado por algum tempo.
O mercado doméstico russo precisa de 78 milhões de toneladas de grãos, e o país pode cobrir um déficit de 9,5 milhões de toneladas através de um fundo estatal e 21 milhões de toneladas que sobraram da safra do ano passado, de acordo com Moscou.
Medvedev reconheceu na semana passada que participantes do mercado e consumidores estavam preocupados com a influência "deste verão extraordinariamente severo nos preços dos alimentos básicos". Ele garantiu que as autoridades não vão permitir que os preços dos cereais subam e que ficarão atentas aos custos dos produtos alimentares, tais como farinha, pão, carne e laticínios.
Fumaça volta a ofuscar Moscou
A capital russa voltou neste domingo a acordar sob um espesso manto de fumaça, provocado pelos incêndios florestais. Embora não seja tão densa como na semana passada, a fumaça e o cheiro de queimado obrigaram os cidadãos de Moscou a usarem novamente máscaras para sair de casa. No centro de Moscou, a visibilidade é inferior a mil metros e os prognósticos apontam para um agravamento da situação.
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