EUA terão de destruir toneladas de grãos danificados pelas enchentes
Silos alagados em Iowa - Imagem coletada no site Successful Farming
Os cenários criados pelas enchentes no Meio-Oeste americano continuam preocupando e entristecendo. Em uma de suas piores crises financeiras em mais de 20 anos, os produtores americanos ainda não conseguem nem mesmo contabilizar seus prejuízos diante dos elevados níveis da água alagando cidades inteiras e suas propriedades.
"Capítulos inteiros em livros serão escritos sobre isso, livros serão escritos sobre essa tragédia toda", disse o professor da Universidade de Nebraska, Keith Glewen, ao jornalista Mike McGinnis, do portal americano SuccessfulFarming.
Os estados mais afetados até este momento são Nebraska, Missouri, Iowa, Wisconsin e a Dakota do Sul. E uma das questões mais difíceis de serem respondidas é sobre o volume de grãos perdidos depois que a força da água destruiu centenas de silos cheios pelo Corn Belt.
De acordo com um jornal local de Iowa, somente no condado de Waterloo-Cedar Falls, estima-se que o volume perdido de soja seja de aproximadamente 10,6 mil toneladadas (390 mil bushels) e mais de 30 mil toneladas de milho (1,2 milhão de bushels) de milho embaixo d'água. Na região dos armazéns próximos ao rio Missouri - um dos mais afetados com as cheias - há ainda mais milho estocado que foi danificado.
E todo esse montante de grãos - e os volumes que sofreram o mesmo dano - tem que ser destruído, afirma a Iowa State University.
Enchentes atingem o Nebraska - Fotos: Reuters e Guarda Nacional do estado do Nebraska
E a chegada da primavera nos Estados Unidos não vai ser fácil para os produtores americanos. Segundo informações do NOAA - o serviço oficial de clima do governo dos EUA - afirma que a estação começa com chuvas acima da média nas regiões já afetadas e pode tornar ainda mais sério o risco com enchentes no país.
Além das chuvas excessivas, as espessas camadas de neve que ainda podem ser vistas em alguns estads do Meio-Oeste também deverão começar a derreter, aumentando o volume de água. E esses elevados níveis da água podem comprometer ainda mais estruturas armazenadoras de grãos.
"De acordo com a atual política da Administração de Drogas e Alimentos, os grãos que passaram pelas inundações causadas pelos cursos descontrolados dos rios ou pela água da chuva são considerados adulterados e têm de ser destruídos. A situação atual é de inundações pela água do rio, e não de água acumulada pela chuva, para a qual existem opções de salvamento. As águas das enchentes dos rios podem trazer muitos perigos e deterioração rápida", explicam os engenheiros agrícolas da Universidade de Iowa e Dan Loy, do Iowa Beef Center, ao SuccessfulFarming.
O transporte desses grãos também está comprometido e quase impossível de ser feito. E o melhor é que, de fato, não seja, segundo explicam especialistas americanos.
E estes mesmos especialistas afirmam que tentar salvar parte desses grãos, como retirando as porções mais ao topo dos silos também pode ser bastante arriscado por conta da contaminação. Caso seja feita isso, o importante é cuidar desses "melhores volumes" antes de mexer com parte ruim, segundo alertam.
À Reuters Internacional, o produtor rural de Winslow, Nebraska, disse nunca ter visto algo semelhante na vida e relata que perdeu dois silos inteiros cheios de milho. "Estávamos dependendo desses grãos para alimentar nosso plantel, mas agora toda nossa ração se perdeu e tudo se tornou ainda mais difícil. Não temos feito qualquer dinheiro com os grãos dados os problemas comerciais e os baixos preços", diz.
Na medida em que as águas começam a baixar em alguns pontos, os prejuízos e estragos começam a aparecer. De cidades ilhadas à propriedades perdidas em sua totalidade, os agricultores começam a enxergar também os desafios que terão para a próxima safra, que já deveria ter sido iniciada em alguns pontos.
Com a destruição de muitas rodovias e pontes, além da obstrução de ferrovias, a movimentação de produtos insumos fica travada, podendo, por exemplo, atrasar a entrega de sementes a alguns locais. Além disso, há estados onde os campos estão sem qualquer condição de trabalho.
As perdas estimadas somente para o Nebraska passam de US$ 1 bilhão, enquanto em Iowa podem passar de US$ 150 milhões em prejuízos em estruturas, maquinários e aproximadamente 100 mil acres de terra que estão embaixo d'água.
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Alcance das Enchentes e Previsão do Tempo
Um boletim divulgado pelo NOAA mostra que cerca de dois terços dos 48 estados norte-americanos enferentam um elevado risco de novas enchentes ainda em maio. Há a possibilidade de que cheias moderadas ou intensas podem chegar a 25 estados.
As previsões climáticas, afinal, mostram precipitações acima da média em quase todo o país nesta primavera, segundo a agência, aumentando os riscos de cheias.
O mapa do NOAA, a seguir, mostra que grande parte dos Estados Unidos tem mais de 50% de registrar enchentes de março a maio de 2019. As áreas em laranja mostram as cheias menos intensas; em vermelho, as moderadas e em roxo, as fortes.
"Regiões dos EUA - especialmente aquelas próximas ao alto do rio Mississipi e do rio Missouri já registraram enchentes recordes este ano, e elas foram causadas pelas chuvas fortes da primavera e a neve que chegou mais tarde este ano onde a umidade já era alta. Em alguns locais, todo esse gelo está intensificando as cheias", diz o NOAA.
E o centro e o sul dos Estados Unidos continuarão, ainda segundo o instituto, vivenciando condições como estas. "Conforme este excesso de água começa a fluir rio abaixo pelas bacias hidrográficas, a ameaça das enchentes fica ainda mais severa e, geograficamente, mais ampla", mostra o reporte da agência climática.
Para os próximos três meses - de março a maio -, as previsões do NOAA indicam grande possibilidade de que as temperaturas no centro dos Estados Unidos fiquem dentro da normalidade ou abaixo da média, como mostra a imagem abaixo.
Enquanto isso, as chuvas se mostram acima da média para o período em quase toda a extensão do território norte-americano, com chances de 40% a 50% de superarem a normalidade para o intervalo. A imagem abaixo ilustra a
Com informações dos portais internacionais Reuters e SuccessfulFarming. Nos links, confira a íntegra das matérias sobre as enchentes pelas mídias norte-americanas
2 comentários
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Realmente é um começo de temporada de plantio difícil para os americanos, com as previsões indicando chuvas acima da média até maio. Sabemos que pelo tipo de solo que eles têm, o encharcamento é muito mais prejudicial para a produção do que o tempo quente e seco.
Com esse episódio das enchentes no centro-oeste americano, como fica o tão falado 24 milhões de estoque de soja dos EUA? será que teremos o prazer de poder ler algum comentário do caro Liones Severo?..
Caro Adalberto Jose Munhoz. Com a maior divida da historia na ordem de 424 bilhões de dólares, a situação dos produtores americanos ainda se tornou mais dramática com as enchentes nos campos agrícolas. Os principais silos de estocagem estão nas margens dos rios que transbordaram. Os produtos das planícies e do médio norte do cinturão oeste são despachados para os portos da costa oeste (PNW) que estão mais próximos da Ásia e principalmente da China. Com a falta da China como comprador de soja aumentou consideravelmente o volume de soja em depósito. Este ano a China comprou 11 MMT de soja, comparado a 28,2 MMT do ano passado no mesmo período. Nos meus cálculos ainda tem cerca de 60 MMT de soja em estoque, que seriam : 17,2 MMT que seriam destinados a China, mais 24 MMT do estoque de passagem e mais cerca de 20 MMT, que as industrias ainda não adquiriram. Para agravar ainda mais a situação, os mercados compradores juntamente com a china, estão comprando soja sul americana que tem preço mais competitivo. Os produtores americanos estão encurralados com grandes volumes de soja estocada e com possibilidade de serem destruídas. Nem mesmo um possível acordo com a China poderá salva-los porque os chineses e demais consumidores continuarão comprando a soja sul americana. Existe apenas uma solução para eles : uma forte elevação dos preços para as agrícolas. No próximo dia 29, será divulgado a 1ª. intenção de plantio, quando podemos avaliar os impactos dos elevados estoques e os danos das enchentes. Com a condição financeira totalmente fragilizadas após 5 anos de prejuízos ininterruptos e com 40/50% de sua soja estocada, sem ter para quem vender, um produtor raiz reduziria substancialmente a área de plantio da próxima safra. Vamos conferir. Grande abraço.
Boa noite, muito grato caro Liones pela sua valorosa explicação ... como sempre fundamentada e nunca em talvez quem sabe... abraço e boa semana.
carlo meloni sao paulo - SP
Carla, muito bom esse seu artigo sobejamente ilustrado... Os atingidos pelo desastre vao ter que secar os graos molhados e vende-los a baixo preço para as fabricas de raçoes---
Muito obrigada, Sr. Carlo. Trabalhamos para relatar tudo em primeira mão, para vocês aqui no Notícias Agrícolas.