Robustas Amazônicos: Com pacote de tecnologia, RO amplia produtividade em mais de 500% e reduz área em mais de 70%
Maior produtor e exportador de café do mundo, o Brasil conta com mais de 30 regiões produtoras e as lavouras de café cruzam o país de norte a sul, apesar da maior concentração do parque cafeeiro estar localizada no Sudeste do Brasil.
Entre as mais diversas origens produtoras, o avanço da produção dos robustas amazônicos em Rondônia chama atenção não só pelo volume, mas principalmente pela resposta do campo às tecnologias e sustentabilidade aplicadas pelo produtor do estado.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para a safra em curso estão previstas 3,1 milhões de sacas no estado. Mas, traçando uma linha do tempo do avanço da produção de café na região nos últimos anos, os números são ainda mais significativos.
Em 22 anos, o estado de Rondônia teve uma redução de 75% de área, mas registrou aumento de 64% na produção e o aumento de 518% na produtividade dos robustas amazônicos, de acordo com dados oficiais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Acompanhando de perto a produção no estado nas duas últimas décadas, o pesquisador da Embrapa, Enrique Alves, explica que há 20 anos a produção se aproximava de 2 milhões de sacas no estado. A área que já chegou a ter mais de 300 mil hectares destinados a cafeicultura, atualmente conta 70 mil hectares.
No passado, com padrões de uma "agricultura extrativista" a produtividade média por hectare não ultrapassava 10 sacas por hectare, número considerado muito abaixo do ideal para as características dos cafés caneforas. Atualmente a produtividade média é de 48 sacas por hectare, com destaque para produtores que investiram pesado na tecnologia podem chegar a 100 sacas por hectare.
VIRADA DE CHAVE
Para o pesquisador, a primeira virada de chave na produção de café no estado foi o incremento de materiais genéricos superiores. "O café na Amazonia começou com o arábica, não é o ambiente favorável, mas na década de 70 quando vieram os imigrantes, mas na mesma década de 70 começou a ser substituído pelo conilon e viram que o espécie capixaba era mais adequado que o arábica", comenta. A substituição para outras espécies aconteceu devido às condições climáticas mais favoráveis para este tipo de produção.
O especialista explica ainda que dentro do grupo da espécie Coffea canephora existe a variedade botânica conilon e variedade botânica robusta, e em Rondônia a variedade botânica de conilon que já estava nas lavouras, levadas por migrantes capixabas, começou a se misturar naturalmente com a variedade robusta, o que acabou gerando híbridos. Na reta final dos anos 80 e início da década de 90, os produtores começaram a implementação dos robustas com materiais genéticos enviados pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
"Esses híbridos tinham mais características de robustas do que de conilon, seja por seleção de ambiente ou do próprio cafeicultor. O produtor foi vendo que esses materiais eram mais produtivos, as plantas mais rigorosas e os frutos grandes, que são características das plantas de robustas", explica.
A planta do robusta necessita de mais água, o que tornou a produção viável e altamente produtiva no estado. São essas características que foram importantes para a denominação como "robusta amazônico", já que além de ter as características robustas também foi inserido em terroir amazônico.
"Nada dessa parte genética foi planejada. Foram as ações e as coisas foram acontecendo. Podemos falar que essa foi a primeira virada de chave, a genética extremamente superior e adequada para os robustas amazônicos", afirma.
Nos anos 2000 uma nova etapa começou para a produção: a clonagem. Diferente do arábica, a propagação das plantas de canephora, esse trabalho é feito através de mudas, por estaquia - que foi a técnica que trouxe mais relevância para a produção. A identificação realizada pelos próprios produtores foi crucial para que a ação desse certo.
"Não só a Embrapa selecionou o material genético, mas o produtor de forma empírica foi selecionando, então a clonagem foi uma grande virada de chave. A primeira foi a mistura conilon e robusta, que são hoje os robustas amazônicos, a segunda foi a clonagem e a terceira foi um pacote tecnológico", afirma.
Nesse pacote, o pesquisador destaca a implementação da irrigação, nutrição de plantas, manejo da poda como as principais ações tomadas pelo produtor. "Esse manejo baseado na poda programada, irrigação e correção de solo trouxe um rearranjo espacial. Essa combinação de fatores só é possível em lavouras tecnificadas. Todo esse pacote culminou na cafeicultura que a gente tem hoje", diz.
Voltando a falar sobre a média de produtividade por hectare, o pesquisador afirma que aquele produtor que faz o mínimo do que é pedido pela planta naturalmente já alcança a média de 40 sacas por hectare, mas que aquele que realiza o manejo de poda pode chegar a 80 e aquele que adere o "pacote completo" já tem média entre 130 e 150 sacas por hectare, podendo chegar a 180 sacas em alguns casos pontuais.
"A gente costuma falar para os cafeicultores que se você estiver usando pacote tecnólogico e não tiver o mínimo de 100 sacas por hectare, tem alguma errada acontecendo", explica.
A redução de área aconteceu de forma natural diante de uma crise de preços que o produtor enfrentou nos anos 2000. "Tinham lavouras que não se compensava manter, então isso foi um motivo muito forte para essa redução de área a partir de 2001", comenta.
No período da crise, muitos produtores migraram para outras culturas, além de muitos produtores terem migrado para áreas urbanas em busca de outras oportunidades. "Já chegamos a ter quase 30 mil famílias produzindo café, hoje nós temos 17 mil famílias. Foi ficando aquelas pessoas que tinham café como filosofia de vida, que foram apostando em tecnologia. Hoje em Rondônia, nem nos indígenas você tem lavouras com 10 sacas por hectare, evoluiu bastante e essas pessoas que evoluíram permaneceram", finaliza.
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