Problemas climáticos nas principais origens, NY em baixa e mercado travado: Produtor de café segue vivendo verdadeira montanha-russa
As adversidades climáticas continuam tirando o sono do produtor de café arábica do Brasil. Após duas safras frustradas respondendo à seca prolongada e às geadas, a preparação para 2023 começou com novos desafios para o cafeicultor na principal região produtora do país: O parque cafeeiro foi duramente afetado por uma queda de granizo e estima-se que pelo menos 30 municípios no sul de Minas Gerais terão algum tipo de prejuízo no ano que vem.
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Lideranças da região afirmam que ainda é cedo para falar em quebras, mas existe certo consenso que a safra de 2023 pode não ter o potencial projetado até aqui pelo mercado. O Brasil, enquanto maior produtor e exportador de café do mundo, fica literalmente no "olho do furacão" nas negociações na Bolsa de Nova York (ICE Future US), mas o que chama atenção é que os problemas climáticos seguem afetando também outras importantes origens produtoras, como por exemplo, Colômbia e Honduras.
Ainda assim, com os impactos climáticos no Brasil e as preocupações com a oferta no radar, as cotações em Nova York vivem outro momento e há algumas semanas registram baixas significativas. Em um mês, o contrato março/23 recuou 22% no mercado futuro, refletindo a mesma baixa no mercado físico e os negócios estão travados.
Diante deste cenário, o produtor de café tem questionado as movimentações dos últimos dias. Archimedes Coli Neto, presidente do Centro do Comércio de Café do Estado de Minas Gerais (CCCMG), explica, no entanto, que para entender a atual dinâmica do mercado é preciso desvincular os preços aos acontecimentos recentes no Brasil.
Neste momento, segundo o presidente, o mercado entende que apesar da safra com volume baixo em 2022, as exportações brasileiras levaram certa sensação de tranquilidade em relação ao abastecimento. Os dados oficiais do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), referente ao mês de outubro, reportaram embarques de 3.4 milhões de sacas.
"Se esperava uma exportação mais baixa a partir do mês de agosto, mas isso não aconteceu. O café que estava em estoque começou a entrar no mercado e isso acaba mandando essa mensagem que o abastecimento mundial está sendo feito, o mercado se sente confortável para não fechar novos negócios", afirma.
Além desses fatores, Archimedes explica que é preciso levar em consideração os impactos da guerra podendo gerar uma recessão global, os dados de inflação dos Estados Unidos e principalmente uma demanda mais fraca neste momento.
O que chama atenção é que na teoria, o Hemisfério Norte estaria se preparando para o inverno e o mercado deveria ter mais fluidez, mas todos esses fatores têm deixado o mercado "neboluso" e com poucas negociações. "O mercado está apático, sem vislumbrar os possíveis problemas no futuro. Essa demanda não está vindo, torrador está comprando de pouco e pouco, é um mercado invertido que também é muito difícil", comenta.
Acrescenta ainda que esse mercado totalmente travado não é positivo para nenhuma ponta da cadeia. Se o comprador escolhe por fechar negócios de forma mais cautelosa, o produtor vivenciando as dificuldades climáticas, também opta por não vender. "É ruim para todo mundo. Ruim para o exportador, torrefador e também para o produtor", comenta.
MERCADO PODE VIRAR SÓ EM 2023
Com relação aos problemas registrados nesta semana pelo cafeicultor brasileiro, Archimedes acredita que o mercado deva precificar apenas no primeiro trimestre do ano que vem, período em que será possível avaliar os impactos na produção com mais assertividade. "O prejuízo já é realidade, mas quantificar nesse momento é impossível. Teremos uma visão melhor no campo a partir de fevereiro e aí sim esses fatores podem mudar o rumo do mercado, até lá é preciso muita paciência", afirma.
Para o produtor a orientação continua sendo de cautela. O momento agora é de emissão dos laudos para aqueles que foram prejudicados e principalmente fazer uma revisão de custos, lucros e garantir que a gestão seja eficiente para os próximos anos. "O produtor tem que continuar atento, fazer sua margem. Cada um tem que fazer a sua conta, sua análise. Com relação ao custo de produção, isso vai depender de cada produtor, mas precisa continuar atento", finaliza.
OUTRAS ORIGENS PRODUTORAS
Vinte e oito meses seguidos de chuva. Essa é a realidade do produtor de café arábica na Colômbia. Enquanto no Brasil os efeitos da Li Niña se refletem em seca prolongada, no país vizinho o excesso de chuva é o que vem prejudicando a produção. Em 2021, a produção da Colômbia ficou em 12,6 milhões de sacas. O volume representou 9% de queda em relação ao ciclo anterior, de acordo com dados oficiais da Federação Nacional dos Cafeicultores (FNC).
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Para esse ano, o cenário não é muito diferente e a FNC já informou que a produção não deve ultrapassar as 12 milhões de sacas, o que significa dois milhões de sacas a menos do que o projetado anteriormente. A FNC explica que, nesta semana, inclusive as chuvas voltaram atingir algumas áreas de produção do país. "Chove em todas as áreas do país e em cada semana em uma região produtora", diz a FNC.
O excesso de chuva prejudicou o parque cafeeiro e o setor emitiu chamado urgente para renovação das lavouras no país vizinho. Os dados divulgados mostraram que a área de lavouras renovadas no país vizinho teve redução de 30% em comparação com os últimos anos. "Hoje temos cerca de 130.000 hectares reformados (idade menor ou igual a 24 meses) do parque cafeeiro colombiano, quando tivemos que ocupar cerca de 168.000 hectares", afirma a FNC.
Chama atenção ainda para que os produtores fiquem atentos porque parte da produção de 2024 deve partir dessas áreas. Além de volumes ainda mais expressivos esperados nas colheitas de 2025 e 2026 respectivamente.
HONDURAS
O Notícias Agrícolas também conversou com uma liderança do setor cafeeiro de Honduras - tradicional fornecedor de cafés certificados na ICE. Segundo Omar Funez, Secretário-Geral da CONACAFE Honduras, a colheita começou no último dia 1º de outubro e com bastante preocupação devido a passagem da tempestade Júlia que levou muitos problemas nas áreas de produção.
Ele afirma que apesar do volume de chuva e a umidade do solo ser positivo para a produção, o excesso de chuva acabou resultado em alta incidência de ferrugem, problema que o cafeicultor hondurenho vem enfrentando nos últimos anos. "A passagem da tempestade Julia trouxe problemas nas plantações e também na infraestrutura na zona cafeeira", comenta. Relembra ainda que o setor ainda se recuperava de dois furacões o país em 2020.
Antes dos inúmeros desafios climáticos, Honduras projetava uma produção podendo chegar próximo de sete milhões de sacas no ano que vem, mas diante deste cenário, do incidência de doenças e momento de preço baixo para o produtor, os números estão sendo revisados pelo setor, além de ressaltar que neste momento as chuvas deram pausa no país, o que deve ajudar avançar com a colheita que deve atigir seu pico nas próximas semanas.
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