Custo da inação climática leva a perda de 10% a 15% do PIB global até 2100, alerta BCG
Um novo estudo do Boston Consulting Group (BCG), em parceria com a Cambridge Judge Business School e o climaTRACES Lab da Universidade de Cambridge, revela que a inação frente às mudanças climáticas pode causar perdas de 10% a 15% do PIB mundial até 2100. Intitulado “Why Investing in Climate Action Makes Good Economic Sense”, o relatório demonstra que o custo dessa omissão supera os investimentos necessários para mitigação e adaptação.
Segundo a análise, no cenário atual, com investimentos insuficientes em ações climáticas, o mundo permaneceria na trajetória crescente de temperatura, podendo atingir mais de 3°C em 2100, além de provocar perdas de 16% a 22% do PIB acumulado. Isso corresponde a uma redução na taxa de crescimento global anual de aproximadamente 0,4 pontos percentuais.
Por outro lado, o BCG aponta que investir menos de 2% do PIB cumulativo em esforços adicionais de mitigação até 2100 limitaria o aumento da temperatura a menos de 2°C, conforme estipulado pelo Acordo de Paris, evitando impactos econômicos estimados em 11% a 13% do PIB acumulado nos próximos 76 anos.
“Nesse segundo contexto, os investimentos em mitigação seriam maiores no curto prazo, chegando até 8% do PIB até 2030, mas diminuiriam ao longo do tempo. Porém, mesmo que tal conjuntura se concretize, serão necessários maiores investimentos em adaptação, pois a temperatura continuará subindo dos atuais 1,1°C e alguns impactos econômicos são inevitáveis devido às emissões passadas”, comenta Arthur Ramos, diretor executivo e sócio do BCG.
A pesquisa mostra que, ao investir uma parcela relativamente pequena do PIB – menos de 1% – em medidas de adaptação climática, é possível evitar perdas econômicas muito maiores, de até 4% do PIB. Sendo assim, o impacto econômico residual, em um cenário de menos de 2°C, variaria de 4% a 6% do PIB.
Contudo, o estudo também destaca que esses números são conservadores e provavelmente subestimados, considerando que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) corrige continuamente suas estimativas de risco climático para cima. Além disso, o cálculo não considera pontos de inflexão ou impactos não quantificáveis, como sofrimento humano e perdas ambientais, que piorarão e acabarão se tornando irreversíveis à medida que as mudanças climáticas se aceleram.
“Os esforços de mitigação podem prevenir diretamente o aquecimento global e, portanto, limitar os impactos econômicos. Desde 2015, os custos de adaptação cresceram a uma taxa anual de 18%. Infelizmente, apenas 6,3% dos fluxos de financiamento climático são direcionados para a adaptação hoje”, afirma Ramos.
O levantamento indica que atualmente existem três barreiras principais entre ambição e ação:
- O custo da inação ainda não é totalmente compreendido, pois não há consenso científico sobre os impactos econômicos das mudanças climáticas e as estimativas atuais apresentam alta incerteza.
- Como o impacto das mudanças climáticas é distribuído de forma desigual pelo mundo e as restrições orçamentárias são severas, as decisões de governos e líderes empresariais sobre como e quando agir em relação às mudanças climáticas variam muito.
- Viés no foco de curto prazo atrasa ações em desafios de longo prazo.
"É crucial implementar alavancas que preencham essas lacunas por meio do apoio a mais pesquisas para a promoção da mudança climática. Para isso, é preciso estabelecer mecanismos efetivos de política e regulamentação e coordenando esforços globais”, finaliza Ramos.
O estudo completo está disponível, em inglês, no site do BCG.
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