Rio Paraná: Maior bacia com capacidade hidroelétrica do país enfrenta seca histórica
Há mais de um ano a irregularidade nas condições climáticas no Brasil se intensificou, atingindo as mais diversas culturas e resultando em perdas expressivas na produção brasileira. Entre elas, destacam-se a produção de soja, milho, cana-de-açúcar, café, citrus e feijão.
A situação, no entanto, fica cada vez mais mais crítica. De acordo com levantamento realizado e divulgado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) a bacia Rio Paraná - que abrange seis estados brasileiros (Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Santa Catarina e o Distrito Federal), vem registrando volumes abaixo da média há 22 anos.
"É a bacia com maior capacidade instalada de geração de energia hidroelétrica do país, com 57 grandes reservatórios, sendo Itaipu o de maior capacidade instalada, com 14.000 megawatts. Cerca de 1/3 da população brasileira vive nessa área, sendo, portanto, a bacia com maior demanda por água", afirma o relatório divulgado no início desta semana.
De acordo com o documento, as chuvas na bacia Rio Paraná estiveram abaixo da média nos últimos anos. A série mostra vários ciclos secos e chuvosos ao longo das décadas, sendo que a seca mais severa foi registrada entre dezembro de 1968 a setembro de 1971, com auge em março de 1969, destaca ainda que é importante ressaltar que naquela época as demandas hídricas eram inferiores às atuais.
"Um fato muito relevante que pode ser notado, é que nos últimos 22 anos predominaram as precipitações inferiores à média, com curtas exceções nos anos de 2010 e 2015. Em particular, desde o final de 2019 as condições de seca se intensificaram, variando entre as categorias de severa", afirma o CEMADEN.
Outro ponto de destaque, é que o levantamento aponta que a partir do mês de maio deste ano, os mapas mostram que quase toda a área da bacia Rio Paraná se encontra em condição de "seca expecional". "O índice Integrado de seca inclui, além do déficit de precipitação, a resposta da vegetação à condição de estresse hídrico, mostra que praticamente toda a bacia se encontra atualmente em situação de seca, sendo que 60% da sua superfície apresenta condição de seca severa a extrema", afirma.
Período seco levanta novo alerta
Além do baixo volume de chuva já registrado, em 2021 o setor também observou que o período chuvoso 2020/21 se encerrou de forma prematura, ainda no mês de março, configurando assim o ano mais seco do ano. "Nessa época, que se estende até o mês de setembro, as precipitações são muito escassas nas sub-bacias de cabeceira que se encontram nas
regiões Sudeste e Centro-Oeste, enquanto na porção mais baixa da bacia do rio Paraná as precipitações ocorrem apenas em decorrência de passagens de frentes frias. Em termos gerais, o volume pluviométrico total registrado durante o período seco é pequeno; portanto, as vazões vão continuar abaixo da média, dificultando a recuperação do volume dos reservatórios, especialmente nos trechos de cabeceira", acrescenta o documento.
As previsões indicam que, pelo menos, até o dia 13 de junho, a condição é de precipitação escassa na bacia rio Paraná, com volumes abaixo da média histórica em toda área. "Para a segunda quinzena de junho, o cenário mais provável é de acumulados pluviométricos próximos aos valores históricos, que são baixos nesta época, embora deve se considerar que as previsões para prazos superiores a duas semanas apresentam baixa confiabilidade", afirma a previsão.
O levantamento conclui que embora ainda não seja possível antecipar as características da próxima estação chuvosa,
a escassez de umidade no solo, a possibilidade de um novo fenômeno de “La Niña” e a atual previsão de chuvas inferiores à média para o próximo trimestre, não permitem vislumbrar um quadro de recuperação das vazões, e, consequentemente, dos níveis dos reservatórios nos próximos meses.
"Em termos de vazão, pode se concluir que a porção alta da bacia do rio Paraná enfrenta uma situação de seca hidrológica que pode ser classificada como severa e excepcional desde 2014, e que se configura como a pior seca hidrológica desde janeiro de 1981. No trecho mais baixo, a seca “severa” a “excepcional” se estende desde fevereiro de 2019, sendo que as UHEs Jurumirim eItaipu são as que se encontram, atualmente, em situações mais críticas", finaliza.
Para conferir o relatório completo clique aqui
ANA declara situação crítica de escassez quantitativa dos recursos hídricos da Região Hidrográfica do Paraná
Na edição extra do Diário Oficial da União, publicada em 1º de junho, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) publicou a Declaração de Situação Crítica de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos da Região Hidrográfica do Paraná até 30 de novembro de 2021. A medida, contida na Resolução nº 77/2021, foi tomada pela primeira vez para assegurar os usos múltiplos da água nesse período.
A Declaração foi publicada pela ANA com o objetivo de reconhecer a situação crítica de escassez quantitativa de recursos hídricos e subsidiar a adoção de medidas temporárias para assegurar os usos múltiplos da água e buscar a segurança hídrica. Após a análise de cada situação, poderão ser adotadas medidas, como regras de operação temporárias para os reservatórios para a preservação dos seus volumes. Num primeiro momento, a necessidade de restrições para usos consuntivos (que consomem água), como a irrigação e o abastecimento humano, não é vislumbrada.
A Declaração foi publicada pela ANA em caráter preventivo para mitigar possíveis riscos aos usos consuntivos de água, decorrentes do cenário desfavorável de chuvas, até o fim do período seco deste ano. Nesse sentido, em sua análise técnica, a Agência levou em consideração a Nota Conjunta do Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), de 27 de maio, que emitiu Alerta de Emergência Hídrica associado à escassez de precipitação para a Região Hidrográfica do Paraná de junho a setembro deste ano.
O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM) assinaram o Alerta de Emergência Hídrica pela primeira vez em função das previsões de chuvas próximo ou abaixo da média entre maio e setembro deste ano. Além disso, a Região Hidrográfica do Paraná passa por um déficit de precipitações severo desde outubro de 2019, segundo o SNM, e os mapas do Monitor de Secas.
Conforme acompanhamento da ANA, diversos locais da RH do Paraná registraram vazões baixas a extremamente baixas tanto em 2019 quanto no período chuvoso de 2020/2021, quando foram registradas as menores vazões afluentes (que chegam) a alguns reservatórios representativos da região dos últimos cinco anos. Em Porto Primavera (MS/SP) por exemplo, as vazões afluentes em maio de 2021 foram as menores de todo o histórico de 91 anos.
Quanto aos volumes armazenados nos reservatórios, em 1º de maio, sete dos 14 principais reservatórios de hidrelétricas da região estavam com seu pior nível desde 1999. E os demais estavam com níveis entre os cinco piores desse período.
Mesmo com as baixas vazões que estão ocorrendo, não se espera, num primeiro momento, que ocorram problemas de falta de água para os usos consuntivos, como o abastecimento humano e a irrigação. Isso porque as vazões, ainda que mais baixas, serão suficientes para atender a esses usos em termos de quantidade de água. No entanto, poderão ser necessárias adaptações nas estruturas de captação de água para se adaptarem ao nível, que poderá ficar mais baixo, especialmente nos principais reservatórios da região, evitando a interrupção do seu funcionamento.
Com relação aos usos não consuntivos – como geração hidrelétrica, turismo, lazer e navegação – são esperados impactos em decorrência da redução dos níveis de armazenamento dos reservatórios. No caso do turismo e lazer, por exemplo, já vêm ocorrendo impactos nos reservatórios de Furnas (MG) e Mascarenhas de Morais (MG). E há uma tendência de agravamento desses impactos com a redução dos níveis d’água ao longo do período seco.
Com relação à geração hidrelétrica, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) já reconheceu em sua 248ª Reunião Extraordinária, em 27 de maio, o risco de comprometimento da geração elétrica para atendimento ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Quanto à navegação, também deverá haver impacto devido à redução dos níveis dos reservatórios de hidrelétricas, especialmente sobre a hidrovia Tietê-Paraná, que depende da manutenção de um nível mínimo nos reservatórios de Ilha Solteira (MS/SP) e Três Irmãos (SP). Há uma tendência de redução desse nível com possibilidade de interrupção da hidrovia.
Grupo de Assessoramento
A Resolução ANA nº 77/2021 também instituiu o Grupo Técnico de Assessoramento da Situação da Região Hidrográfica do Paraná (GTA-RH Paraná), que prevê a participação de representantes da ANA e dos estados da Região (Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo). O GT acompanhará a situação e subsidiará as ações de gestão dos recursos hídricos adotadas pelos entes responsáveis, visando a assegurar os usos múltiplos da água.
Região Hidrográfica do Paraná
A Região Hidrográfica do Paraná abrange importantes usos dos recursos hídricos, de relevância socioeconômica, e concentra os principais reservatórios de regularização do SIN, com papel para a manutenção da segurança hídrica da região e da segurança energética do País. Esta Região é composta pelas bacias dos rios Paraná, Paranaíba, Grande, Tietê, Paranapanema, entre outras.
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