Junho deve ser de chuvas limitadas e calor para norte do Corn Belt; soja e milho já sofrem
O mês de junho se inicia com preocupações no radar quando o assunto é o clima no Corn Belt e deve intensificar ainda mais a volatilidade do mercado de grãos na Bolsa de Chicago. Somente nesta segunda-feira (7), os futuros da soja e do milho subiam mais de 1% e 2%, respectivamente, e no início da tarde já se aproximavam da estabilidade, com altas muito mais modestas.
"O mês de junho ganha importância por conta do rápido avanço do plantio de milho e soja. Maio foi muito bom em termos de chuvas, no entanto, junho não deverá ser tão favorável. As temperaturas deverão ficar acima do normal, o que demandará chuvas regulares", explica a Agrinvest Commodities.
O mapa do Commodity Weather Group (CWG) mostra que nas últimas 72 horas, as chuvas nos Estados Unidos foram mal distribuídas, mais concentradas no sul e sudeste do país, alcançando apenas partes de Illinois, Indiana, Missouri e Ohio, deixando estados como Iowa, as Dakotas, Nebraska e Wisconsin sem a umidade adequada.
Chuvas nas últimas 72h nos EUA - Fonte: Commodity Weather Group
Sofrem com a falta de precipitações, portanto, estados-chave na produção de grãos dos EUA, uma vez que Iowa é o segundo maior produtor do país, Dakota do Norte o quarto maior, e a Dakota do Sul, o oitavo. As Dakotas, ainda como explica a Agrinvest, representaram 15% da área colhida e 10% da produção nacionais na temporada 2020/21. Além disso, boa parte da expansão de área dos Estados Unidos se deu nestes dois estados nesta temporada.
Também de acordo com informações apuradas pela consultoria, é possível que atividades de replantio terão que ser realizadas diante das adversidades. E os especialistas citam não só as chuvas escassas, mas as geadas fora de época o calor que começa a se intensificar.
Os baixos volumes registrados agora preocupam depois de um inverno bastante seco e, consequentemente, dos níveis também limitados da umidade nos solos dos estados mais ao norte.
No levantamento feito pelo consultor norte-americano Kevin VanTrump que mostra a extensão da seca nos Estados Unidos aponta que são cerca de 12% da área de Iowa cultivada com soja está sob seca; 8,7% para Minnesota; 5,4% para a Dakota do Norte; 4,6% para a Dakota do Sul e 2,5% no Michigan.
Quando se trata de milho, o percentual para Iowa chega a 17%; 5,4% parea a Dakota do Sul; 4% em Wisconsin; 2% na Dakota do Norte e no Michigan.
Infográficos: USDA + VanTrump Report
E o alívio não deve chegar rapidamente. Afinal, os modelos atualizados mostram que os próximos dias deverão ser de chuvas ainda limitadas para os estados mais ao sul. O boletim do CWG divulgado nesta segunda-feira aponta as precipitações abaixo da média durante toda essa primeira quinzena de junho, como mostra a imagem na sequência.
Os mapas - na segunda linha da imagem - mostram os intervalos dos próximos 1 a 5 dias; 6 a 10 e 11 a 15, todos com volumes aquém do ideal para esta época do ano. Do mesmo modo, na primeira linha de mapas é possível ver que são esperadas temperaturas acima do normal para o período em quase toda a região produtora de grãos dos Estados Unidos, principalmente nos estados mais ao norte.
Mapas: Commodity Weather Group
"As chuvas do final de semana favoreceram as planícies do Sul e se expandem para o sul e leste do Meio-Oeste americano nesta semana, voltando a se concentrar, na sequência, no sul do país", informa o Commodity Weather Group. "O stress hídrico se intensifica no noroeste nas próximas duas semanas, alcançando cerca de 20% das áreas de soja e milho. Minnesota e as Dakotas continuarão como os estados mais quentes". Tais estados deverão continuar registrando temperaturas que passam de 30ºC e podem chegar a se aproximar dos 40ºC nos próximos dias.
Em contrapartida, novos mapas trazidos hoje pelo NOAA, o serviço oficial de clima dos EUA, mostram algumas chuvas sendo esperadas para os próximos cinco dias - de 7 a 12 de junho - para as Dakotas, com destaque para a do Norte, e o noroeste de Minnesota. Veja na imagem abaixo:
Condições semelhantes são esperadas para os próximos sete dias, quando as chuvas seguirão concentradas no sul e leste dos Estados Unidos, mas com alguns poucos volumes sendo esperados para o a Dakota do Norte.
Mapas: NOAA
O mapa abaixo, do portal The Farm Futures, é a ferramente FeedBack From The Fields, atualizando constantemente pelos produtores norte-americanos sobre as condições de suas lavouras. Nos pins coloridos de vermelho, amarelo ou laranja são regiões que vêm registrando lavouras não tão boas, justamete, em função das adversidade climáticas.
Como exemplo, está a cidade de Ponsford, em Minnesota, onde 100% do milho já foi plantado, 99% emergido e classificado como campos muito ruins. Para a soja, a semeadura também já foi concluída, 85% das lavouras germinaram e também estão em condições ruins ou muito ruins. Mais do que isso, o produtor ainda relata a necessidade de replantar 100% de sua soja.
Os relatos são dos mais variados neste momento. O plantio do milho está praticamente concluído no país, o da soja está na reta final e as condições climáticas são determinantes não só para o desenvolvimento das lavouras, mas também para o andamento das cotações.
O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) traz seu novo boletim semanal de acompanhamento de safras nesta segunda-feira, às 17h (horário de Brasília), e o mercado especula sobre ele até lá. Os dados são bastante aguardados, bem como confrontados com os relatos de agricultores em todo Estados Unidos.
"Solo superficial muito, muito seco. O milho não germinado está depositado na terra seca. Logo será tarde demais para emergir e fazer uma colheita. A soja sofreu danos causados pelo vento e baixa emergência. É o maio mais seco já registrado desde 1880", informou um produtor do norte de Minnesota.
Assim, diante da volatilidade forte que está por vir, o alerta de Ginaldo de Sousa, diretor do Grupo Labhoro é bastante claro: "este é um mercado para profissionais". Mais do que isso, alerta para a constante mudança nos mapas climáticos e na possibilidade de divergência entre eles. "Se a noite os modelos entrarem em consonância e tirarem as chuvas volta tudo de novo", diz o executivo referindo-se à movimentação dos futuros dos grãos negociados na Bolsa de Chicago.
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