Soja & Milho: ProFarmer mostra atraso, desuniformidade e produtividades baixas
A imensa variedade de estágios e condições de lavouras de soja e milho nos principais estados produtores só cresce na medida em que evolui o Pro Farmer Crop Tour pelo Corn Belt. Os profissionais continuam visitando importantes regiões de grãos norte-americanas e confirmando menores produtividades de ambas as culturas.
Os números apurados até este momento são menores não só em relação aos dados de 2018, mas também se comparados à média dos últimos anos. No entanto, os especialistas seguem afirmando que continua muito difícil mensurar a extensão e a profundidade dos danos causados pelos problemas de clima - que vêm sendo registrados muito antes do início do plantio nos EUA - por muitas semanas ainda, até que os campos entrem em sua fase final de desenvolvimento.
Amostras de milho de Remington/Indiana a Arrowsmith/Illinois - Foto: Doug Warters
E esse atraso na maturação e conclusão das lavouras já aumenta a preocupação dos produtores norte-americanos, inclusive, com a possiblidade de que elas sejam atingidas duramente pelas geadas.
E os números abaixo mostram o quão desigual se mostra, ao menos até este momento, a safra 2019/20 dos Estados Unidos.
Illinois
A média avaliada para a produtividade do milho em Illinois ficou em 179,05 sacas por hectare, uma baixa de 115 em relação ao número final de 2018 para o estado, que é um estado-chave na produção norte-americana de soja e milho dos EUA. O número é também bem menor do que o da média das últimas três safras, de 197,65 scs/ha.
A contagem de vagens também é menor do que a do ano anterior em 25%. De acordo com os números levantados pelo ProFarmer, são 997,68 por metro quadrado, contra 1328,91 de 2018 e 1292,59 da média dos últimos três anos.
"A safra de Illinois está abaixo do esperado. A variabilidade das culturas é muito grande e é difícil gerar boa produtividade com tanta variabilidade assim", diz Brian Grete, um dos líderes do tour no site oficial do ProFarmer.
Os questionamentos agora se dão sobre quanto do rendimento as plantas ainda conseguirão manter até a conclusão de seu ciclo ou se irão perder ainda mais. A dúvida maior, ainda segundo Grete, se dá nas áreas plantada mais tarde.
Indiana
A média esperada de produtividade no milho de Indiana, de acordo com o levantamento do ProFarmer, é de 168,92 sacas por hectare, contra 190,73 de 2018, uma baixa de 11,44%. A média do estado, nos últimos três anos, é de 183,75 sacas/ha.
A contagem de vagens na soja também mostra uma redução considerável em relação ao ano anterior, de 29,57%, já que o número passou de 1311,87 para 923,94 vagens/metro quadrado. A média de Indiana, das três últimas safras, é de 1219,69 vagens.
Nebraska
No Nebraska, a redução também apareceu no rendimento do milho, porém, de forma mais tímida, em 3,69% se comparada à safra passada. A produtividade média estimada no tour foi de 180,50 sacas por hectare, contra 187,42 de 2018. O número deste ano é maior do que a média dos últimos três, de 175,45 scs/ha.
Na contagem de vagens, a baixa é mais expressiva - de 1328,91 do ano passado para 997,68 para 2019. Uma queda de 6,85%. A média para o Nebraska, nas últimas três safras, é de 1292,59 vagens de soja por metro quadrado.
Amostras em condados do Nebraska - Fotos: Karen Braun
ANO MAIS DO QUE ATÍPICO
Como explicaram participantes do ProFarmer, este é um ano em que por mais que as inúmeras amostras tragam uma precisão considerável para as estimativas, fazer esse trabalho diante de lavouras ainda tão imaturas é duplamente difícil.
"Quando se está a campo, em um tour, estamos olhando para uma safra madura, estamos medindo a realidade da produtividade. Já quando estamos frente a uma safra como esta, tão pouco desenvolvida e muito atrasada, com ainda muito tempo pela frente estamos medindo o potencial da produtividade", diz Chip Flory, um veterano docrop tour.
Há propriedades em que algumas áreas foram plantadas no começo de abril, outras no final de junho, e isso compromete as amostras, explicam os especialistas. Dessa forma, eles já esperam por alguns ajustes necessários para a divulgação dos números finais que acontece nesta sexta-feira, 23 de agosto.
Mais do que isso, há ainda todas as incertezas climáticas para as próximas, pelo menos, cinco semanas, que é o tempo que as lavouras ainda necessitam. E entre estas incertezas estão as geadas precoces que podem atingir em cheio os campos americanos. Ou até mesmo as primeiras geadas dentro de sua temporada normal podendo chegar a áreas de Minnesota, Dakota do Sul, noroeste de Iowa, nordeste de Nebraska, Ohio, Indiana e leste de Illinois.
Confirmadas, os números de produtividade podem sofrer novas mudanças.
CLIMA PARA A CONCLUSÃO DA SAFRA OU PARA COLHEITA? QUESTIONA A ARC MERCOSUL
E é justamente sobre isso que os diretores da ARC Mercosul, Matheus Pereira e Tarso Veloso, direto do Corn Belt, no Sul de Illinois, comentam em um vídeo exclusivo para o Notícias Agrícolas.
"Hoje, o que estamos tentando entender é se temos de nos focar no clima agora, na safra, ou no clima na colheita", diz Veloso. "O clima no curto prazo é bom, ele é úmido e frio, ou seja, não haverá mais o stress hídrico que estava acontecendo. Mas esse tempo frio empurra o amadurecimento para mais tarde, podendo causar problemas com as geadas", completa.
Veja o vídeo na íntegra e entenda quais são os pontos de atenção da conclusão da safra norte-americana e como esse período irá impactar o andamento dos preços na Bolsa de Chicago daqui em diante.
Em visita aos EUA, o produtor sul-mato-grossense Dante Ribeiro relata a diferença nas expectativas de lavouras de milho que foram plantadas até o final de abril - de 230 sacas/ha - e das áreas plantadas a partir de junho - 160 sacas/ha -, confirmando essa intensa diversidade de expectativas e projeções que rondam o mercado neste momento.
Ribeiro falou ao Notícias Agrícolas nesta quinta-feira dando mais detalhes sobre o que pôde observar nos EUA. Veja a íntegra na entrevista de Aleksander Horta no link abaixo:
E veja também:
>> Fotos do ProFarmer Crop Tour mostram o crítico desenvolvimento da safra dos EUA
1 comentário
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Geraldo Emanuel Prizon Coromandel - MG
Chama a atenção a expressiva diminuição do número de vagens na soja ("ProFarmer mostra atraso, desuniformidade e produtividades baixas").... Assim, mesmo que o clima contribua, não haverá mais recuperação na produtividade porque está faltando na média 25% das vagens para o enchimento.
Geraldo, vc acha que vai ser um mercado promissor aqui no Brasil pra nós?
Sr.Fabrício, gostaria de registrar que sou apenas um matuto tergiversando sobre a matéria. Porém, diante da instigação, vamos lá! Pela lógica dos fundamentos, sim. Agora, o produtor brasileiro deve se assenhorar dessa realidade, e de tantas outras, e fazer sua parte, exigindo preços melhores. O mercado está altamente manipulado pelos compradores (peste suína elástica (tem o tamanho do interessado), estoques americanos, etc...). Exemplo disso é a China, o único país do mundo que, mesmo dependendo de uma quantidade imensa de soja, e tendo apenas dois fornecedores (Brasil e EUA), briga com um deles e, mesmo assim, compra a soja do outro mais barato. Um verdadeiro contrassenso. É nestas horas que chamo a atenção para as responsabilidades do produtor brasileiro. Veja que num primeiro momento, quando irrompeu a guerra comercial, os produtores conseguirão bons preços por suas mercadorias, porque usaram a lógica e exigiram, naquele momento, o adicional de 25% via prêmio no preço da mercadoria. Neste ano, com os compradores já assenhorados da situação, manipularam o mercado com "suas" informações e as coisas não se repetiram. De outro lado, o produtor não se impôs para o mercado seguir a mesma lógica do ano anterior. Em outros tempos, com um mercado dentro da normalidade, com essa sequência de frustrações de safras estaríamos vivendo preços melhores. De minha parte procuro fazer diferente, nem sempre acerto, mas como bom produtor "não desisto nunca".... abraços.
Ok,Geraldo muito obrigado pela explanação, ótimos negócios pra você!!!