Rabobank: Oferta restrita de café pode estar sendo compensada por consumo mais lento nos principais polos
Os estoques de cafés certificados na ICE continuam sendo um grande destaque do mercado de café, que desde os últimos dias de dezembro opera com desvalorização na Bolsa de Nova York (ICE Future US).
Após as baixas históricas nos volumes registradas nos últimos dois anos, o estoque de café certificado na ICE vem se recuperando, de forma mais lenta do que foi a queda, mas além de pressionar as cotações e impedir avanços nos preços, para o analista de mercado Guilherme Morya, do Rabobank, os números atuais também acendem alerta para o consumo de café. Atualmente a ICE conta mais de 800 mil sacas certificadas, mas há ainda mais de 200 mil sacas pendentes de avaliação.
Com a economia ainda se recuperando dos reflexos da Covid-19, os índices de inflação dos Estados Unidos e a crise instalada na Europa, o Rabobank acredita que o consumo global de café no próximo ciclo vá avançar apenas 1,6%, contra os valores de até 2,5% que normalmente são observados no mercado.
"Existia uma preocupação nos principais polos consumidores de café e isso tudo vem gerando uma preocupação porque se você está exportando menos café e os estoques vêm aumentando, significa que na outra ponta está tendo um consumo mais limitado de café", comenta o analista.
O combo "estoque+consumo" é justamente o que vem pressionando as cotações. Diante de um cenário de incerteza também na economia global, assim como o potencial do Brasil na produção de café no ano que vem, Guilherme não acredita em recuperação expressiva nos preços no curto prazo, mas não descarta possibilidade de boas oportunidades de negócios, indicando que o produtor deve ficar atento para novos negócios.
Estados Unidos e Europa, justamente os dois principais destinos dos cafés do Brasil são polos consumidores que vem sentido alguma limitação econômica.
"Tudo acaba se interligando. Você tem uma inflação alta, economia crescendo menos, é natural que, especialmente o consumo fora do lar, acabe sendo impactando. O café de arábica sofreu um pouco mais do que o robusta, isso é um sinal que neste momento está tendo menos demanda, do que o robusta que neste momento está sendo incorporado nos blends, não só do Brasil, mas também mundo afora", comenta.
Exportação ditando ritmo do mercado até entrada da nova safra
A Colômbia divulgou nesta semana a confirmação da safra 22 com volumes abaixo de 12 milhões de sacas, consequência do fenômeno climático La Niña. O cenário impactou também as exportações do país vizinho, que encerrou o ano com queda de 8% no último ano.
Agora, o mercado aguarda pelos números do Brasil, a serem divulgados nos próximos dias pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Segundo Morya, será um termômetro importante para a direção dos preços nas próximas semanas e principalmente para entender quanto o mercado vem demandando do Brasil.
"A gente teve uma safra frustrada ou abaixo da expectativa e nós vemos que nossos vizinhos também não estão performando bem. Existe uma margem, a partir momento que quando a gente começar a ver uma baixa nas exportações brasileira, começar a ver uma queda mais acentuada talvez os preços reajam um pouco mais neste momento. Afinal estamos falando que não vai ter uma queda no consumo, e sim que vai crescer menos o consumo, então acho que terá uma margem até a entrada da próxima safra. Mas, de novo, vai depender muito das exportações de café e as condições aqui do Brasil", finaliza.
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