Estiagem no Sul do BR faz faltar água de beber a suínos, aves e bovinos
A estiagem e as altas temperaturas que atingem a região Sul do Brasil afetam não apenas a produção de grãos na área, mas também as criações de animais, como frangos de corte e aves de postura, suínos e a bovinocultura leiteira. Para além do aumento dos custos de produção na cadeia de proteína animal, relacionados ao aumento dos preços de milho e farelo de soja, insumos fundamentais na composição das rações, em algumas áreas do Paraná, santa Catarina e Rio Grande do Sul tem faltado água de beber aos animais.
Segundo Geraldo Borges, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), já há relatos de produtores tendo problemas com falta de volumoso, tendo que vender rebanho, abater animais ou, quando há possibilidade, levar o gado para outras regiões onde haja água.
"O gado criado na região Sul é um gado taurino, que exige mais cuidado, que aguenta menos seca, menos calor e que exige mais alimentação. Aí tem a segunda fase que vai haver o problema da safra, que vai faltar ração. O consumo de água dos bovinos é enorme, e muitas propriedades precisam de ajuda para caminhão-pipa para agua para os animais beberem", explica.
No caso da suinocultura, conforme explica o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos, Losivanio de Lorenzi, as grandes indústrias já estão com caminhões-pipa puxando água, e para regiões onde há granjas menores e em que Municípios já decretaram estado de emergência, algumas prefeituras também auxiliam com o transporte de água aquem precisa. "Se o produtor está com problema de falta de água, uma das alternativas é não alojar mais animais. São dois anos consecutivos passando pela mesma situação. Acredito que em algumas cidades já está acontecendo de não repovoar" disse.
Outro problema pontuado por Lorenzi a respeito da falta de água é o stress térmico dos animais, já que em algumas granjas mais antigas que não se adequaram às novas tecnologias de ambiência, o produtor precisa escolher entre ofertar água para que os suínos bebam ou para aspergir sobre eles para baixar a temperatura.
No Paraná, segundo informações do Governo do Estado, desde outubro caminhões-pipa têm auxiliado no abastecimento de água em algumas cidades onde a situação é mais crítica. Uma delas é Prudentópolis, na região Central do Estado. “De 100 comunidades rurais em Prudentópolis, 30 estão com problemas sérios de água. O caminhão faz cerca de quatro viagens por dia ajudando essas famílias”, destacou o prefeito Osnei Stadler.
Matelândia, no Oeste paranaense, vive realidade semelhante. O Município abriga cerca de 500 aviários que sofrem com a estiagem prolongada, e a demanda pela continuidade das atividades econômicas foi suprida pelo abastecimento de água do caminhão-pipa.
“Esse caminhão veio para resolver um grande problema no município, que é a falta de água com a estiagem. Desde outubro, quando recebemos o veículo, ele auxiliou comunidades e aviários com mais de 3,06 milhões de litros de água, sendo 51 mil litros somente no dia 31”, destacou o prefeito Maximino Pietrobon.
No Rio Grande do sul, conforme explica João Alfredo de Oliveira Sampaio, zootecnista e assistente técnico estadual em produção animal da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), há, sim, casos em que produtores estão passando dificuldades em relação ao abastecimento hídrico.
"À princípio, quando se faz um projeto de produção animal, se faz baseado em um volume com margem de segurança de abstecimento de água. Temos situações em que as propriedades estão com problemas mesmo tendo um projeto de segurança. Nesse caso, se toma medidas de emergência com caminhões-pipa, por exemplo, que são medidas paliativas. E quando essa dificuldade de abastecimento chega a um extremo, se finaliza o lote que está no confinamento e paralisa o alojamento, o que prejudica a produção", disse.
Investimentos em meio à seca
Conforme relatado pelo presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos, Losivanio de Lorenzi, há dois anos Santa Catarina passa pelo aperto de falta de água não só nas lavouras, mas nas granjas e confinamentos de animais. No Estado, as regiões Extremo Oeste, Oeste e Meio Oeste são as mais afetadas.
Segundo mo Governo do Estado, há o Programa SC Mais Solo e Água, que têm captado recursos e investido em planejamento hídrico de médio e longo prazo. Em 2021, conforme pontua a Administração, foram investidos R$ 100 milhões em financiamentos sem juros ou subvenção aos juros de financiamentos para apoiar a construção de sistemas de captação, armazenagem e distribuição de água no meio rural. Mais R$ 200 milhões serão destinados somente a esse programa nos próximos dois anos, conforme afirma o Governo Estadual.
Tabajara Marcondes, ele é analista da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri/Cepa), e afirma que há milhares de propriedades com problemas de abastecimento de água, porém, o número exato é algo difícil de mensursr, uma vez que as informações ficam a cargo de cada prefeitura, e outra razão é que dia após dia mais produtores passam a sofrer as complicações da seca.
"O problema maior é para as prefeituras, porque não podem cobrar isso (socorro com caminhões-pipa) dos produtores e não há rubrica específica no orçamento para abastecimento complentar de água por ser algo muito excepcional. Quando são casos isolados, ainda vai, mas tem municípios fazendo de forma sistemática porque o problema é extenso", pontua o analista.
No Rio Grande do sul, a responsável pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), Silvana Covatti, ressalta que uma das ações mais efetivas da Pasta em 2022 será a execução do Avançar na Agropecuária e no Desenvolvimento Rural, o qual destinará R$ 201,4 milhões para irrigação e conservação de água. Silvana explicou que a Seapdr aguarda para até metade de janeiro a liberação do orçamento de 2022 para dar início aos processos de licitação.
“Vamos fazer um esforço para tentar agilizar a tramitação disso o mais rápido possível e ajudar a preparar o Rio Grande do Sul para os períodos de falta de chuva”, acrescentou a secretária.
Seguro dos animais
Apesar de ser comum o acionamento de seguro em caso de perdas em lavouras de frãos e de outras culturas, no caso da criação de animais, o seguro é algo ainda incipiente.
Marcondes explica que o seguro geralmente é pago, e como a perda de animais pela estiagem não é um fenômeno sistemático, ele acredita que os produtores não tenham o hábito de fazer.
A coordenadora da área de seguros da Abraleite, Karen Matieli, afirma que houve "um salto significativo graças ao carimbo à pecuaria dentro do Programa de Seguro Rural o que possibilitou o acesso ao programa viabilizando assim a contratação das apólices.
Ainda é incipiente mas estamos crescendo a cada ano", disse.
Ela explica ainda que há uma subvenção Federal, com ajuda de 40% ao setor pecuário, porém somente há dois anos foi liberado "um carimbo" específico ao setor. Antes disso, a verba era disputada com café, florestas, frutas e olerícolas.
Quando conquistamos o carimbo começamos a crescer em proteção, conforme ela explica.
Sobre a adesão aos programas de seguro, Karen pontua que falta informação, divulgação de que existe seguro para a pecuária., mas aqueles produtores que conhecem, fazem. Mas os demais que não têm acesso, acabam ficando descobertos.
João Alfredo de Oliveira Sampaio, zootecnista e assistente técnico estadual em produçaõ animal no Rio Grande do Sul, por sua vez, pondera que os produtores não têm costume de fazer seguro dos animais. "O que geralmente se tem é seguro de financiamento contratado, do que você tomou de recursos no banco para realizar o seus sistema produtivo", ressalta.
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