Com montanha-russa constante nos preços, estoque de café certificado na ICE segue em queda com menor nível dos últimos 23 anos
O mercado de café continua vivendo dias de intensa volatilidade para os preços e ao mesmo tempo, o setor observa a queda contínua dos estoques certificados da ICE, que até a manhã desta quarta-feira (3) estavam em 700.005 mil sacas, o menor nível em 23 anos. Há um ano o volume era de 2.176.727 sacas. O mercado, no entanto, não trabalha com uma recomposição dos volumes no curto prazo, de acordo com analistas.
Com problemas climáticos afetando a produção brasileira, há pelo menos dois anos o produtor lida diariamente com um mercado repleto de incertezas que vão desde o tamanho da produção até a formação de preços. A safra 2022 de café arábica vai se consolidando com quebra significativa, apesar das lideranças ainda não "baterem o martelo" em relação ao volume da colheita que ainda está em curso nas principais áreas produtoras do país.
Por outro lado, com financeiro pesando bastante na formação de preço, a preocupação com a recessão global afeta diretamente as cotações que diariamente vivem uma verdadeira montanha-russa. Diante da preocupação com a safra brasileira e também os problemas logísticos, o mercado passou a então observar queda acentuada nos estoques.
Falando em estoques certificados, é importante traçar uma linha do tempo, lembrando que em em outubro de 2020 a ICE atingiu o menor estoque dos 20 anos com 1.234 milhões de sacas, registrou leve recuperação e em fevereiro de 2022 registrou pela primeira vez a menor baixa dos últimos 22 anos, com 1.060.424 de sacas.
Para Haroldo Bonfá, analista de mercado da Pharos Consultoria, além do consumo dos estoques ser pressionado pelo mercado praticado na Bolsa, pode-se fazer a leitura do mercado buscando por cafés de qualidade para consumo imediato. "É uma situação muito interessante no aspecto de qualidade porque enquanto o mundo está preocupado com preço, mas tem a demanda por esse café com mais qualidade e com isso acaba acessando esses estoques", afirma o analista.
Haroldo relembra que há pouco mais de dois meses a agência de notícias Reuters informou a transferência de cafés certificados da Europa para Nova York. Os nomes das traders não foram divulgados, mas o analista afirma que a prática continua sendo comentada entre os mercados e que com os preços atuais, pode ser que novas transições neste sentido sejam feitas.
"Mesmo com os problemas logísticos que se pode ter, ficou mais barato para tirar de uma origem para outra. Ainda está se falando muito dessa possibilidade para esse café com o perfil que a ICE tem", complementa. Segundo o analista, o café transferido teria sido incorporado ao volume da Green Coffee Association, atualmente com 6.050 mi de sacas e por isso não foi observada avanço na ICE.
Apesar da intensa volatilidade, Haroldo afirma que o dia a dia tem sido importante na tomada de decisão do produtor diante de uma safra que é repleta de incerteza. Segundo o especialista, o produtor tem preço firme no mercado interno e precisa, com cautela, fazer sua programação para as próximas entregas.
O mercado futuro segue com poucos negócios, condição que também é característica no momento de colheita, mas Haroldo mantém a posição de que é importante que o produtor fique atento às oportunidades que continuarão surgindo, com o mercado já de olho na safra de 2023.
Apesar de ainda ser cedo para traçar o cenário para o ano que vem, a expectativa neste momento é de recuperação para a produção de café arábica no Brasil, após dois anos consecutivos de safra mais baixa. "O produtor precisa fazer o trabalho de gestão, ver o que tem na mão, avaliar os custos e fazer sua programação de venda. Precisamos de chuva para a próxima safra e tudo isso ele precisa avaliar neste momento para não perder os dias de bom preço", afirma.
Origem dos cafés certificados
A safra 2020 do Brasil, histórica em termos de volume com 63 milhões de sacas, considerando a produção de arábica e de conilon, e histórica em termos de qualidade do café, colocou o Brasil em novos patamares, inclusive como maior fornecedor de café certificado, posição sempre ocupada por Honduras.
O Brasil ultrapassou Honduras pela primeira vez em março de 2021 e seguiu sendo o maior fornecedor absoluto na ICE até novembro do mesmo ano. De lá pra cá, o fornecimento de café na ICE oscilou bastante, mas desde junho Honduras se mantém como principal, representando atualmente 52% dos cafés.
A retomada do Brasil, no entanto, não é esperada pelo setor, de acordo com Haroldo. "Foi uma participação muito positiva e que abriu novas oportunidades para o produtor brasileiro, mas a retomada de Honduras acontece de forma muito natural já que eles produzem café justamente com essa finalidade", complementa.
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