Mais de R$ 500 mi em jogo: Exportadora Manga Coffee Corporation (MCC), que não pagou produtores, deve apresentar plano estratégico nesta semana
Mais de 500 milhões de reais. Esse é o valor estimado que produtores de café de diversas regiões de Minas Gerais deixaram de receber desde que a Manga Coffee Corporation (MCC), exportadora de café com base em Varginha/MG, começou a entrar em crise financeira ainda em 2023. O caso, que tomou proporção no ano passado, chegou a ser pauta em uma audiência na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados em Brasília.
Com mais de dez anos de atuação no sul de Minas Gerais, a empresa operava no mercado futuro, garantindo aos produtores o diferencial da contratação futura com a opção de alteração do preço da saca de café, caso as cotações apresentassem alta na Bolsa de Nova York (ICE Futures US).
O que de fato aconteceu. Desde a safra 20 - a última recorde para o Brasil em termos de volume e qualidade, o produtor de café vivencia uma verdadeira montanha-russa nos preços. A seca intensa, seguida de geada nas principais áreas de produção de arábica elevaram os preços da saca de café a patamares históricos e diminuíram os estoques mundo afora.
Em julho de 2023, começaram os problemas para os produtores de café. As sacas foram entregues à MCC, mas os pagamentos não foram realizados desde então. De acordo com dados divulgados durante a audência em Brasília, os contratos superam os 500 milhões de reais.
O Notícias Agrícolas conversou com alguns desses produtores, que alegam, inclusive, que além de não receber pelos cafés já entregues, também não conseguiram a devolução do produto. Com a alta nos preços, muitos produtores travaram vendas para 2024 e 2025, o que traz um novo agravante já que eles estariam sendo cobrados à fazer a entrega dos cafés. O banco de dados do portal mostra que neste período, Nova York ainda estava sendo negociada a 162,50 cents/lbp, o que na cotação da época se aproxima de R$ 1.031,00. Você pode conferir o histórico de cotações aqui.
Os impasses para recebimento atingem produtores com participação em todo parque cafeeiro de Minas Gerais. Zona da Mata de Minas e Mantiqueira foram as primeiras regiões a terem produtores cobrando por respostas.
"Aqui na região são em média umas 20 pessoas que têm café com a exportadora, entre produtores e vendedores. O impacto é grande na vida de cada um de nós. Muitos tiveram que fazer financiamento para manter a vida ou para dar continuidade em negócios já firmados antes", afirma uma produtora da região da Mantiqueira ao portal, que pediu para não ser identificada.
Do sul de Minas Gerais, uma cafeicultura afirma ter negociado 100 sacas de café com a empresa em 2022, e só recebeu 30% dos valores acordados até o momento. Um grande número de produtores já entrou com processo contra a exportadora e aguarda pela decisão da justiça. Segundo dados divulgados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), centenas de produtores se encontram sem condições de cumprir os contratos, obrigações com agentes próprios e devem sentir dificuldades para custear a próxima safra.
O Notícias Agrícolas teve acesso a uma extensa lista com nomes dos produtores e conversou diretamente com produtores e advogados para avaliar os impactos que o prejuízo pode trazer para o principal estado produtor de café do Brasil. Como o processo ainda está em andamento, os produtores foram orientados a não autorizar a publicação dos contratos.
Fazendo jus ao perfil produtor do Brasil, a lista conta com nomes de pequenos, médios e grandes produtores. Existem produtores que negociaram entre 100 e 150 sacas, mas também há relatos de negociações que ultrapassam 1 mil sacas em julho de 2023.
A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar o caso. De acordo com o boletim de ocorrência registrado por três produtores, a empresa negociou a venda de 89,5 mil sacas de café, segundo relatos enviados também para a EPTV - Sul de Minas Gerais. Apenas para os três produtores que registraram o BO o prejuízo é de cerca de R$ 73 milhões. No total, o valor pode chegar a R$ 300 milhões.
"Atualmente, os credores citados na primeira lista constante no Edital publicado em 31 de janeiro de 2024 no saguão do fórum de Varginha, estão aguardando a fluência do prazo de 45 dias corridos para o Administrador Judicial publicar um anúncio contendo local, prazo comum e as pessoas/credores para terem acesso aos documentos que fundamentam a elaboração dos que receberam primeiramente os pagamentos", explicou a advogada Edna Bianchini, que representa produtores de café, ao Notícias Agrícolas.
O QUE DIZ A EXPORTADORA
Representada por seu corpo jurídico, a Manga Coffee Corporation (MCC) reconhece os problemas e afirma que está trabalhando em plano de ação para regularização das pendências juntos aos produtores. Em outubro do ano passado, a empresa entrou com uma tutela para antecipar os efeitos em recuperação judicial e obteve um prazo para elaboração de pagamento.
De acordo com Nayara Alves Pereira, advogada que representou a MCC e atendeu o Notícias Agrícolas, o prazo termina no próximo dia 21 e o caso deve ganhar novos rumos nas próximas semanas. Mesmo com o pedido de recuperação jundicial, a empresa continua em pleno funcionamento.
A empresa justifica que os problemas começaram com a quebra das safras 21 e 22. Com a quebra na produção, menos café foi entregue. "A empresa sofreu com o período de seca, arcando com prejuízos. Tiveram alguns atrasos no pagamento e em 2023 houve um boato que a empresa não iria realizar os pagamentos e agravou a situação", afirma.
Boa parte dos produtores já acionou a justiça em busca de soluções, mas de acordo com a porta-voz, a empresa está aberta para negociação e avalia cada caso de forma particulada. Questionada sobre o paradeiro das sacas que já foram entregues pelos produtores sem a totalidade dos pagamentos, a empresa alegou que continua em contato com os importadores de café para negociação.
O plano de pagamento deverá ser apresentado nesta semana e precisa também ser aceito pelos produtores. Caso a empresa não cumpra com as datas e pagamentos, a justiça pode declarar a falência da empresa.
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