Chuvas afetam tratos culturais do trigo do Sul do Brasil
Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - As chuvas intensas que atingiram lavouras do Sul do país nos últimos dias preocupam produtores de trigo, que não estão conseguindo realizar os tratos culturais necessários para alcançar uma colheita prevista para ser recorde.
Do início de julho até esta quarta-feira, já choveu três vezes o volume esperado para o mês inteiro no noroeste do Paraná, segundo a média histórica. Já no noroeste do Rio Grande do Sul, o acumulado de julho está 20 por cento acima da média para o mês inteiro.
Os dois Estados são os principais produtores de trigo do país, que depende da produção doméstica para abastecer cerca de metade de seu consumo anual.
"Não tem haviado nem dois ou três dias de sol, que já chove de novo. O aspecto das lavouras ainda é bom. O problema é que o tempo vai passando e algumas práticas culturais que precisam ser feitas, não são feitas", relatou o engenheiro agrônomo Jairton Dezordi, da Cooperativa Tritícola Santa Rosa, no Rio Grande do Sul.
De acordo com o especialista Rui Polidoro Pinto, da região de Ijuí e Cruz Alta (RS), ainda não há sinais de doenças, como fungos provocados pela umidade.
"Mas o risco é grande. Para o futuro começa a preocupar. Doenças podem acontecer", disse ele.
Pinto lembra que a aplicação de adubo necessária nas atuais fases iniciais das lavouras pode ser prejudicada, porque a chuva provoca infiltração excessiva dos nutrientes.
"Em algumas lavouras não está sendo possível entrar para fazer controle de pragas. Atrapalha os tratos culturais", disse o gerente técnico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Flávio Turra.
Em geral, o solo umido faz com que o maquinário pesado não possa entrar nas lavouras. Além disso, a chuva acaba lavando os defensivos aplicados.
Na semana passada, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou projeção atualizada para a colheita de trigo do Brasil em 2015, elevando a previsão para 7 milhões de toneladas, ante 6,76 milhões da previsão de junho.
O Paraná deverá responder por 56 por cento e o Rio Grande do Sul por 34 por cento da safra nacional nesta temporada, segundo as projeções oficiais, que levam em conta as condições verificadas nas lavouras até o momento.
Segundo os especialistas, ainda não há indicativos de problemas severos como os que derrubaram a safra gaúcha em 2014, quando chuvas no momento da colheita prejudicaram bastante a qualidade dos grãos.
No Rio Grande do Sul, 76 por cento das lavouras estão ainda na fase de desenvolvimento vegetativo, sem formação de grãos, enquanto no Paraná esse índice chega a 60 por cento, segundo dados dos governos estaduais.
"Nosso problema sério é chuva na época de colheita do trigo, que provoca germinação de grãos", destacou Turra.
Ainda assim, as projeções são de chuvas acima da média para os próximos meses, uma vez que o fenômeno climático El Niño vem ganhando força.
"O El Niño favorece as chuvas no sul do Brasil. A instabilidade fica presa no Sul do Brasil, não avança além do Paraná. Os períodos de chuvas ficam muito persistentes", disse a meteorologista da Metsul, Estael Sias.
Segundo ela, há cada vez mais indicativos de um "super El Niño", como o registrado em 1997.
"No ano passado, a safra (de trigo do Rio Grande do Sul) já foi ruim, e este ano deve ser de novo. Vai chover bem mais", disse ela.
A expectativa em relação ao El Niño já havia reduzido a intenção de plantio de trigo no Rio Grande do Sul, conforme reportou a Reuters anteriormente.
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