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Com chuvas abaixo da média nas principais áreas do Brasil, setor cafeeiro inicia mais um ano repleto de dúvidas na produção

Publicado em 04/01/2024 12:34 e atualizado em 04/01/2024 17:44
Adubações estão atrasadas tanto no arábica e no conilon, e "supersafra" estimada anteriormente pelo mercado fica cada vez mais longe da realidade

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O mercado do café há alguns meses vem operando com a expectativa de uma recuperação do Brasil. A safra de 2023 já foi mais positiva, com 55,1 milhões de sacas de acordo com os números oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para o ciclo em desenvolvimento, no entanto, apesar de existir um consenso de que a safra 24 tende a ser maior, as chuvas continuam abaixo da média histórica nas principais regiões produtoras do país e é muito difícil que uma "supersafra", conforme estimada pelo mercado, de fato aconteça. 

Segundo dados que circulam nas redes sociais e posteriormente confirmados pelo Notícias Agrícolas, no sul de Minas Gerais, no mês de dezembro, as chuvas ficaram 37,12% abaixo da média esperada. O cenário se repetiu no Cerrado Mineiro, com 48,80% abaixo do esperado, São Paulo teve 40,51% a menos de chuva e Zona da Mata pelo menos 40%. 

Alysson Fagundes, engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, confirma que a chuva foi muito desuniforme, ficando muito abaixo da média o que já traz um problema irreversível para o tamanho de peneira e peso dos frutos. "Agora, o tamanho disso, é algo que ainda precisa analisar melhor. O ponto pior é onde tem mais café, o Sul de Minas frio. Já no Sul de Minas "quente" o volume de chuva foi um pouco melhor, mas é a região que tem menos café no Sul de Minas", afirma o especialista. 

Com relação aos tratos culturais, o especialista afirma que as aplicações estão todas atrasadas. Sem chuva e com temperaturas elevadas, o cenário também favoreceu a incidência do bicho mineiro nas áreas de atuação da Procafé.  Fagundes afirma que o produtor ainda tem tempo para conseguir fazer as aplicações dentro do prazo ideal e minimizar os impactos de agora em diante. 

No Cerrado Mineiro, região que produziu além do esperado no ano passado, as condições atuais das lavouras também trazem muita preocupação. Ainda sem falar em números, Sérgio de Assis, lembra que os principais reservatórios estão com volumes abaixo do ideal, mesmo com a chegada das chuvas nos últimos dias. 

"Agora também estamos observando muita queda de chumbinho, ainda não dá para medir o tamanho do impacto, mas já estamos em estado de alerta", afirma. Assis também destaca que as chuvas de agora não recuperam o potencial para este ano e que as altas temperaturas e a irregularidade das chuvas também já trazem preocupação para a safra de 2025.

"O estado fisiológico da planta não volta, não tem jeito. As lavouras de sequeiro principalmente, têm uma condição bem triste. O irrigado sempre consegue segurar mais, mas a planta não teve crescimento normal e vai refletir na safra 25", afirma. Os tratos culturais no Cerrado já contabilizam até 60 dias de atrasos em algumas áreas. 

 

Safra 25 Cerrado Mineiro
Produtores registram queda de chumbinho no Cerrado Mineiro 

No Sudoeste de Minas Gerais as chuvas também começaram a chegar, trazendo alívio para o processo de enchimento de grãos. Fernando Barbosa, afirma que após uma intensa queda de chumbinho, o cenário passou a ser mais positivo, mas que a safra não deve ser tão cheia quanto o esperado anteriormente. "Porém é sabido que vamos ter uma safra desuniforme, isso é fato", afirma. 

Com os efeitos do El Niño alterando o regime de chuvas no Brasil, as áreas de conilon do Brasil também sentem de forma significativa as irregularidades climáticas. José Carlos Gava Ferrão, produtor de café, engenheiro agrônomo e consultor em café com atendimento em áreas da Bahia e do Espírito Santo comenta que as chuvas chegaram, mas apresentando uma alta irregularidade. 

"Tem dado chuvas em um local e as vezes pertinho, coisa de 1km até 10km de distância, não chove. E as perdas já são enormes e não recupera mais, mesmo voltando a normalizar as chuvas. Grão caído não volta mais para o pé, grão chocho não se recupera mais. O grão vai ficar menor e mais leve e a planta deixou de crescer os ramos  ortotrópicos e plagiotrópicos para a safra a ser colhida em 2025. Então, afeta 2 safras", afirma. 

De acordo com o especialista, as condições são desfavoráveis tanto nas lavouras do Espírito Santo e também da Bahia. "Na Bahia, na minha propriedade, em 118 dias choveu 95mm, a evapotranspiração passou de 600mm, um déficit de 500mm e temperaturas altíssimas", relata. 

A adubação também está atrasada em boa parte das propriedades, o que vem resultando em alta incidência de cochonilha e consequentemente alta queda de frutos. "E mesmo com irrigação e chuvas, muita queda de frutos neste momento, reflexo das altas temperaturas. Imagino que na média, a queda de produção no conilon na Bahia e Espírito Santo vai passar de 30%. Isso se o clima se normalizar. Se não tivesse tido a seca e altas temperaturas a produção seria grande visto que as lavouras saíram da colheita ( julho ) muito bonitas. Tínhamos esperança de recuperar um pouco as grandes perdas que tivemos nesta safra de 23", finaliza. 

MERCADO 

O produtor de café continua trabalhando com um mercado extremamente nervoso e volátil. Se de um lado existe a preocupação com a safra, do outro, a previsão de chuva pressiona as cotações em Nova York e em Londres. A primeira semana de janeiro está sendo marcada por bastante instabilidade e com os negócios na casa entre 185 e 190 cents/lbp para o arábica. Em Londres, operadores monitoram a colheita do Vietnã - que se desenvolve bem após desafios no início dos trabalhos e o conilon opera com estabilidade após registrar grande variação nas últimas semanas. Os produtores, nas principais origens mundo afora, aguardam para ver o resultado da produção e fecham negócio a medida que precisam fazer caixa. 

 

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Por:
Virgínia Alves
Fonte:
Notícias Agrícolas

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