Brasil recebe coleção completa de grão-de-bico da Índia
Um acordo firmado entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Internacional de Pesquisa de Cultivos para os Trópicos Semi-Áridos (ICRISAT), sediado na Índia, possibilitou a importação da totalidade do banco de germoplasma (core collection) de grão-de-bico desse país para integrar a coleção brasileira, utilizada nas pesquisas de melhoramento genético para o desenvolvimento de novas cultivares.
Ao todo, o Brasil recebeu mais de 25 quilos de sementes de grão-de-bico, sendo 1853 amostras embaladas individualmente em envelopes de papel contendo aproximadamente 100 sementes em cada. O material ingressou no país no final de abril e, após os trâmites do dossiê de importação sob vistoria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), cumpre um período de quarentena na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, localizada em Brasília/DF, para análises e testes de sanidade vegetal, antes de ser liberado para fins de pesquisa agrícola.
“A transferência da coleção de sementes de grão-de-bico entre a Índia e o Brasil foi facilitada pelo Tratado Internacional de Recursos Genéticos Vegetais para Alimentação e Agricultura (TIIRFA), do qual ambos os países são signatários”, explica a técnica Danielle Biscaia, supervisora do Núcleo de Apoio à Programação da Embrapa Hortaliças (Brasília/DF).
Durante a quarentena, os materiais vegetais passam por análises em diferentes laboratórios para averiguar a possível presença de ácaros, insetos, plantas infestantes, bactérias, fungos, nematoides e vírus. “As análises buscam interceptar pragas quarentenárias (de acordo com a lista de publicada pelo MAPA) e pragas exóticas que possam causar danos a cultura que está sendo introduzida”, explica Norton Polo Benito, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Segundo ele, as análises são feitas diretamente nas sementes, sendo que parte das sementes são reservadas para o plantio, para que o desenvolvimento da planta seja acompanhado e novas análises sejam feitas em plantas com sintomas de pragas.
Trunfo para pesquisa
Após o término do período de quarentena, que pode variar de quatro a seis meses, a coleção oriunda do ICRISAT passará a integrar o Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de grão-de-bico da Embrapa e, então, será utilizada para os cruzamentos entre diferentes materiais no âmbito do programa de melhoramento genético para obtenção de novas cultivares, com características de interesse para o setor produtivo nacional.
No BAG da Embrapa, a conservação das amostras acontece em câmara fria, mas antes elas passam por um processo de secagem para atingir a umidade recomendada de 10% e, então, são colocadas em embalagens aluminizadas à prova de umidade. Na câmara fria, elas ficam armazenadas em uma temperatura de 5 ºC a 10 ºC com 40% de umidade relativa.
“Ter acesso a um banco completo de um centro internacional de pesquisa, com amostras coletadas em diferentes locais do mundo e com muita variabilidade, aumenta nossa possibilidade de encontrar materiais com tolerância a pragas e doenças ou outras qualidades interessantes para o contexto da produção e do consumo de grão-de-bico no país”, avalia o pesquisador Warley Nascimento, da Embrapa Hortaliças, ao comentar que o mercado vem se tornando mais exigente ao requerer cultivares mais precoces, produtivas e com boas características agronômicas, industriais e nutricionais.
As amostras de grão-de-bico serão plantadas nas condições de clima e de solo do Brasil para avaliação do desempenho agronômico. Os especialistas estimam que, em média, a pesquisa levará cinco anos para conseguir avaliar todas as amostras recebidas. “O grão-de-bico é uma espécie originária do continente asiático e, por isso, quando plantarmos as amostras aqui, tudo vai ser novo e diferente do comportamento que se observa lá. É importante avaliar bem nas condições brasileiras e, assim, garantirmos uma perenidade das pesquisas com grão-de-bico no nosso país”, sinaliza Nascimento, que esteve na Índia em uma visita ao ICRISAT quando deu início às tratativas para recebimento da coleção.
Novas cultivares e possibilidade de exportação
Há duas frentes de trabalho com as novas amostras de grão-de-bico da coleção de germoplasma da Embrapa: no curto prazo, após testar os materiais nas condições brasileiras, caso algum material adapte-se completamente bem, ele pode ser disponibilizado como uma nova cultivar; e no médio prazo, as novas amostras serão inseridas nos cruzamentos realizados no programa de melhoramento genético, junto com as cultivares já desenvolvidas pela Embrapa, como o grão-de-bico BRS Aleppo, com o objetivo de obter cultivares com características superiores.
Segundo o pesquisador, todas as características serão consideradas ao longo do estudo, mas a busca terá foco maior em materiais tolerantes à lagarta-das-vagens, praga preocupante nas lavouras de grão-de-bico; materiais com que suportem melhor o déficit hídrico e condições de seca prolongada, para posicionar o plantio do grão na safrinha e em regiões semiáridas; e materiais com alto teor de proteína que facilitam o processamento na forma de alimentos plant-based, ainda mais por esse segmento apresentar um crescimento de 10 a 20% por ano.
Além disso, no horizonte da pesquisa, também está a possibilidade do país se tornar um exportador de grão-de-bico para o restante do mundo. Atualmente, as cultivares BRS da Embrapa são todas do tipo kabuli, que é o grão maior e na cor bege, mais consumido no mercado nacional. “Com as novas amostras fazendo parte do nosso banco de germoplasma, poderemos ampliar as pesquisas para o grão-de-bico do tipo desi, que possui sementes pequenas e na tonalidade amarronzada, e é mais consumido em outros países. Logo, ampliamos nosso leque de atuação da pesquisa com potencial de exportação para o mercado internacional”, conclui Nascimento.
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