Rússia e Ucrânia assinam acordo criando corredor para exportação de grãos; trigo despenca na CBOT
O acordo para garantir o escoamento dos grãos da Ucrânia por um corredor de exportação na região do Mar Negro foi, finalmente, assinado pela Rússia e a Ucrânia nesta sexta-feira (22). Na mediação, seguiram a Turquia e a ONU (Organização das Nações Unidas) e a duração, a princípio, da medida é de 120 dias.
De acordo com informações da agência internacional de notícias Bloomberg, os portos de Odessa, Chernomorsk e Pivdennyi estão cobertos pelo pacto, que garante ainda que a Ucrânia seja a responsável pela escolta das embarcações para fora das áreas onde estão localizadas suas minas aquáticas.
Também como vinha sendo pleiteado pelo governo russo, os navios serão inspecionados antes de deixarem a área em um terminal localizado em território da Turquia. A expectativa é de que o acordo permita exportações de 22 milhões de toneladas de grãos ucranianos e outros produtos agrícolas que já estão represados nos portos do Mar Negro desde o início do conflito. No dia 24, a guerra completa cinco meses.
Ainda de acordo com agências internacionais, a Rússia e a Ucrânia assinaram acordos separados com o ONU, sendo Sergei Shoigu, ministro da defesa russo, e Oleksandr Kubrakov, ministro da infraestrutura ucraniano, os representantes de seus países.
A cerimônia em Istambul foi testemunhada pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Um centro de controle será estabelecido na mesma cidade, composto por funcionários da ONU, turcos, russos e ucranianos, para administrar e coordenar o processo.
Na foto, o Secretário-geral da ONU, António Guterres, ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, e ministro da Defesa da Turquia, Hulusi Akar, durante cerimônia de assinatura de acordo para exportação de grãos ucranianos em Istambul.
"Hoje, há um farol no Mar Negro. Um farol de esperança, um farol de possibilidade, um farol de alívio em um mundo que precisa mais do que nunca. Vocês superaram obstáculos e deixaram de lado as diferenças para abrir caminho para uma iniciativa que servirá aos interesses comuns de todos", afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
O líder destacou ainda a importância do acordo para o andamento dos preços, que testaram patamares recordes nos últimos meses e que comprometeram agressivamente as economias mais frágeis e vulneráveis, dependente das importações.
"Isso ajudará a estabilizar os preços globais dos alimentos que já estavam em níveis recordes antes mesmo da guerra - um verdadeiro pesadelo para os países em desenvolvimento", disse.
IMPACTO SOBRE OS PREÇOS
O impacto direto do acordo se deu sobre o mercado do trigo, que somente na Bolsa de Chicago perdem mais de 3% no pregão desta sexta-feira (22). O vencimento mais negociado agora já tinha US$ 7,78 por bushel. O Notícias Agrícolas ouviu dois analistas sobre o peso do acordo sobre o mercado do cereal - um dos mais afetados pelo conflito - e seus questionamentos foram bastante semelhantes.
Ritta De Baco, De Baco Corretora
"São 120 dias de acordo. Quanto tempo se leva para a remoção das minas? As empresas de seguro marítimo assinaram junto das autoridades esse acorodo? Há esse trigo todo para ser escoado? Qual a esquadra que dará apoio contra a marinha russa? A Rússia permitirá que a Ucrânia fature no momento em que tenta aniquilá-la?", questiona a analista de mercado e diretora da De Baco Corretora, Ritta De Baco.
Sendo assim, além do impacto sobre as cotações do trigo poder ser pontual e frágil, deve ainda manter o mercado completamente volátil, como já se mostra há meses.
Élcio Bento, Safras & Mercado
"Eu acredito que o mercado está tendo este tombo hoje, mas é muito mais psicológico. Se formos ver o que tem de trigo disponível da safra velha da Ucrânia é algo entre 3 e 4 milhões. E a safra deste ano vai despencar, com uma queda de mais 10 milhões de toneladas. Então, (o acordo) não recupera o saldo exportável da Ucrânia que está estimado em menos de 10 milhões de toneladas. Então, dá esse susto porque é um adicional de trigo que entra no mercado em pleno momento de entrada de safra", explica Élcio Bento, analista de mercado da Safras & Mercado.
Ainda segundo ele, o peso dos fundamentos sobre os preços do trigo agora é intenso, porém, detalha também que caso haja realmente a efetivação dos embarques de trigo ucraniano a partir do acordo, não serão volumes muito maiores do que os que normalmente chegariam neste momento em tempos "normais".
"É menos trigo do que normalmente estaria entrando da Ucrânia se houvesse uma safra cheia. Claro que é mais trigo no mercado e isso pesa, e também tira um pouco o risco da guerra. O mercado está mais apertado neste ano em termos de oferta global, mas estamos no pico da entrada de safra. Então, acho que esse acordo é um adicional à tendência de queda. Mas, também não vejo o mercado engatando uma tendência para voltar aos preços no início da safra passada, em torno de US$ 6,50 (por bushel em Chicago). Acho que o mercado despenca, depois logo lateraliza de volta, e já temos visto essa lateralização dos preços nos últimos dias", afirma Bento.
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