Metsul: El Niño, grande vilão das enchentes de 2023 e 2024, chega ao fim
Maior vilão do excesso de chuva do ano passado e deste outono no Rio Grande do Sul, com grandes enchentes e uma epidemia de dengue sem precedentes, o episódio do El Niño de 2023-2024 está praticamente terminado. A mudanças na atmosfera vai levar ainda algum tempo, mas as condições oceânicas deixam de ser de El Niño.
Não será nenhuma surpresa se nos próximos dias a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA), a agência de tempo e clima do governo dos Estados Unidos, oficializar em boletim o fim do evento de El Niño que se iniciou em junho do ano passado.
O El Niño trouxe meses de chuva acima a muitíssimo acima da média no Rio Grande do Sul com grandes enchentes em setembro, novembro e agora em maio. Historicamente, o fenômeno costuma causar chuva extrema e inundações no território gaúcho nos meses de primavera do ano do seu início e no outono do ano seguinte.
De acordo com o último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de +0,3ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada oficialmente para definir se há um El Niño na forma clássica e de impacto global.
O valor está na faixa de neutralidade. Assim, oficialmente as anomalias de temperatura da superfície do mar não mais são de El Niño na região do Pacífico usada para designar se há ou não o fenômeno atuando.
A última vez em que esta parte do Pacífico, no Centro-Leste da faixa equatorial do oceano apresentou valores na faixa de neutralidade (-0,4ºC a +0,4ºC) foi na semana de 24 de maio do ano passado. No pico, esta região Niño 3.4 chegou a +2,1ºC na semana de 22 de novembro de 2023.
Já a chamada região Niño 1+2, que monitora a temperatura do mar nas costas do Peru e do Equador, apresentou na última semana anomalia de temperatura da superfície do mar de -0,4ºC, sinalizando um evento de La Niña que é provável nos próximos meses.
A tendência é que no restante deste mês de maio e no decorrer de junho junho as águas superficiais do Ocenao Pacífico Equatorial se resfriem mais com instalação de um quadro de neutralidade (sem El Niño ou La Niña) de muito curta duração na transição para um evento de La Niña.
Não se antecipa La Niña antes do fim do outono climático (março a maio), mas no decorrer do inverno a La Niña deve ser declarada pela NOAA, possivelmente entre os meses de julho e agosto, embora a fase fria já fique evidente nas próximas semanas nos mapas de anomalia de temperatura do mar.
LA NIÑA NO SEGUNDO SEMESTRE
Conforme a mais recente estimativa do Centro de Previsão Climática (CPC) da NOAA, para este trimestre de maio a julho, as probabilidades são de 2% de El Niño, 87% de neutralidade e 11% de La Niña. Ou seja, no curto prazo a tendência é de uma fase neutra no Pacífico.
Para o trimestre de inverno de junho a agosto, 1% de probabilidade de El Niño, 39% neutro e 60% de La Niña. No trimestre de julho a setembro, 1% de El Niño, 30% de neutralidade e 69% de La Niña.
No trimestre agosto a outubro, 1% de El Niño, 22% de neutralidade e 77% de La Niña. No trimestre de primavera, entre setembro e novembro, 1% de El Niño, 16% de neutro e 83% de La Niña. No trimestre de outubro a dezembro, que marca o plantio da safra de verão, 1% de El Niño, 14% de neutro e 85% de La Niña.
No trimestre de novembro a janeiro, de transição da primavera para o verão de 2025, 1% de El Niño, 12% de neutro e 87% de La Niña. Finalmente, para o trimestre de verão, de dezembro de 2024 a fevereiro de 2025, as probabilidades estimadas são de 1% de El Niño, 14% de neutralidade e 85% de La Niña.
Assim, com base na estimativa da NOAA, haveria uma repetição do que se viu no ano passado, mas com sinal contrário. Em 2023, a transição de La Niña para El Niño foi muito rápida. Para 2024, a agência de tempo e clima dos Estados Unidos projeta uma transição novamente muito rápida, mas desta vez de El Niño para La Niña.
O QUE É O FENÔMENO LA NIÑA
O fenômeno La Niña tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo.
Durante um evento La Niña, as águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo. A última vez em que a La Niña esteve presente foi entre 2020 e 2023 com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai.
No Brasil, os efeitos do La Niña variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações.
Além da chuva, a La Niña também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul.
Em escala global, quando o fenômeno está presente há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. O aquecimento do planeta, entretanto, foi tamanho recentemente que a temperatura média do planeta hoje em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.
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