Principal cliente do Brasil, mesmo com tarifas, é improvável que EUA diminuam compra de ovos no país
Apesar da imposição por parte dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump de 10% de tarifas sobre os produtos importados do Brasil, a demanda estadunidense por ovos brasileiros deve continuar forte, segundo especialistas. De acordo com balanço da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os Estados Unidos passaram a ser os maiores importadores de ovos do Brasil.
Liderando o destino das exportações de janeiro a março, os Estados Unidos importaram 2.705 toneladas, saldo 346,4% maior em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a ABPA.
As pressões inflacionárias na economia estadunidense, somada a surtos de gripe aviária altamente patogênica, agravados desde 2022, devem fazer com que a demanda por ovos importados siga elevada, de acordo com especialistas.
“Neste mês verificamos, de forma mais expressiva, os resultados positivos da abertura dos Estados Unidos para ovos produzidos no Brasil para termoprocessamento localmente para produtos de consumo humano. Ao mesmo tempo em que se preserva a oferta interna de produtos para o mercado interno, já que representam em torno de 1% do total produzido no país, as exportações representam uma conquista importante para o avanço do segmento”, avalia o presidente da ABPA, Ricardo Santin.
Hyberville Neto, médico veterinário e diretor da HN Agro, pontua que a taxação sobre os produtos brasileiros, que permaneceu no piso de 10%, comparado a outros países que levaram tarifações mais elevadas, devem encarecer os gastos estadunidenses.
“Essas taxas, se vierem para o lado do mercado de ovos do Brasil, estamos falando de algo que vai encarecer as importações do país, mas como as exportações do Brasil significam pouco mais de 1% da nossa produção, e a fatia para os Estados Unidos representa uma parte disso, estamos falando de um volume pequeno, para a escala do Brasil”.
Para a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Claudia Scarpelin, a elevação expressiva das importações de ovos brasileiros pelos Estados Unidos e o fato de que o Brasil não conta com casos de influenza aviária altamente patogênica em plantéis comerciais, torna o país uma fonte segura de compras.
“Portanto, mesmo com a imposição das tarifas, é pouco provável que os Estados Unidos reduzam as compras de ovos brasileiros, já que a situação interna ainda não foi normalizada. Embora o preço dos ovos possa aumentar devido às tarifas, essa medida pode acabar impactando o próprio país, que continuará dependendo das importações para atender à sua demanda. É importante analisarmos os dados deste mês para avaliar se o volume de importação do Brasil continuará em ritmo crescente, mesmo com as tarifas”.
PREÇOS DOS OVOS: DIFERENÇAS ENTRE EUA E BRASIL
Os preços dos ovos estão em alta, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, mas por razões muito diferentes. Enquanto no Brasil há um desequilíbrio entre oferta e demanda causado pelo período de Quaresma e uma redução da produção causada em fevereiro pelas altas temperaturas, os Estados Unidos passam por um agravamento dos casos de gripe aviária altamente patogênica, reduzindo o número de poedeiras e, por consequência a produção de ovos.
Conforme informações do final de março do American Farm Bureau Federation, a perda de galinhas poedeiras por influenza aviária altamente patogênica é o principal fator que impulsiona o aumento dos preços dos ovos.
Em análise ao American Farm Bureau Federation, o economista Brent Nelson aponta que desde 2022, a doença afetou mais de 166 milhões de aves, incluindo 127 milhões de poedeiras. Isso representa uma perda média de 42,3 milhões de poedeiras por ano, ou cerca de 11% do estoque médio anual de galinhas poedeiras de 383 milhões de galinhas em cinco anos desde o início do surto.

Fonte: American Farm Bureau Federation
“Essas perdas resultaram na redução do fornecimento de ovos e em preços recordes. De acordo com o Serviço de Pesquisa Econômica (ERS, na sigla em inglês) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), o preço médio nacional mensal para ovos grandes de grau A em janeiro foi um recorde de US$ 4,95 por dúzia. Cerca de 12 milhões de aves, principalmente poedeiras, foram perdidas em fevereiro, elevando o número total de aves afetadas até agora em 2025 para mais de 35 milhões e elevando ainda mais os preços dos ovos. O preço médio nacional diário para uma dúzia de ovos grandes era de US$ 8,15 por dúzia em 4 de março de 2025”, pontuou Nelson.

Fonte: American Farm Bureau Federation
Vale lembrar que o Brasil registrou o primeiro caso da doença em aves silvestres em 15 de maio de 2023, e de lá para cá, são 163 casos em aves selvagens e três em aves de subsistência, sem ter atingido planteis comerciais. O caso mais recente confirmado pelo Ministério foi em julho do ano passado.
Em terras brasileiras, conforme explica Claudia Scarpelin, os preços dos ovos ainda permanecem elevados, mas as altas perderam força. Entre março e a parcial de abril (até o dia 7), os preços da proteína recuaram nas praças acompanhadas pelo Cepea. Na região produtora de Bastos (SP), as cotações dos ovos brancos tipo extra, a retirar (FOB) na granja, registraram média de R$ 192,90 por caixa com 30 dúzias neste início de mês (até o dia 7), queda de 5% em relação a março. Para os ovos vermelhos negociados na mesma praça, a média ficou em R$ 220,32/cx, redução de 4,9% em comparação a março.
“As tarifas impostas pelos Estados Unidos, que afetam as importações, não devem impactar diretamente os preços internos do Brasil, pois a oferta doméstica já é suficiente para atender a nossa demanda interna.
O comportamento dos preços nos próximos meses dependerá do equilíbrio entre a oferta interna de ovos e a demanda pela proteína. Após a Quaresma, é comum que o consumo se estabilize. Caso a oferta se ajuste à demanda, os preços tendem a se manter estáveis ou até recuar de forma mais acentuada”, informou a pesquisadora do Cepea.

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