França conhece sustentabilidade, rastreabilidade e eficiência da cadeia produtiva dos cafés do Brasil
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), por meio de uma parceria estratégica com o “Rio Coffee Nation”, participou de mais uma edição do “Paris Coffee Show”, principal evento cafeeiro da França, que contou com mais de 80 expositores e cinco mil visitantes, reunindo, entre 9 e 11 de setembro, todos os players do setor no Parc Floral da capital francesa.
Além da realização de diversas reuniões no estande do Brasil, o Cecafé foi convidado a palestrar em dois painéis estratégicos de sustentabilidade. No primeiro, o tema foi “Promoção justa da produção de café: os desafios para produtores e importadores de café verde”, que contou com a participação do diretor-geral da entidade, Marcos Matos, e de representantes de instituições como World Coffee Research, CIRAD, das empresas francesa Belco Coffee e da chinesa RSE Kefei Café, além da cooperativa camaronesa de produtores de café em agroflorestas Terra Noun.
De acordo com Matos, com a divergência de atores da cadeia global da cafeicultura e com torrefadores presentes na plateia, essa foi uma excelente oportunidade para o Brasil apresentar sua incessante busca por eficiência na cadeia produtiva, alinhando produtividade com sustentabilidade.
Em sua explanação, ele destacou a eficiência do setor cafeeiro brasileiro por meio dos dados do IPEP Cecafé, índice que mede a transferência de preço Free on Board (FOB) da exportação aos produtores, de análise do IDH Municipal para as regiões produtoras e do balanço de carbono na atividade. “Atendendo a uma solicitação, fizemos uma explanação sobre a diversidade de regiões e o avanço nos sistemas de produção e na eficiência da cadeia produtiva, como continuidade dos debates que o Cecafé participou na edição anterior do Paris Coffee Show”, revela.
O diretor-geral do Conselho também realçou a organização do setor no Brasil, os avanços nas discussões sobre a rastreabilidade, com destaque para a Plataforma de Rastreabilidade Cecafé – Serasa Experian, assim como respondeu a perguntas sobre a importância do mercado interno brasileiro como indutor do balanço de mercado entre as forças de oferta e demanda.
A gerente de Administração Executiva e Membros da World Coffee Research, Maud Nicolas, falou a respeito da importância de estudos e levantamentos que tenham credibilidade e, nesse sentido, salientou o papel de liderança que o Brasil possui e os avanços que o país desenvolve voltados a esse direcionamento.
Já a gerente de Responsabilidade Social Corporativa da chinesa Kefei Café, May Du Xinmei, explicou os trabalhos que realizam no mercado interno, com destaque na província de Yunnan, e as ações e operações em outros países, além de destacar que os cafés brasileiros crescem em representatividade na China. “Tanto que, em conversas posteriores, ela demonstrou interesse em fazer uma visita a diferentes regiões produtoras no Brasil com vistas a ampliar o conhecimento da produção sustentável e provavelmente ampliar relacionamento e negócios”, informa Matos.
No segundo painel, voltado a “Agrofloresta e sistemas sustentáveis”, foram apresentados exemplos de iniciativas relacionadas à agricultura regenerativa na Índia, Brasil e Peru. O debate contou com a contribuição de diferentes organizações, como a Alliance for the Preservation of Forests (AFP); a NGO Envol Vert, com atuação para proteção de florestas e biodiversidade na América do Sul e na França; o Instituto Nacional de Investigaciones Forestales, Agrícolas y Pecuarias (INIFAP) do México; a francesa L’Arbre à Café; a francesa Cupping Club; a CIRAD; além do Cecafé.
“Demonstramos os avanços da cafeicultura brasileira, a diversidade de regiões e de ambientes de produção, qualidades e sustentabilidade. Pontuamos que a cafeicultura brasileira passou por um processo de intensificação sustentável, com aumento de produtividade e redução de área, que foi possível devido à existência de um ambiente facilitador no país, que permite o acesso a serviços técnicos e financeiros integrados pelos cafeicultores, sejam pequenos, médios ou mais estruturados, que apoia a transferência e a implantação de práticas sustentáveis, as quais regeneram solo, estocam carbono, garantem alta produtividade e renda próspera aos produtores”, revela Matos.
O diretor-geral do Cecafé completa que, como suporte a esse sistema, destacou que há uma rede integrada de pesquisa cafeeira, com o Consórcio Pesquisa Café, que orienta a evolução da cafeicultura brasileira com base na ciência. “Na ocasião, apresentamos resultados de pesquisas do cultivo consorciado com braquiária e gliricídia, que elevou os níveis de carbono no sistema solo-planta. Também foram demonstrados os consórcios em desenvolvimento com mogno africano, macadâmias, pupunha, banana, entre outros, resultados das pesquisas alinhados às três dimensões da sustentabilidade: ambiental, social e econômica”, explica.
Segundo Matos, essas tecnologias e práticas agrícolas validadas pela pesquisa aprimoram as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, o que se reflete em mais carbono extraído da atmosfera, via fotossíntese, e estocado nas plantas e no solo. Ele adiciona que o projeto de balanço de carbono promovido pelo Cecafé e executado por Imaflora e Esalq/USP quantificou a adição de carbono resultante da transição de sistemas produtivos mais tradicionais para aqueles que adotam práticas mais conservacionistas, com sequestro potencial de -10,5 toneladas de carbono e equivalentes por hectare de café cultivado.
“Tudo o que demonstramos aflora que a cafeicultura a pleno sol, com boas práticas agrícolas, gera benefícios ambientais no Brasil, pois mais sequestra gases de efeito estufa em relação ao que emite na atmosfera. Todo esse estudo tem sido feito para a futura estruturação da primeira plataforma de créditos de carbono no café, a partir da validação e do reconhecimento da metodologia, que vem sendo desenvolvida pelo Cecafé e parceiros”, conta o diretor-geral da entidade.
Com um olhar para o futuro, ele conta que o Brasil está estudando os aprimoramentos dos sistemas de produção frente aos desafios decorrentes das mudanças climáticas, em especial os extremos de temperaturas. “Dessa forma, a pesquisa brasileira vem evoluindo na avaliação e na validação de sistemas integrados na produção de café, envolvendo cultivo sombreado, associado a espécies florestais e de aproveitamento econômico”, finaliza.
Além dos painéis de debates, reuniões e cuppings no estande, o Brasil ainda segue atuando no mercado francês por meio da exposição “Cafés do Brasil”, com curadoria do Museu do Café e realizada em parceria com a Embaixada Brasileira em Paris e o Cecafé, a qual expõe história, qualidades e sustentabilidade do produto a diversos públicos.
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