Chuva leva alívio em áreas do parque cafeeiro, mas momento ainda é de tensão que vai do campo à indústria
A colheita da safra 22 de café arábica do Brasil chegou a 71% no principal estado produtor do país, de acordo com dados da Cooxupé divulgados nesta quarta-feira (10). Atrasada, a safra ainda nem terminou e as atenções do setor cafeeiro, do campo à xícara, continuam sendo as condições climáticas e a safra de 2023 - até aqui indicada como ano de recuperação na produção de arábica.
Há mais de 100 dias sem precipitação no Sul de Minas Gerais, choveu em algumas áreas do parque cafeeiro entre a madrugada e manhã desta quarta-feira (10), de acordo com informações de Alysson Fagundes, pesquisador da Fundação Procafé.
Alysson afirma que as chuvas levam certo alívio, mas ainda não resolvem o problema de déficit hídrico que já estava sendo observado nas principais áreas de arábica no sul de Minas Gerais.
"Chuva de 10mm a 30mm, para quem pegou abaixo de 15mm eu acho que ajuda pouco, mas para quem pegou entre 20mm e 30mm ajuda bastante. Porém, não foi uma chuva boa e uniforme, mas ajuda. A chuva veio devagar, infiltrou bem, já é uma ajuda. O déficit hídrico do mês de julho foi muito alto, essa chuva de 30mm melhora, mas ainda não recupera", afirma ao Notícias Agrícolas.
O pesquisador explica ainda que é importante que continue chovendo para de fato aliviar as condições do parque cafeeiro. "Para essa época, com a evapotranspiração que nós temos vai dar para 5 ou 7 dias. Ou seja, é uma leve melhora, mas não resolve o problema", afirma. A preocupação é ainda maior para o caso dos produtores que receberam chuvas de até 20mm, mas não possuem irrigação.
"Se nós tivermos uma elevação das temperaturas o que pode acontecer é a uma florada parcial e essa florada em muitas localidades, o botão floral pode desitradar, secar e perder. É um estado de alerta, não dá para falar o que vai acontecer porque nós ainda vamos depender do microclima com fatores como temperatura e umidade", afirma.
Há mais de dois anos o produtor de café vem vivenciando a rotina de um clima muito instável. As condições climáticas provenientes do La Niña favoreceram a seca prolongada e no ano passado, a geada trouxe ainda mais problema para o setor produtivo.
Com esse cenário já são dois anos de safra quebrada e a expectativa, até então do setor, é do início de uma recuperação no ano de 2023. Alysson, no entanto, afirma que a virada de chave ainda vai acontecer com muita preocupação.
"É preocupação total porque a safra de 2023, se fosse uma supersafra - o que já sabemos que não será, seria suficiente apenas para "tampar o buraco de 2021 e 2022. Como nós já temos certeza absoluta que não é uma super safra, no máximo uma safra média, a preocupação é total. E muito maior fica essa preocupação na eminiência dessa safra média se tornar uma safra baixa", complementa.
Lidando com alta da matéria-prima, indústria cafeeira afirma que momento atual é de muita tensão
A preocupação com a oferta, no entanto, não fica restrita apenas para quem está no campo. Do outro lado da cadeia, também sentindo os impactos não só climáticos, mas também logísticos, a indústria cafeeira do Brasil mantém o estado de alerta para oferta mais restrita de matéria-prima.
"A variável climática novamente volta a tomar cenário importante. Se não tivermos chuvas nesses próximos 30 dias, o momento é tenso, principalmente no Sul de Minas, aí vamos ter uma quebra importante na safra do arábica e que naturalmente vai puxar o preço do conilon também", afirma Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC).
É importante lembrar que com a quebra no café arábica, o conilon passou a ser mais demandado no mercado interno com a indústria brasileira aumentando a participação deste tipo de café no blend no mercado nacional. Com uma safra que pode chegar a 23 milhões de sacas neste ano, a expectativa é que o conilon continue suprindo a necessidade deste mercado nos próximos dias.
Apesar disso, o cenário ainda é de mercado travado e com o produtor de conilon participando do mercado a medida que precisa fazer caixa e o atraso na entrada da safra brasileira também pode voltar a pesar para o setor industrial.
"Como o estoque de passagem é menor que no ano passado, a indústria sente uma retraída do produtor de café e isso traz certa preocupação por conta do estoque de cada indústria. O produtor tem café em estoque, boa parte já colhido e esse produtor sabendo de toda essa circustância, é natural que ele fique retraído, esperando por cotações melhores. É sabido por todos que estão setor que não havendo chuva, esse preço pode ter alta importante e o produtor naturalmente fica retraído nessa venda, esperando cotações mais lucrativas para sua lavoura", complementa.
Os dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) divulgados na última terça-feira (9), mostraram recuo de 64,8% na exportação de conilon no mês de julho, em relação ao mesmo período do ano passado.
“Os fabricantes brasileiros de café torrado e moído e de solúvel têm mantido forte demanda pelos canéforas em seus blends e, não podemos esquecer que, apesar de uma melhora branda, ainda persistem os entraves no comércio marítimo global”, comenta o presidente da entidade, Günter Häusler.
Histórico da alta nos preços e consumo no Brasil
Com a quebra do café arábica no ano passado e que será sentida de alguma forma na produção atual, no ano passado os preços da matéria prima, ou seja a saca de café cru, avançaram 130% e consequentemente chegou até o consumidor final. Seis meses após o primeiro reporte da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), indicando preocupação com a alta nos preços, os números atualizados mostraram que até o mês de maio o consumo de café permaneceu estável no mercado nacional.
Os números da ABIC mostram que apesar da crise que foi campo à xícara, o consumo de café no mercado interno se manteve firme. O Brasil fechou o ano com o consumo 21,5 milhões de sacas, o que representou alta de 1,71%. Neste período, o único alerta emitido oficialmente pela ABIC foi em dezembro de 2021, justamente quando os preços subiram 40% para o consumidor final. Na época, a ABIC registrou queda de aproximadamente 14%.
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