Produção em alta derruba os preços dos grãos e achata as margens dos produtores de Goiás
A produção de 10,819 milhões de toneladas de soja em Goiás este ano, um recorde para o Estado, nem de longe vem representando mais dinheiro no bolso do produtor de grãos. A abundância da oleaginosa – de forma geral, registrada em todo o País e nas demais regiões produtoras do mundo – derrubou os preços nesta safra 2016/17 a ponto de, em muitos casos, não cobrir sequer os custos de produção. É o que apontam os dados levantados e analisados pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).
Tomado como referência média para a análise dos dados, o produtor de Goiás que trabalhou com alta tecnologia fechou o custo operacional total da soja em R$ 3.484,16 por hectare para cultivares RR (transgênicas, com resistência a aplicações do herbicida glifosato), e R$ 3.364,77/ha para as RR2 (resistência a alguns tipos de lagartas e ao glifosato). Esses valores consideram a depreciação dos bens e da remuneração da terra (arrendamento) e os desembolsos do produtor (custo operacional efetivo) com itens como sementes, adubos, defensivos, maquinário, mão de obra e operações.
Considerando uma produtividade média das cultivares RR de 58 sacas de 60 kg/ha, e 60 sc/ha das variedades RR2, ambas comercializadas a R$ 58/sc, obtém-se uma receita de R$ 3.364,00/ha e R$ 3.480,00/ha, respectivamente. Tais números revelam uma margem de lucro muito pequena ou mesmo negativa. O produtor tido como referência nesta análise amargou um prejuízo médio de R$ 120,16/ha com a soja RR, portanto, a lucratividade de sua lavoura ficou negativa em 3,44%. Nas cultivares RR2 o cenário se mostrou positivo, ainda que bastante tímido: o lucro foi R$ 115,23/ha e a lucratividade, 3,42%, percentual que indica o ganho desse produtor com a venda da oleaginosa.
Responsável pela análise dos dados, o consultor técnico da Aprosoja-GO, Cristiano Palavro, ressalta que esses valores são médios, já que houve variações nos resultados dos produtores de acordo com a região do Estado, o nível tecnológico adotado, a produtividade obtida e as estratégias de comercialização. Além do mais, a associação destaca que os valores da soja caíram ainda mais no pico da colheita, para a casa dos R$ 50,00/sc, o que apertou as margens de quem teve que fechar negócios naquele período (fevereiro-março).
"Em geral, podemos afirmar que nos patamares de preços atuais, o produtor precisa ter obtido um elevado padrão produtivo para atingir a lucratividade dentro da média dos últimos anos", afirma Palavro. Segundo ele, o quadro se agrava tendo em vista a comercialização mais atrasada no Estado, atualmente em cerca de 65%, já que produtores mal posicionados antecipadamente podem não conseguir esperar uma melhor reação do mercado, sendo forçados a fechar negócios para cumprir seus compromissos. "O produtor está exposto a um cenário cada vez mais desafiador, obrigando-o a trabalhar sempre com eficiência para reduzir custos e, sobretudo, exigindo maior foco e conhecimentos na comercialização."
Ao analisar os dados levantados pela Aprosoja-GO e Faeg, o consultor técnico também relacionou as variáveis produtividade e preço para verificar por qual valor a soja precisaria ser vendida a fim de pelo menos "empatar" o resultado, ou seja, obter uma receita suficiente para cobrir os custos de produção. Por exemplo, um produtor que obteve a produtividade média de Goiás nesta safra (55 sacas/ha, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento - Conab) deve vender a soja RR a um preço médio de R$ 63,35/sc para quitar o custo operacional total. Se ele conseguiu as mesmas 55 sc/ha com variedades RR2 (Intacta), precisa negociar cada saca a R$ 61,18 para equilibrar receita e despesas.
Preocupação maior no milho
Os números são também desanimadores na cultura do milho. Dado o custo referência da safra verão de R$ 4.260,07/ha para produtores de alta tecnologia, com produtividade média de 155 sacas/ha, quem comercializar sua produção ao preço médio de Goiás nos últimos meses (R$ 22,00/sc) obterá receita de R$ 3.410,00/ha. A diferença de R$ 850,07 entre os valores configura um prejuízo de 19,90% sobre os recursos investidos. Considerando o mesmo patamar de preço, seria necessário colher 193,64 sc/ha para equilibrar as contas. Cabe destacar que tal produtividade é extremamente alta e representa 58,64 sc/ha a mais que a média (135 sc/ha) da primeira safra do cereal em Goiás.
Já o produtor que, mediante o uso de alta tecnologia, tem expectativa de colher 120 sc/ha na safrinha de milho – a estimativa média para o Estado é de 105 sc/ha –, teria de vender cada saca por R$ 21,27 para empatar a receita com os R$ 2.552,81/ha desembolsados na produção. Com a proximidade de uma colheita volumosa nesta safra de inverno, estimada pela Conab em 62,68 milhões de toneladas para todo o País, aumenta a pressão de queda nos preços e margens ainda mais apertadas.
Diante desse cenário, é fundamental atenção ao mercado no curto e médio prazo, explica o consultor técnico da Aprosoja-GO. "O produtor deve aproveitar possíveis rallys de alta, principalmente durante o desenvolvimento da safra norte-americana. Novos episódios na política nacional também podem contribuir para a melhoria das cotações, já que a alta no dólar impulsiona a competitividade do nosso milho nas exportações, afetando os preços internos."
Palavro lembra ainda que a retirada da safrinha das lavouras vai limitar as condições de armazenamento. "Com uma grande colheita de milho e as vendas de soja mais lentas, estocar toda essa produção passa a ser uma preocupação também. Por isso, o produtor precisa avaliar qual o custo dessa armazenagem, se vale a pena segurar produto e por quanto tempo", alerta.
Reflexão sobre os custos
Para o presidente da Aprosoja-GO, Bartolomeu Braz Pereira, o contexto político-econômico do Brasil é um dos fatores que mais têm impactado os custos de produção. "A parte financeira da nossa atividade é baseada no dólar, tanto os preços de insumos como os de venda. Quando fizemos o planejamento desta safra, o dólar permeava os R$ 4,00; hoje está mais próximo de R$ 3,00. Só essa diferença gera um impacto de 30%", comenta. "Nossa política e economia são muito instáveis e isso impacta bastante o valor do dólar frente ao real, dificultando nosso planejamento", critica.
O dirigente, que também é produtor de grãos, ressalta que as perdas na comercialização devem levar o produtor a pensar sobre o que fazer nas próximas safras. "Isso vale para reflexão da nossa cadeia produtiva. Não adianta ter uma super safra se vamos ter prejuízo. O agricultor tem que refletir dentro do seu negócio e ver o que é viável. Tudo tem que ser avaliado, porque não há conta que feche com esse custo de produção que só aumenta."
O consultor técnico da Aprosoja-GO, Cristiano Palavro, comenta que devido às excelentes condições de clima, o setor acreditava em uma recuperação nas margens de lucro dos produtores, que vinham acumulando perdas produtivas por algumas temporadas consecutivas – em especial, com a quebra da última safrinha de milho. "Mas os preços cederam bastante e muitos produtores não estavam bem posicionados na comercialização antecipada", constata. "Porém, as negociações continuam nos próximos meses, e em função das inúmeras variáveis a que o mercado está exposto, o jogo segue em aberto", afirma.
Assim, destaca Palavro, além de evidenciar a necessidade de definir melhores estratégias e atuar de formar racional na comercialização, essa safra abre espaço para a importância de monitorar os custos de produção e investir cada vez mais em gestão das propriedades rurais. Na opinião do consultor, é possível sim trabalhar com custos mais ajustados.
Na parte financeira, (juros, encargos, tributos, arrendamento), Palavro recomenda procurar melhores linhas de custeio e identificar as reais taxas de juros das operações de troca/barter com tradings e outras empresas. Despesas com fertilizantes e corretivos podem ser reduzidas com a aplicação mais eficiente desses insumos.
O uso de equipamentos modernos e operadores especializados, controle sobre o "timing" de aplicação para reduzir entradas na lavoura, bem como revisão e manutenção periódica minimizam os custos com maquinário. Aperfeiçoar as técnicas de monitoramento de pragas e doenças, utilizar controles alternativos e ter maior assertividade no momento de aplicação ajudam a diminuir os gastos com defensivos. No caso das sementes, que vêm encarecendo devido ao emprego de biotecnologia, o consultor técnico da Aprosoja-GO aconselha o plantio de variedades convencionais ou sem patente, desde que consigam competir em produtividade.
0 comentário
Ibrafe: Produtores do Paraná estão ocupados tentando colher Feijões em meio às chuvas
Conab: Equipe técnica realiza pesquisa para atualizar o levantamento da Safra de Grãos 2024/2025
Boa produção e reabertura de exportações asiáticas tendem a favorecer oferta de arroz no mercado mundial
Ibrafe: Mercado do feijão está especulado
Novos leilões de contrato de opção de venda de arroz são marcados para próximo dia 20
China promoverá modernização das fazendas para sustentar produção de grãos