Brasil avalia lançar contrato de opção para estimular milho em vez de soja no verão
Com a disparada dos preços do milho, o Ministério da Agricultura avalia lançar um programa de opções públicas de venda para a temporada 2021/22, como uma das medidas para estimular o produtor a semear o cereal na próxima safra de verão, em detrimento da soja, em alguns Estados do centro-sul do Brasil.
Em entrevista à Reuters, o diretor de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Silvio Farnese, afirmou que o objetivo é regularizar a oferta de milho nos meses subsquentes à colheita de verão, que tem resultado em maior produção de soja nos últimos anos, uma vez que o agricultor deixa para plantar a maior parte do cereal na segunda safra.
Ainda que reconheça que os preços do milho no Brasil atualmente sejam balizados pelas cotações da bolsa de Chicago, ele avalia que o programa poderia pelo menos garantir um aumento na oferta entre maio e junho, uma vez que o cereal só tem chegado ao mercado em maior volume nos últimos anos em julho, com a colheita da segunda safra, a maior do país.
"O milho mais caro é o milho que não existe, é o que não acha para comprar, o objetivo é incentivar o milho na safra de verão, que historicamente vem reduzindo, porque o produtor planta soja no verão e milho no inverno", comentou ele.
O plano prevê incentivar agricultores a plantarem mais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná --os três Estados do Sul são os principais fornecedores de carnes suína e de frango, que utilizam o cereal na ração--, além de São Paulo e Minas Gerais.
O diretor não entrou em detalhes sobre o tamanho do incentivo, que ainda está sendo definido. Ele também não detalhou o eventual impacto para a soja --Paraná e Rio Grande do Sul estão entre os três maiores do país na oleaginosa, atrás de Mato Grosso.
O ministério trabalha ainda em medida emergencial que permita o lançamento de contratos de opções de milho mesmo com mercado bem acima do preço mínimo estabelecido pelo governo. No passado, o governo costumava fazer opções para impulsionar os preços.
"Esse é o problema porque essa política é baseada no preço mínimo, vamos ter que criar uma política alternativa e emergencial para fazer fora do preço mínimo", comentou ele.
A ideia é lançar contratos com exercício em fevereiro e março, garantindo que o produtor tenha uma rentabilidade com o milho tão boa quanto ele teria para a soja.
Se o preço no vencimento da opção estiver abaixo do valor estabelecido --ainda não foi definido um valor--, o produtor exerceria o direito de vender ao governo. Se estiver acima, o detentor da opção venderia ao mercado.
Farnese ressaltou ainda que o governo não tem interesse em ficar com o milho. Assim, no caso de o produtor vir a exercer o direito de "vender", em vez de receber o produto, o governo pagaria a diferença entre o preço do mercado e aquele valor que o agricultor teria direito de receber de posse da opção.
E o produtor ficaria liberado para vender no mercado. "Como não queremos comprar, temos de fazer uma subvenção de preço e devolver ao mercado. Ou seja, o governo subsidia um preço futuro sem precisar formar estoques", disse o diretor.
Farnese comentou ainda que não há perspectiva de faltar milho. Mas frisou que "vai faltar milho barato".
"Milho caro tem", comentou ele, ainda que o país esteja vivenciando uma quebra da segunda safra com o impacto da seca, que colaborou para sustentar ainda mais os preços internos, em patamares recordes acima de 100 reais a saca, na esteira de máxima de oito anos das cotações em Chicago no início do mês.
O governo está sob pressão da indústria de carnes, que lida com custos crescentes diante da disparada dos insumos da ração e ameaça maior repasse aos consumidores.
Questionado sobre uma sugestão da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para a criação de um programa de subvenção ao prêmio de contratos de opção de venda da B3, Farnese disse que a ideia é boa, mas "não tem estruturação legal", tendo já sido discutida no passado.
No programa da CNA, a dotação orçamentária sugerida era de 350 milhões de reais.
PROGRAMA DEPENDE DE ORÇAMENTO
Além das questões técnicas para o programa de opções, cuja expectativa é constar no próximo Plano Safra (2021/22), o ministério espera que o Congresso vote o Projeto de Lei Orçamentária (PLN nº 4/2021), para haver uma recomposição dos valores suspensos após aprovação de uma Lei Orçamentária Anual (LOA) com cancelamentos de recursos para a agricultura.
Segundo Farnese, há perspectiva de votação do PLN nº 4 na próxima terça-feira, o que seria importante, aliás, para que o Ministério da Agricultura pudesse encaminhar o Plano Safra propriamente dito.
"A expectativa no fim do ano passado era que fosse um ano melhor, mas a participação do governo na sustentação dessa crise toda (da pandemia), aí criou todo imbróglio", explicou, ao comentar o atraso na definição do plano, que não tem definição a pouco mais de um mês do início da nova safra, em julho.
Além dos contratos de opção, que poderiam ter um impacto mais significativo na oferta, o ministério espera a recomposição do Orçamento para ampliar subvenções ao seguro e já aumentou limites para financiamento ao produtor de milho.
Para tentar esfriar os preços, o governo também zerou imposto de importação de milho e soja de produtos de fora do Mercosul, enquanto o ministério tem conversado com a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para resolver problemas de equivalência de transgênicos, especialmente com os EUA, país com maior chance de exportar aos brasileiros.
2 comentários
Ibrafe: Produtores do Paraná estão ocupados tentando colher Feijões em meio às chuvas
Conab: Equipe técnica realiza pesquisa para atualizar o levantamento da Safra de Grãos 2024/2025
Boa produção e reabertura de exportações asiáticas tendem a favorecer oferta de arroz no mercado mundial
Ibrafe: Mercado do feijão está especulado
Novos leilões de contrato de opção de venda de arroz são marcados para próximo dia 20
China promoverá modernização das fazendas para sustentar produção de grãos
CESAR AUGUSTO SCHMITT Maringá - PR
Ainda que mal pergunte: No sul, poucos produtores tem estocagem própria. O armazenamento fica por conta das cooperativas e das tradings. Já perguntaram para eles se vão deixar de receber soja para receber milho? Essa ideia de jegue, precisaria, antes criar uma infra-estrutura de armazenagem do próprio governo federal, que não tem capacidade de armazenagem nem para alimentar periquitos...
Com relação à queda de contaminação por covid, infelizmente a minha cidade, Gameleira de Goiás parece que já iniciou a temida terceira onda, cidade de 3 mil habitantes em uma semana 3 mortes e muitos internados, fora o número de contaminados. Só por Deus mesmo...
Com relação a Covid, aqui em Cascavel parece que quanto mais se vacina, mais aumenta os contaminados e com isso mais mortes. Deve ser a bendita vacina que não imuniza quem toma e que continua transmitindo. Por isso que tomando essa vacina não pode parar de usar mascaras, não frequentar clubes e nem lugares com aglomeração, principalmente escolas. A exceção é para transportes públicos, incluindo avião, filas em bancos e lotericas.
Rafael Antonio Tauffer Passo Fundo - RS
O milho chegou a bater 92 reais a saca no balcão aqui em Passo Fundo, RS. Tentei travar no futuro (termo) e o contrato não chegava nem a 80 reais.