Vida gerando vida e a cafeicultura gerando desenvolvimento social e reconhecimento de quem está no campo

Publicado em 22/10/2022 12:57 e atualizado em 24/10/2022 09:14

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“A minha experiência com a cafeicultura foi no sentido de que é possível que a sua habilidade seja valorizada inclusive em um ambiente tão consolidado e tão tradicional. A minha expectativa é que ela possa criar e ter a habilidade de executar, causando algum impacto na vida das pessoas. O que eu espero poder passar para uma geração futura é que ela tenha capacidade e isso seja genuíno, a capacidade de olhar para o outro”. 

A fala é de Carolina Vono Alckmin, uma das 100 mulheres mais poderosas do Agro em 2021 da Forbes, que trabalha nas Entrelinhas do Cafezal e se refere à Luísa, sua primeira filha que deve chegar em janeiro de 2023 e ser a primogênita da sexta geração da família que produz cafés especiais na Mantiqueira de Minas Gerais.

Carol Alckmin (11)

 

Com as emoções à flor da pele e à espera da pessoa que com certeza receberá o título de “amor da sua vida”,  Carol começa a contar a própria história de uma forma que nos mostra que o café é realmente feito com muito afeto nessa família e que dessa vez, foi ela quem escolheu trabalhar com cafeicultura sempre com o objetivo de ajudar na desenvolvimento social de quem está no campo e valorização dos profissionais que fazem o Brasil ser a potência que é na produção de café. 

 “Eu me casei com o agronegócio. A minha família de origem não é do agro. Eu me casei com o Lucas (Alckmin) que vem da família do agronegócio. Ele é a quinta geração, a Luísa vai ser a sexta se ela quiser e eu entrei para trabalhar com o café na família”, conta. 

Carol Alckmin (12)

Natural de Santa Rita do Sapucaí,
Minas Gerais, antes de trabalhar com café, Carol e Lucas tem uma história que já dura 20 anos. Ele, a quinta geração de uma família produtora, que seguiu a vida profissional trabalhando no setor financeiro, mas que se reconectou com o café em uma visita à fazenda da família, buscando dias mais tranquilos diante da vida corrida em São Paulo, ao mesmo tempo em que percebeu que o pai também precisava de mais ajuda na gestão dos negócios a céu aberto. 

Nesta mesma época, Carol seguia carreira na área da saúde no Hospital das Clínicas em São Paulo e se encontrou com a cafeicultura. Acompanhando mais de perto a rotina da fazenda e com o isolamento da Covid-19, foi quando conheceu de fato os processos de produção, mais sobre os fatores sensoriais e cafés especiais, e se apaixonou pelo universo e as conexões do café. 

Como falamos sempre noEntrelinhas do Cafezal, o índice de desenvolvimento social nas áreas onde o café está inserido é elevado. No Brasil, que tem a cafeicultura  composta por mais de 70% por pequenos produtores,  as práticas ESG que são adotadas por muitos produtores há muitos anos garantem esse desenvolvimento e vida digna em boa parte das áreas da produção. 

Mas, assim como em qualquer outro setor, ainda há espaço para melhorias e novas oportunidades. Foi nisso que, acompanhando essa rotina de “faça chuva ou faça sol” que Carol passou a olhar para esses trabalhadores rurais visando trazer mais oportunidades e reconhecimento. 

"Com a pandemia tive os finais de semanas livres e passei a ajudar mais o Lucas, inclusive nos finais de semana. E indo na fazenda nos finais de semana,  voltei a reparar no estilo de vida das pessoas que estão ali, quantas pessoas estão envolvidas na produção de café", começa a contar.  

A partir disso, a família passou a criar projetos para assistir melhor os funcionários, as crianças que estavam fora da escola no período da pandemia e acabaram sentindo mais os impactos de um momento tão complexo e delicado que atingiu todas as faixas etárias.

"Vendo a necessidade de engajar as pessoas para o trabalho no campo. Acho que talvez pela minha formação, meu olhar vai direto para as pessoas. E também porque a questão da produção, do cuidado com o café já é muito consolidado aqui, então eu tive o privilégio de pensar em outras pontas, de pensar no que a gente precisa fazer para melhorar a vida das pessoas que estão ali. Isso é um pensamento absolutamente utópico e objetivo, não tem nenhum tipo de ação que a gente faça que tenha um resultado de imediato, mas eu acredito em ações que sendo feitas a longo prazo mudam sim o relacionamento das pessoas, da comunidade do café", conta. 

A virada de chave com os cafés especiais e o cuidado com as mulheres no campo

Carol

O grande “start” no mundo da cafeicultura veio junto com a experiência dos cafés especiais. Carol conta que foi conhecendo melhor o trabalho de dedicação na produção desses grãos que ela decidiu que da área da saúde, passaria a ser uma empresária da cafeicultura. 

Tudo começou quando amigos que ainda vivem na loucura de São Paulo passaram a buscar por mais momentos de tranquilidade nas fazendas da família. A partir dali, Carol percebeu que muitos ainda não entendiam sobre a complexidade da produção dos cafés de qualidade, ficando restritos apenas ao momento da xícara. 

"Esse movimento que estavam muito próximos da gente e que não tinham nenhum contato com o café me fez essa virada. Isso é de interesse das pessoas, elas só não sabem ainda. E poder mostrar o produto que é muito fino, produzido no nosso país e que as pessoas não conhecem foi motivador. E apresentar o produto café especiais, os aromas e sabores, representação da nossa região é uma coisa que me move muito, mas nada disso faz sentido se eu não arrastar um monte de gente comigo. Passar o dia a dia na fazenda, entender a vida dessas pessoas me fez querer realmente trabalhar com isso", afirma. 

Carol Alckmin (17)

Para quem trabalha com café também já é de conhecimento que a presença feminina no campo impulsiona e muito na produção dos especiais. Seja pelos detalhes, pela dedicação ou pelo perfeccionismo mais apurado, as mulheres fazem a diferença. Vendo isso, Carol percebeu que apesar de todas essas características as mulheres que trabalham ali também mereciam um reconhecimento ainda mais significativo. 

Foi então que surgiu a ideia de fazer o plantio de 30 mil pés de café em uma área da fazenda que foi plantada e continua sendo tratada apenas por mulheres. O plantio foi em 2018 e a expectativa é que a primeira colheita seja feita na safra de 2023. 

"Essa forma de estar mais próxima das pessoas que estão ali, com a mão na terra, mostrar para essas pessoas o resultado do trabalho delas. Elas não sabem como isso encanta na cafeteria e também mexer na emoção dessas casas, das pessoas que estão ali na frente. Não sei de fato o quanto essa emoção melhorou, mas é uma coisa que eu não pretendo parar. O primeiro pensamento foi: a mãe domina a emoção da casa, então vamos trazer mais emoção para vida dessas mães, emoção de reconhecimento e respeito por elas estarem ali com a gente", conta. 

Assim como boa parte dos produtores de Minas Gerais, a área do Projeto Frutificar também foi atingida pela seca dos últimos anos e pela geada de 2021, mas com exceção aos eventos climáticos, a expectativa é muito positiva e animadora para a primeira colheita. 

A variedade escolhida foi a Arara, também cultivada pelo vizinho e que teve resultado surpreendente nos últimos ciclos. "Mas nesses últimos meses não precisou de muitos cuidados. Elas continuam o trabalho, é um desafio manter a motivação delas para manter o próprio espaço. Porque não era uma necessidade genuína delas, isso foi uma coisa que eu identifiquei que poderia virar um potencial. Eu falo que o resultado daquela lavoura que vai ser colhida na próxima safra tem que retornar para essas famílias, para essas mulheres", destaca. 

Apresentando o café para o consumidor final, que ainda desconhece as nuances deste imenso universo 

Carol Alckmin (2)

Apesar de escolher seguir a vida ao lado de uma família tradicionalmente cafeicultura, Carol também relembra muitas vezes que só passou a conhecer a produção quando passou a ir mais na fazenda. E com os amigos que também desconheciam, entendeu que essa poderia ser uma outra frente de trabalho: Apresar a cafeicultura como ela é e todas as oportunidades que ela oferece do campo à xícara. 

"Por mais que eu estivesse colada no café com o café, eu não tinha essa dimensão do que é essa produção. E eu achei que não foi fácil essa informação, até eu chegar essa ponto de consciência, foi longo o caminho. Então hoje eu tenho aproximar as pessoas do que é a produção de café, tão importante para o nosso país. Vamos encurtar esse caminho: Eu levo as pessoas até a fazenda, a gente sobe 1.300m de altitude e lá elas se surpreendem. Aproximar o consumidor dessa noção de valor do que é a cafeicultura", afirma. 

De olho nesse consumo de cafés especiais no Brasil, Carol acredita em um futuro promissor para o cafeicultor, mas que o trabalho de apresentação desse café precisa ser feito apesar do brasileiro ter por tradição tomar pelo menos uma xícara de café por dia.

Carol Alckmin (3)

"Esse consumo já é muito comum em outros países, mas aqui não. Realmente o consumo de café já está enraizado no brasileiro, isso já é muito consolidado. Tem duas questões: acessar um hábito que já está estabelecido e às vezes a pessoa recebe como "gourmetização" desnecessário. Mas por outro lado, a gente tem vivido um momento das pessoas se preocupando mais com o que consomem, com a história desse produto", afirma. 

Ressalta ainda que esse trabalho de educação do consumidor é um trabalho de "formiguinha', mas que já foi abraçado inclusive pelas grandes marcas. "Eu vejo sim que as pessoas estão interessadas em origem, quem prova pela primeira vez e consegue provar sem conduzido consegue identificar os benefícios e se encanta, é um caminho sem volta. As pessoas compram mais, voltam para comprar e se interessam pelas regiões", finaliza. 

Carol reconhece a importância do trabalho com o consumidor, mas destaca que é importante que não haja uma disputa com os cafés industriais e convenciais, que representam e muito a história de consumo do Brasil. 

"Um cuidado que eu tenho de falar sobre cafés especiais é não desvalorizar o café comercial. O café comercial é nossa cultura, nossa memória afetiva. Isso é uma memória que quando a gente sente o cheiro que remete aos momentos, traz um sentimento muito importante. A ideia não é sobrepor toda essa história do café e desvalorizar um produto que trouxe até aqui. Foi esse produto que fomentou a cadeia, a ideia é apresentar tipos diferentes e dar oportunidade para as pessoas se encantarem, e elas se encantam!", finaliza. 

 

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Por:
Virgínia Alves
Fonte:
Notícias Agrícolas

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