Emater: Controle biológico é usado em Minas Gerais no combate à principal praga das lavouras de milho e sorgo
Uma pequena vespa tem sido uma alternativa em Abaeté, região Central de Minas Gerais, para o combate à lagarta do cartucho, uma praga que ataca as folhas das plantações de milho e sorgo, causando prejuízo aos produtores. Há cerca de dois anos, este controle biológico começou a fazer parte de um trabalho envolvendo a Emater-MG, Embrapa, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Sicoob Credioeste.
A ideia é divulgar para os produtores do município este tipo de manejo, que elimina a necessidade de aplicação de defensivos, reduz os custos de produção, sem perda de produtividade da lavoura, e promove a sustentabilidade ambiental. A atividade predominante do meio rural de Abaeté é a pecuária leiteira e as lavouras de milho e sorgo são fundamentais para produzir alimento para o gado, como a silagem.
O técnico da Emater-MG, Fernando César Couto, explica que este controle foi desenvolvido pela Embrapa. Ele consiste em povoar uma lavoura com a vespinha Trichogramma, que é uma predadora natural dos ovos da lagarta do cartucho. “O controle biológico teve início no município na safra 2019/2020. Ele proporciona a manutenção da biodiversidade e contribui na multiplicação dos inimigos naturais da praga a um nível em que não se fez mais necessário o controle químico da lagarta do cartucho”, afirma.
Monitoramento
Fernando Couto explica ainda que a primeira etapa para o controle biológico funcionar é o monitoramento. Assim que o plantio de milho ou sorgo é feito, é necessário instalar armadilhas com feromônio sintético pela área. Estas armadilhas vão monitorar a incidência da mariposa da lagarta do cartucho no local.
“A partir do momento que se encontram três mariposas na armadilha, é sinal que a praga está na área. Então já é preciso entrar com o controle biológico. As vespinhas parasitam os ovos da mariposa da lagarta do cartucho antes da eclosão. Então, a soltura delas é para impedir o nascimento da lagarta. Por isso é fundamental saber o momento certo de fazer o controle”, explica o técnico da Emater.
A soltura da vespinha é feita espalhando os ovos do inseto pela área plantada. Eles são produzidos em biofábricas. O produtor recebe uma cartela de material biodegradável, com centenas de ovos da vespinha. Os pedaços da cartela são distribuídos pelo solo, de acordo com a recomendação dos técnicos. Ao nascerem, as vespinhas procuram pelos ovos da lagarta do cartucho
“O controle biológico, usando um inseto para combater outro inseto, é uma alternativa muito apropriada para o produtor. A grande vantagem da vespinha é que ela é muito específica, rapidamente encontra o ovo da praga, e não prejudica os outros insetos do ambiente. Isso é importante, pois não estamos colocando nada de anormal na natureza”, explica o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Ivan Cruz.
Unidade Demonstrativa
Na fazenda São Simão de Baixo, foi implantada uma unidade demonstrativa para que outros produtores da região pudessem conhecer o sistema. A produtora Conceição Aparecida Gomes cedeu uma área de 2,7 hectares para fazer a experiência na safra 2019/2020.
No local, foi plantado sorgo para silagem para alimentar um rebanho leiteiro, consorciado com capim. Todo o processo foi seguido, com instalação de armadilhas, monitoramento e soltura das vespinhas no momento certo.
No final do processo, os técnicos observaram que os estragos feitos pela praga atingiram menos de 10% das plantas. “Este percentual estava abaixo do nível de dano econômico, diferentemente de outras lavouras da região que utilizaram controle convencional, com o uso de inseticidas químicos específicos, e que chegaram a ter 70% das plantas atacadas”, afirma o técnico da Emater- MG.
Agora, na safra 2020/2021, a produtora plantou milho na mesma área. E desta vez, não precisou nem soltar mais vespinhas, pois o local já está povoado de inimigos naturais da lagarta do cartucho.
“O resultado tem sido muito bom. Já tenho uma porção de inimigos naturais aqui, que fazem o trabalho de combate à praga. Coloquei as armadilhas de monitoramento e não caiu nem uma mariposa da lagarta do cartucho. Não precisei aplicar nada de defensivos químicos e nem soltar mais vespinhas”, comemora Conceição Gomes.
Além da lagarta do cartucho, o controle biológico também está ajudando a combater o pulgão, outra praga das lavouras. Sem a aplicação de defensivos químicos por causa do controle biológico, a entomofauna (conjunto de insetos de uma região) está sendo preservada, mantendo insetos que ajudam no combate às pragas.
“Na área do controle biológico, houve a manutenção da entomofauna. Além da vespinha, notamos também a presença de joaninhas, que fazem o controle biológico do pulgão e, portanto, não houve necessidade de intervenção. O trabalho mostrou que é viável produzir em quantidade e qualidade, com uso do controle biológico na cultura do sorgo e do milho, mantendo a sustentabilidade da entomofauna”, afirma o técnico da Emater-MG.
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