Lideranças da área de proteínas animais alertam para compras antecipadas de milho sob risco de aumento no preço do cereal
Segundo informações apuradas pelo Notícias Agrícolas junto ao diretor da Pátria Agronegócios, Cristiano Palavro, a perspectiva é de preços elevados para o milho no segundo semestre, mesmo com a entrada de grandes volumes. Na visão de Palavro, a demanda muito aquecida deve ser suficiente para sustentar os preços do milho no Brasil, que inclusive poder voltar a superar a marca dos R$ 100,00 a saca neste segundo semestre.
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Apesar de haver analistas que contestem esta informação, mesmo que apresentem um cenário de continuidade de preços em patamares altos, lideranças da área de proteína animal, que adquirem o cereal para compor as rações das criações, se preocupam com a programação das compras, aproveitando a janela de preços mais baixos.
Os pontos de atenção em que o produtor precisa ficar atento, segundo Palavro, são o mercado internacional, que tem cenário altista com safra norte-americana menor e corte de produção na França e China, a movimentação cambial do dólar ante ao real e as exportações.
Vale lembrar que o Brasil e China entraram em acordo para que o gigante asiático importe o cereal brasileiro, mas alguns desembaraços fitossanitários ainda precisam ser alinhados entre os países para que as negociações iniciem de fato.
Valdomiro Ferreira, presidente da Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS), afirma categoricamente que o suinocultor não consegue se preparar com compras antecipadas, mesmo sabendo que a janela ideal de compra está próxima devido à falta de capital.
"Pouquissimos produtores independentes vão conseguir comprar milho pelo menos para terem em estoque até o final do ano. Ele (o produtor) não está conseguindo ter rentabilidade na atividade, e vai acabar comprando da mão pra boca. O produtor está vendendo o jantar de hoje pára pagar o de ontem", explica Ferreira. O conselho do presidente da APCS é que aqueles que tem um pouco de fluxo de caixa invistam em armazenamento de grãos.
"Temos mais um fator que vai deixar o mercado nervoso que é o período eleitoral. A estratégia, olhando o cenário macro, é que o produtor olhe para essa janela de compra a partir de julho e, a partir da sua capacidade financeira, reduza investimentos para comprar matéria prima e paralelamente reduza o plantel para melhor eficiência na produção e produtividade", avisa Ferreira.
Na visão do presidente da APCS, a redução de plantel deve ser em torno de 20%, e se este processo começar hoje, por exemplo, os resultados começarão a ser vistos em janeiro/fevereiro de 2023. "As decisões precisam ser tomadas agora, não adianta prorrogar. É com um enxugamento de 20% que você reduz em 12% a 15% o volume de compra de milho, porque 60% da dieta do animal é milho", disse.
Entre lideranças do setor avícola, é consenso que os custos de produção em alta são uma nova realidade com a qual o produtor deverá conviver por certo tempo. Irineo da Costa Rodrigues, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar) e da Lar Cooperativa Agroindustrial, afirma que é fato que a safrinha de milho deve vir grande, que os preços já cederam um pouco, mas que não há espaço para que caia de maneira expressiva.
José Eduardo dos Santos, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), ressalta que o alto patamar de preço para os insumos para a alimentação das aves, principalmente do milho, é um cenário novo no agronegócio brasileiro, mundial, e vai ser constante. "O que tem que acontecer é justamente buscar alternativas para garantir o abastecimento interno para que não haja desestímulo ou sucateamento da produção industrial de proteína animal", aponta Santos.
"Estamos em ano eleitoral em que o dólar fica mais nervoso, dando margem para as exportações, sem falar na questão das exportações de milho para a China. O importante é dizer que o Brasil vai sim ter milho, e que cabe às empresas fazerem suas compras nessa janela, não deixarem para se abastecer depois. Não podemos desconsiderar também o milho do Paraguai, mas que está com o obstáculo da operação padrão que está sendo realizada por parte de fiscais do Ministério da Agricultura e da Receita Federal", disse Rodrigues.
Para a liderança do Sindiavipar, essa exportação de milho para a China não deve ocorrer tão rápido, e ele prevê que isso deva passar a acontecer a partir da metade do ano que vem.
Também em relação às exportações do cereal para a China, o presidente da Asgav ressalta a preocupação com as importações de milho brasileiro por parte da China, explicando que "a China que hoje é um potencial consumidor, e tudo que movimenta em matéria de logística e escoamento de produtos em direção ao mercado chinês afeta ao mercado mundial".
Segundo o presidente da Asgav, é sim possível exportar milho porque "vivemos em um livre comércio", mas é necessário também resguardar a competitividade e o desenvolvimento da produção de alimentos do Brasil. Para ele, haverá um novo cenário com as importações por parte da China, e sendo assim, será preciso dar andamento àquelas ideias que foram colocados em discussão, como o Projeto Duas Safras no Rio Grande do Sul, e logística ferroviária, com menos custo e que possa fazer um fluxo comercial nos locais produtores. "Temos alternativas que estão sendo desenvolvidas, com retorno socioeconômico e precisamos apostar nisso para não ficar dependentes desse pânico generalizado" finaliza Santos.
No caso da produção leiteira, deve, sim, haver certo impacto, mas menor do que comparado à avicultura e suinocultura, de acordo com Paulo Martins, pesquisador da área de economia da Embrapa Gado de Leite. Martins explica que há uma parte do milho que é consumido pelas vacas leiteiras em forma de silagem, e boa parte dos produtores fazem a própria silagem no final do ano; alguns usam no ano todo, alguns na entressafra. Outra parte dos produtores usa o milho com o farelo de soja em forma de ração. "Se esse fenômeno acontecer, vamos ter uma elevação ainda maior de custos na produção de leite. Para o produtor que usa a silagem, esse tipo de problema não afeta tanto, mas boa parte dos produtores compra soja e milho, e estamos caminhando para um tipo de produção mais tecnificada, e isso vai impactar e não vai ser pouca coisa. Entretanto, não é um um impacto tão forte comparado com avicultura e suinocultura", disse Martins.
ANALISTAS TÊM OPINIÕES DIVERGENTES
Ao contrário de Palavro, o analista da SAFRAS & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, afirma que "não há garantia de que a China vai comprar grandes quantidades do mercado brasileiro". "No segundo semestre a estrutura de custos deve ser menos inflacionada do que o primeiro porque a safrinha se desenvolveu bem, e agora devemos olhar para o clima nos
Estados Unidos, e se for uma safra cheia, deve baixar os preços aqui", diz Iglesias.
Para o analista da SAFRAS & Mercado, A saca de 60 quilos do milho brasileiro não deve chegar ao preço de R$ 100,00, a não ser que o real se desvalorize muito frente ao dólar, ou aconteça algo muito fora do contexto nos Estados Unidos, como, por exemplo, uma seca de 50 dias nas áreas de milho.
César de Castro Alves, consultor de Agronegócio do Itaú BBA, ressalta que os produtores não estão aguentando os custos, mas pondera que no momento em que o mundo voltar à normalidade, passar o período de guerra e, eventualmente, os preços das rações caírem, as coisas deverão se equalizar.
"Se a gente tiver uma combinação da safrinha de milho chegando volumosa na reta final, e principalmente der tudo certo na safra americana, ajuda a amenizar a escassez de milho, principalmente na região do Mar Negro, na Ucrânia. O quadro de custos não é tranquilo, mas a safrinha vindo boa, é um alívio. Mas é claro, se houver algum problema na produção de milho internacional, os olhos dos compradores vão se voltar ao Brasil, e a indústria brasileira vai ter que pagar mais caro para segurar esse milho, o que se traduz na possibilidade de um cenário mais difícil para custos novamente", pontua Alves.
O especialista do Itaú BBA ainda expõe que, para toda indústria de rações e proteínas animais, a China é uma "boca grande" que pode vir fazer compras grandes e tornar o jogo mais difícil. Entretanto, Alves acredita que, em princípio, é preciso aguardar como será essa chegada da China, se vai haver uma demanda firme, embora seja inquestionável o potencial de absorção chinesa de soja e milho.
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