Chuva deve seguir a conta gotas no Paraná
A previsão do tempo para o inverno é desanimadora para os produtores rurais do Paraná. A chuva a conta gotas, uma realidade desde 2018, deve seguir no mesmo ritmo no próximo trimestre. Historicamente, o acumulado de chuvas nos meses de junho, julho e agosto já é mais baixo do que em outras épocas do ano. E há risco de que o índice fique em uma linha inferior à média.
Para se ter ideia do tamanho do problema que o Paraná enfrenta em relação à escassez de água, em 27 dos últimos 41 meses a chuva ficou abaixo da média história (veja o gráfico abaixo). Nos meses de março, abril e maio é normal chover entre 300 e 400 milímetros (mm). Mas neste ano choveu entre 100 e 200 mm.
Segundo o meteorologista Luiz Renato Lazinski, a influência do fenômeno La Niña (resfriamento das águas do Pacífico Equatorial) por um período diminuiu as chuvas no Centro-Sul do Brasil. Agora, apesar de ainda haver presença de La Niña, caminhamos para um período de neutralidade climática, ou seja, sem influência do La Niña ou do El Niño (aquecimento das águas do Pacífico Equatorial). Em períodos assim, o esperado é que as chuvas fiquem irregulares, com a ocorrência de veranicos e temperaturas baixas.
“Nos próximos meses, não muda em relação ao que estamos vendo. Vamos ter veranicos, assim como tivemos na safrinha de milho, provavelmente até o fim do ano. Todo ano tem veranico, só que normalmente eles duram por volta de 12 dias sem chuva. Só que em anos como 2021 há chance de termos veranicos mais prolongados”, aponta Lazinski. “Não é que não vai chover. Vai chover, mas continua muito irregular e na maior parte dos meses teremos chuva abaixo da média”, complementa.
Danielle Barros Ferreira, meteorologista chefe do Serviço de Pesquisa Aplicada (Sepea) do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) também sinaliza a perda de força do La Niña e ratifica a previsão de pouca chuva. “Estamos detectando indícios de fenômeno neutro no Oceano Pacífico. Mas não é porque o La Niña acabou que as chuvas retornam. Tem um tempo de resposta até a atmosfera e o oceano se ‘acoplarem’. Os próximos meses, do inverno até o início da primavera, vão seguir com precipitações abaixo da média”, prevê.
O meteorologista Celso Oliveira, da Climatempo, acrescenta que outro aspecto relevante a se observar diz respeito às precipitações em parte da Bacia do Rio Paraná. “Vem chovendo menos nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, águas que vão ao Rio Paraná para produzir energia elétrica em Itaipu. E neste caso menos que o normal há dez anos, independentemente de termos El Niño ou La Niña”, revela.
Para gerar ainda mais incertezas futuras, não há uma previsão de melhora significativa nos próximos anos. “Nesse caso vemos um ciclo de longo prazo de 20, 30 anos de chuva forte e de 20, 30 anos de chuva mais fraca. O nome disso é Oscilação Interdecadal do Pacífico. Neste caso, não há expectativa de grande melhora nos próximos anos”, alerta Oliveira.
Geadas
Um fenômeno que sempre preocupa os produtores rurais do Paraná é a geada. Lazinski lembra que o frio chegou cedo nesse ano. Em fevereiro já houve o registro de temperaturas na casa de 5 °C em General Carneiro, no Sul do Estado. E ao que tudo indica o frio deve ir embora mais tarde, o que acende o alerta para a possibilidade de geadas. “Até meados de setembro tem chance de alguma onda de frio muito forte que pode provocar geada em áreas mais altas do Estado. As ondas de frio vêm com intensidade, estamos esperando um inverno com temperaturas entre a média e abaixo da média”, alerta Lazinski.
Desdobramentos
As precipitações, apesar de irregulares, até foram suficientes para o bom andamento de algumas culturas nas últimas safras, já que a agricultura depende menos de grandes volumes e mais de frequência de chuvas. Com um pouco de sorte, parte dos produtores conseguiu resultados satisfatórios em suas atividades no verão de 2020/21. No inverno, porém, a história deve ser outra.
Outro ponto de atenção está nos mananciais de abastecimento de água das cidades e nos lagos de usinas hidrelétricas. A Região Metropolitana de Curitiba, por exemplo, está há mais de um ano em regime de rodízio de água. No Rio Paraná, onde fica o lago da Usina Hidrelétrica de Itaipu (uma das maiores do mundo), o leito do rio tem pedras à mostra abaixo da Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu. Na mesma cidade, as Cataratas do Iguaçu estão irreconhecíveis, com menos água do que o normal.
A falta d’água reflete também nas tarifas de eletricidade, que já estão sendo reajustadas para bandeiras mais caras e devem provocar uma reação de alta de preços em toda a cadeia produtiva. Além disso, no campo, pecuaristas começam a ter problemas com as pastagens, o que deve levar à complementação da dieta dos animais com ração. O preço do milho, porém, está no maior patamar da história (saca bate os R$ 90, em Cascavel) e os prognósticos para a pressão nos custos de produção não são nada animadores.
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