Aprosoja-MT lança nova forma de gerenciar riscos a partir do Aproclima
Mato Grosso inaugurou, na sexta-feira (20), um jeito inédito no Brasil de promover o gerenciamento de riscos nas lavouras de soja e milho, através da compilação de dados oriundos da medição meteorológica com estações físicas instaladas em propriedades rurais. Trata-se da plataforma Aproclima, criada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), que analisa e reproduz com inteligência informações meteorológicas fornecidas a partir de todas as regiões do Estado para formação de um banco de dados que subsidiará os produtores na tomada de decisões.
Dados mais precisos fornecidos diariamente por ao menos 33 estações físicas instaladas em propriedades rurais do Estado vêm sendo utilizados para um casamento de informações. Os produtores que aderiram à iniciativa conseguem, através do acesso pela Internet, acompanhar a variação de tempo em sua propriedade e as previsões climáticas. Todos os meses, o informe “Relatório de Acompanhamento Climático” é divulgado com avaliações para o período seguinte.
“O ganho foi muito grande, porque a gente conseguiu programar melhor as coisas, ter uma prévia de como estaria a nossa meteorologia na fazenda e na nossa região. Inclusive alguns vizinhos próximos nos questionavam sobre como estava o resultado, a coleta de dados e a fazenda só ganhou com isso”, relatou a produtora rural Daila Dellai, sojicultora do município de Paranatinga, que há um ano tem a estação física em sua propriedade.
A agricultora também comentou se tratar de um sistema simples de acesso e que proporciona um manejo assertivo. “Acredito ser um projeto que o associado só tem a ganhar para sua propriedade, para sua região. Para otimizar melhor o manejo nas lavouras, nas suas aplicações, ver a questão de umidade no ar, saber mais ou menos o quanto vai chover no dia, o que choveu, a precipitação diária”, exemplificou Daila Dellai.
A Gerência de Defesa Agrícola da Aprosoja-MT, responsável pelo programa, destaca a importância da formação do banco de dados meteorológicos para diversos fatores essenciais à produção de soja e milho em Mato Grosso. Pelo fato de o estado ser dono de biomas variados e microrregiões que apresentam diferenciadas realidades meteorológicas, buscar maior precisão na aferição dos eventos climáticos pode contribuir sobremaneira.
“Quando se tem um histórico de dados, com os ciclos meteorológicos, é possível ter uma visão comparativa desses ciclos para adotar medidas mais assertivas. Mato Grosso é muito grande. Para lidar com as variações de características e conseguir posicionar é preciso um histórico com maior precisão possível, o que temos a partir das estações físicas nas propriedades”, acrescentou o gerente de Defesa Agrícola da entidade, Daniel Pasculli.
O presidente da Aprosoja-MT, Antonio Galvan, reforçou a necessidade da tomada de decisões a partir de dados mais precisos. “A gente espera que seja mais uma ferramenta que venha dar uma certeza maior para o produtor para início do plantio e o que vem à frente. O associado terá acesso, mas pode compartilhar a informação, o que beneficiará em muito os produtores”.
Espera – As primeiras chuvas entre setembro e outubro não podem ser consideradas motivo de entusiasmo para o início do cultivo da soja em Mato Grosso, por serem mais esparsas e sem volume suficiente para evitar uma frustração. Pelo menos esse foi o alerta feito pelo professor PhD em Meteorologia, Luiz Carlos Molion, durante sua palestra de lançamento do Aproclima, na Aprosoja-MT.
“O produtor tem que esperar ela realmente se firmar e, muito provavelmente, isso acontece a partir de novembro. Temos notado que nas últimas semanas já começou a mudar e isso deve se estabelecer. Tem que ter cuidado para não colocar a semente no pó, mas também tem que mudar um pouco a prática agrícola, pois o solo fica compactado com o plantio direto e isso oferece resistência à infiltração da água da chuva”, deu o recado o professor.
Contrapondo à ideia de aquecimento global, Luiz Carlos Molion afirmou que, pelos próximos 10 anos, existe a tendência de um resfriamento do clima no planeta. O especialista se apoia na convicção, a partir de seus estudos, de que o homem não tem, com suas atividades, condições de mudar o clima global.
“O clima global é o que, na realidade, comanda o clima local. É preciso olhar para os grandes controladores do clima global: o sol e a cobertura de nuvens, que influenciam no comportamento dos oceanos, que são a grande fonte de umidade. Essa história de que a umidade vem da Amazônia para o Centro-Oeste é pura mentira. A umidade vem do Atlântico, passa sobre a Amazônia, deixa uma parte lá e segue em frente. A Amazônia não interfere na nossa chuva, o grande comandando é o Oceano Atlântico”, sentenciou Molion.
Por fim, o professor falou da importância do Aproclima e deu sugestões para incrementar a plataforma, como a inserção de outras estações automáticas do Instituto Internacional de Meteorologia e imagens de satélite. “São informações que vão levar o produtor a uma tomada de decisão. E estará na palma da mão. É importante sobretudo para baixar os custos, para deixar de perder”.
São parceiros no programa a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) e o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
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