Oeste de SC se destaca nos índices de produtividade de feijão
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma safra de feijão promissora para o ciclo 2024/25. A estimativa é de que sejam colhidas 3,3 milhões de toneladas em todo o Brasil. Santa Catarina, o 8º maior produtor de feijão do país, também deve conquistar bons resultados. Com 76% da lavoura já colhida, o estado ampliou em 9,84% a área plantada, em comparação com a 1ª safra anterior, e registrou aumento de 13,16% na produtividade. O feijão é cultivado em todo o território catarinense, mas três regiões se destacam no plantio e na produção: Planalto Norte, Planalto Sul e Oeste.
Os Planaltos, em especial as cidades de São José do Cerrito, Mafra, Lages, e Canoinhas, possuem as maiores áreas cultivadas. Por outro lado, o Oeste se destaca nos índices de produtividade, com 2.114 quilos por hectare, superando os 2.093 quilos por hectare do Planalto Sul. O gerente regional da Epagri em Xanxerê, Marcelo Henrique Bassani, explica que “a região destina tradicionalmente uma boa área para a produção de feijão, tanto na safra quanto na safrinha, com aproximadamente 30 mil hectares. Na última safra os produtores obtiveram uma excelente produtividade, chegando a uma média de 35 a 40 sacas por hectare”.
Um dos principais aliados dos produtores da região Oeste foi o clima. Sydney Antonio Frehner Kavalco, pesquisador da Epagri/Cepaf e coordenador do Programa de Melhoramento Genético de Feijão, avalia que este foi um verão com chuvas muito regulares. “O feijão é mais adaptado a um clima quente com chuvas regulares. Esse ano tivemos chuvas boas, com espaço de 10, 15 dias. Isso, aliado à luminosidade e ao calor, fizeram dessa uma época de cultivo muito boa. Fazendo fotossíntese, tendo sol, a fertilidade tende a ser de média a alta”, diz.
Kavalco observa que em comparação com os Planaltos, o Oeste se diferencia devido ao clima quente. Segundo ele, “Nos Planaltos temos muito problema com as áreas em alta altitude, onde há prevalência de antracnose e de mancha angular, principalmente de mancha angular, que gosta de frio. Então ela se multiplica e o produtor tem que ter o cuidado extra com aplicação fungicida”.
Outro fator destacado por ele para a boa produção é o uso de adubação orgânica. “Aqui no Oeste temos muita criação de suínos, aves e bovinos, por isso, é muito utilizada a adubação orgânica, então, o perfil do solo tem mais material orgânico, mais nitrogênio disponível e também mais produtividade em comparação com outros locais onde a cadeia de produção destes animais não é tão forte”, analisa.
Marcelo Bassani também salienta o trabalho dos agricultores. Ele observa que “através dos tratos culturais, com sementes de boa qualidade, inclusive as da Epagri, os produtores conseguiram obter bons resultados, transformando isso em ganhos econômicos que colaboram para que a cultura se mantenha e tenha adesão ao plantio”.
Dentre os agricultores e agricultoras que se dedicaram ao plantio de feijão na 1ª safra no Oeste catarinense está Angelita Bortoli. A agricultora de Xanxerê conta que esta foi a primeira vez que realizou o plantio de verão desta cultura e que “em termos de produtividade, foi um excelente ano”. Em sua propriedade, de 34 hectares, foram colhidas 53 sacas por hectare. Além do feijão, Angelita e sua família plantam milho e soja.
Ela relata que os resultados obtidos nesta safra e a manutenção de sua propriedade só foram possíveis após implementar algumas mudanças no manejo. Há oito anos, depois de ser prejudicada por uma enxurrada, ela entrou em contato com a Epagri. “A primeira coisa que fizemos foi medir a capacidade de infiltração de água da chuva no solo. Com isso, pudemos entender o que havia acontecido, pois o resultado foi de 33 mm/h, o que é um índice baixíssimo. Já na safra seguinte, intensificamos o uso de plantas de cobertura, com o uso do mix. Três anos depois, a Epagri voltou a medir e já tínhamos alcançado 54 mm/h, um índice ainda baixo, mas que indicava que estávamos no caminho certo”.
Angelita explica que, a partir disso, passou a utilizar biofungicidas, bioinseticidas e outros produtos produzidos on farm na biofábrica que foi construída na propriedade, com o intuito de reduzir o consumo de produtos químicos. “No ano passado introduzimos os remineralizadores. Estamos muito satisfeitos com os resultados, mas ainda há muito o que fazer em prol do nosso objetivo que é uma agricultura sustentável capaz de produzir grãos com alto teor nutritivo”, diz a produtora.
Melhoramento genético em cultivares de feijão da Epagri
Os bons resultados obtidos pelos produtores de feijão também podem ser atribuídos ao melhoramento genético. A Epagri desenvolve diversas pesquisas com o objetivo de lançar cultivares mais produtivas e resistentes. O Programa de Melhoramento Genético de Feijão, com sede na Epagri/Cepaf, em Chapecó, coordena as investigações realizadas em todo o estado de Santa Catarina. Recentemente foi lançado um novo cultivar de feijão-preto, o SCS208 Cronos, cujas sementes são distribuídas pela Cravil.
Sydney Kavalco destaca que é imprescindível a existência de um programa de melhoramento de feijão, principalmente na região Sul, que é a maior consumidora de feijão-preto do Brasil. Ele observa que “outras empresas de pesquisa como o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IAPAR) e a Embrapa também realizam melhoramento de feijão, mas poucas têm como foco o feijão-preto”. Outro diferencial das cultivares desenvolvidas pela Epagri é a inserção de informações referentes à resistência à antracnose por raça.
Kavalco explica que o melhoramento leva em consideração o que acontece no campo. “Eu tenho a oportunidade a cada ano de fazer a seleção dos melhores. Se ocorrer antracnose, consigo separar só aqueles que são tolerantes, mas é preciso que a doença se manifeste na lavoura, por isso fico muito dependente daquilo que acontece”, observa.
O pesquisador relata que atualmente o foco do melhoramento genético tem se voltado para a resistência à doenças, pragas, seca, calor, alta produtividade e adaptabilidade a todo território catarinense. Estes elementos são levantados pelos pesquisadores, mas também são reportados pelos extensionistas rurais e pelos produtores, que fazem sugestões para criar um determinado perfil para as plantas. Nesse sentido, Sydney Kavalco afirma que houve “uma evolução gigantesca, principalmente quando avaliamos materiais mais antigos, porque agora, as nossas linhagens estão muito mais eretas. Elas começam a se aproximar daquilo que é um cultivo de soja, que é uma planta robusta, mas bem ereta. A nossa seleção foi caminhando para esse tipo de planta”, avalia. Esta característica é importante porque todo material precisa ser adaptado à colheita mecanizada. Por este motivo, plantas mais eretas, com inserção de primeira vargem alta e caule mais robusto atendem melhor a esta demanda.
Atualmente a Epagri está na fase final dos trabalhos para o lançamento de dois novos cultivares, um de feijão-preto e outro de feijão-carioca. Os cultivares já foram registradas e devem passar pelo processo de proteção de marca. O material será disponibilizado aos agricultores após a realização de uma licitação para definir os multiplicadores das sementes.
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