Tempo: Ocorrência de El Niño deve impactar distribuição das chuvas na safra de verão
As chances de ocorrência de um El Niño para o final de 2018 e início de 2019 chegaram a 70%, segundo informou o Centro de Previsão Climática do NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional), dos Estados Unidos, na última semana. O fenômeno, ainda que com fraca intensidade, tem potencial de influenciar a distribuição das chuvas em plena safra de verão.
"Estamos em uma neutralidade. Por enquanto, o risco de um El Niño é alto para novembro e dezembro e podemos iniciar o fenômeno com uma cara de Modoki [com efeitos mais brandos] por conta da temperatura da costa do Peru, que deve seguir um pouco mais baixa. Depois, a gente segue para um fenômeno mais clássico", explica Graziella Gonçalves, meteorologista da Climatempo.
O fenômeno, apesar de não ser forte como os últimos registrados, tem potencial de alterar a distribuição das chuvas no país. A condição demanda cautela dos produtores uma vez que os trabalhos de plantio da safra de verão já estão liberados desde o dia 10 no Paraná e do dia 15 no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em Goiás e Minas Gerais, o plantio será liberado a partir do dia 30.
As áreas mais centrais do país são as que mais demandam atenção. Algumas chuvas já chegaram até áreas produtores nos últimos dias, mas mapas do modelo americano mostram que a irregularidade deve seguir nos próximos meses. "O Mato Grosso, que é grande produtor de soja, deve ter chuvas muito mal distribuídas e o Mato Grosso do Sul deve receber um pouco mais de precipitações", explica Gonçalves.
Veja o mapa com a precipitação acumulada para o período de 17 de setembro até 03 de outubro:
Fonte: National Centers for Environmental Prediction/NOAA
Veja o mapa de anomalia de precipitação para o mês de setembro:
Fonte: Climatempo
O modelo europeu também mostra chuvas no Brasil central nos próximos dias, mas reforça a má distribuição nas áreas produtoras. Alguns produtores já iniciaram o plantio logo após a autorização em algumas áreas. "É preciso ter cuidado em plantar logo após o fim do vazio porque a safra vai depender se essa chuva vai conseguir cair com bom volume", destaca a meteorologista.
Gonçalves pondera que os produtores devem estar bastante atentos com a previsão e as condições do solo para o início dos trabalhos da safra de verão. Mapa de disponibilidade de água no solo mostra que os volumes são baixos na maior parte do país. "Apesar dos modelos estarem um pouco mais otimistas, pode ser que as chuvas ainda não sejam boas o suficiente para melhorar o solo", afirma a meteorologista da Climatempo.
Veja o mapa de água disponível no solo em todo o Brasil:
As previsões mais estendidas mostram a tendência de que o início de outubro deve ser de mais chuvas, mas a irregularidade ainda deve continuar já que as frentes frias nesse período do ano tendem a ficar mais sobre o oceano do que no continente, segundo a especialista. Em novembro, ainda mais precipitações são previstas e a expectativa é mais otimista, mas com volumes abaixo da média.
"A chuva deve terminar um pouco abaixo da média em novembro, lembrando que a média já é alta, mas o mês tende a ser melhor que outubro com a questão da irregularidade", explica. "O mês de dezembro também tende a ser bom de chuvas, mas a irregularidade vai seguir ao longo da primavera", diz Gonçalves após ponderar que o fenômeno El Niño tende a influenciar na condição das chuvas nos próximos meses no país.
O mapa de previsão probabilística do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), divulgado neste mês de setembro, também mostra uma condição de chuvas abaixo do normal à dentro da normalidade para os próximos três meses (outubro, novembro e dezembro). Áreas de Minas Gerais e Mato Grosso, inclusive, tendem a ter níveis muito abaixo do normal.
Veja o mapa com a previsão probabilística para outubro, novembro e dezembro:
Fonte: Inmet
O El Niño é caracterizado pelo aquecimento das águas da superfície do oceano pacífico e a atmosfera reage. De acordo com informações da agência de notícias Bloomberg, o fenômeno climático costuma causar impactos consideráveis nos mercados financeiros e de commodities.
Em 2015, por exemplo, um grande evento de El Niño prejudicou as produções de cacau, chá e café em toda a Ásia e África, além de favorecer incêndios florestais em Singapura e inaugurou o inverno mais quente já registrado nos Estados Unidos, sufocando a demanda de gás natural no país.
Anomalias médias da temperatura da superfície do mar (TSM) (° C) nas últimas semanas - Fonte: The Climate Prediction Center/NOAA
No mês passado, o Centro de Previsão Climática havia estimado as chances de o El Niño se instalar em 65% durante o outono e 70% durante o inverno [no hemisfério Norte]. Os números não mudaram na nova atualização, divulgada em 13 de setembro.
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