Mais neve chega a partes do Corn Belt e preocupa produtores americanos

Publicado em 11/04/2019 12:29
Dakota do Sul e Nebraska são alguns dos estados mais afetados; impacto ainda não chega ao mercado

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As chuvas fortes e a neve continuam chegando a diversas partes do Meio-Oeste dos Estados Unidos e preocupando muitos produtores que estão no início da nova safra de grãos do país. De acordo com informações do portal AgWeb, os estados de Nebraska, Iowa, Minnesotta e Dakota do Sul deverão receber pelo menos mais algumas tempestades e precipitações de mais de 100 mm em locais onde há muitos hectares já saturados pela umidade. 

"Ainda estamos nos recuperando do último ciclone e das enchentes. Esta tempestade agora está testando nossa vontade, nosso pscicológico sobre o que faremos com a terra que nos resta", diz o produtor Craig Frenzen, de 55 anos, do Nebraska à Reuters Internacional. 

Segundo os agricultores da região ouvidos pelo portal internacional, os meteorologistas afirmam que o sistema provocou mais chuvas ainda do que eram inicialmente esperadas. E o sistema traz também a neve e prejudica ainda mais o andamento dos trabalhos de campo, ou até mesmo impede que eles sejam iniciados. 

Neve na Dakota do Sul - 10.04.2019

Neve na Dakota do Sul - 10.04.2019Neve na Dakota do Sul - 10.04.2019Neve na Dakota do Sul - 10.04.2019Neve na Dakota do Sul - 10.04.2019Neve na Dakota do Sul - 10.04.2019Neve na Dakota do Sul - 10.04.2019Neve na Dakota do Sul - 10.04.2019Neve na Dakota do Sul - 10.04.2019Neve na Dakota do Sul - 10.04.2019

Neve na Dakota do Sul nesta quarta-feira (10) - Fotos: Twitter do Departamento de Segurança do Estado

Frenzen teve um sexto de sua área devastado pelas inundações de março e, mesmo depois de as águas baixarem, as condições para o uso da terra ainda são impróprias, além de terem um custo de cerca de US$ 500 a US$ 600 por acre para que possam voltar a ser utilizadas. "É de tirar o sono tudo isso", lamenta o produtor, que cultiva soja, milho e trigo e cria gado em sua propriedade. 

A neve chegou também à Pensilvânia e maltratou os animais da região, como mostra a imagem a seguir, publicada por Joe Bastardi, em sua conta no Twitter (@BigJoeBastardi):

Neve na Pensilvânia

As previsões mostram a continuidade dessas tempestades intensas, pelo menos, até o final desta semana. E as preocupações se agravam na medida em que se espera o derretimento de toda esta neve em locais que ainda sofrem os impactos das últimas cheias. 

Ainda segundo meteorologistas, quando essas tempestades se encaminham para o Oeste do Corn Belt nesta quinta e para o vale do rio Ohio a clima severo será uma ameaça ainda maior. 

As previsões mais alongadas mostram que até o final de abril cerca de mais quatro tempestades deverão chegar aos EUA nestas mesmas condições. Contudo, nenhuma área será atingida pelas quatro, o que, por enquanto, é a única boa notícia para os produtores americanos. 

"Para os produtores, algum atraso no plantio será inevitável, pelo menos nos próximos 10 dias. Porém, depois dessa série de tempestades, as previsões mostram um mês de maio mais quente e seco", alerta o analista Mike McGinnis, do portal SuccessfulFarming. 

Os mapas abaixo, do instituto de meteorologia Commodity Weather Group (CWG), mostram temperaturas bem abaixo da média ainda pelos próximos 15 dias, no entanto, as chuvas abaixo do esperado para este período no mesmo intervalo. 

CWG

Já para os próximos 16 a 30 dias, as chuvas deverão voltar para a normalidade, enquanto as temperaturas pemanecerão bem baixas. 

CWG

"Temperaturas invernais e excessos de precipitações definem o padrão meteorológico sobre o Cinturão Agrícola, no atual momento", explica a ARC Mercosul em seu reporte diário. E o que se observa no mapa a abaixo são temperaturas ainda negativas nos próximos cinco dias. 

ARC

Nos mapas atualizados pelo NOAA nesta quinta-feira, as chuvas esperadas para o Meio-Oeste, principalmente a parte mais ao leste da região, continua mostrando volumes bastante elevados para os próximos dias. No mapa a seguir,o esperado para o período de 11 a 18 de abril. As áreas do Delta e do vale do rio Ohio devem receber intensas precipitações

EUA 5 dias

Os modelos para os próximos 6 a 10 e 8 a 14 dias já mostram, no entanto, chuvas abaixo da média para esta época, enquanto as temperaturas seguem baixas, semelhante às previsões do Commodity Weather Group. 

EUA 6 a 10 dias

EUA 6 a 10 dias

Por que essas notícias ainda não impactam no mercado de grãos em Chicago?

Essa é a pergunta que todos estão se fazendo neste momento, principalmente entre os produtores brasileiros. Afinal, há neve - e muita neve - em pleno abril, durante a primavera nos EUA!

Com a apatia instalada nos negócios desde que China e Estados Unidos estabeleceram a mais longa disputa comercial da história recente, alguns acreditavam que essas condições poderiam provocar algum rally na Bolsa de Chicago. O mesmo, porém, ainda não acontece. 

Analistas explicam que parte dessa limitação dos impactos vem dos altos estoques que são registrados nos EUA neste momento, tanto de soja quanto de milho. No último boletim mensal de oferta e demanda, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estadosn Unidos) estimou os estoques finais da oleaginosa em mais de 24 milhões de toneladas e revisou os de milho para mais de 51,6 milhões. E ainda reduziu sua projeção para as exportações norte-americanas do cereal. 

Do mesmo modo, há ainda a questão do calendário de plantio nos EUA e a capacidade de ritmo do produtor americano. 

"A previsão continua chuvosa até o começo de maio e isso vai começar a preocupar quando chegar o final de abril e isso se confirmar, até o fim de maio também", explica Tarso Veloso, diretor da ARC Mercosul. Isso porque a janela de plantio ideal para o milho vai até meados do próximo mês e para a soja, até meio de junho. 

Na sequência, começa a pesar mais a questão da área e das possibilidades de haver uma troca de milho por soja por conta de todas essas adversidades observadas até este momento, uma vez que o grão é plantado antes da oleaginosa nos EUA. 

"No Cinturão Agrícola, após 1 de junho, a probabilidade da troca de milho por soja começa a subir. Aqui na região Central de Illinois, é comum vermos milho sendo plantado. No ano passado, nossa equipe esteve no Tour de Safra em Iowa e foi possível acompanhar dois fenômenos: no começo de junho, foi possível ver uma imensa área de milho sendo semeada. No fim de junho, era a soja que ainda era plantada", completa Veloso.

Daqui em diante, portanto, o clima dita as regras para os produtores americanos, mas disputa espaço no mercado com a guerra comercial entre chineses e americanos. E aí, tudo pode acontecer, por mais clicê que possa parecer. 

Como explica o Ph.D. em agronomia Michael Cordonnier, todo início de primavera traz consigo muitos questionamentos sobre o comportamento do clima no Meio-Oeste americano e, principalmente, sobre a possibilidade de atraso na semeadura dos grãos e impacto sobre a produtividade.

"O ponto-chave, portanto é que os produtores estão preocupados sobre as condições de intensa umidade no Meio-Oeste, porém, há tempo ainda para que essa situação mude. É sempre bom lembrar que o produtor americano pode plantar cerca de metade de seu milho em sete dias de boas condições climáticas", diz Cordonnier. "Em Illinois, por exemplo, eu não ficaria preocupado por mais, aproximadamente, duas semanas. Se chegarmos à quarta semana de abril sem uma melhora significativa nas condições de plantio aí sim podemos começar a especular sobre o potencial de troca de cultura (de milho para a soja), prevent plant e possível redução de produtividade", conclui o especialista. 

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Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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