Paixão e dedicação foram os ingredientes para cafeicultora se tornar referência no Cerrado Mineiro
Lucimar Silva Ficou nacionalmente conhecida há alguns meses, após ser homenageada em uma ação da Nespresso em parceria com artista Eduardo Kobra, mas a história da Lucy - como é conhecida no meio cafeeiro, começou há muitos anos em um pedaço do coração da cafeicultura brasileira: No Cerrado Mineiro.
De família simples, nascida e criada em uma das principais regiões produtoras de café arábica do Brasil, Lucimar Silva pisou pela primeira vez em uma lavoura de café quando tinha apenas 14 anos. Ali, trabalhando na "panha" do café em parceria com sua mãe, começava uma história de dedicação, estudo e de sucesso de um nome em evidência da cafeicultura nacional.
O café foi sua porta de entrada para mudar os padrões da família. Crescendo na região de Patos de Minas, Lucy encontrou na cafeicultura a motivação para ganhar seu próprio dinheiro.
Relembrando a história, conta que seu dia começava às 5h30, no trajeto até à lavoura e terminava após as 23h, depois da jornada de estudos. Essa foi sua rotina durante a conclusão do magistério e também na formação superior em Administração de Empresas, segurança do trabalho e tantos outros cursos de profissionalizantes que concluiu enquanto safra após safra acontecer no Cerrado Mineiro.
Enquanto estudava, Lucy passou por todas as fases da produção de café. Durante a implementação da lavoura, na colheita e demais setores do Guima, que é composto por duas fazendas do Grupo BMG, na região do Cerrado Mineiro, onde atualmente ela é a gestora do negócio.
Entre um curso e outro, uma prova e outra, Lucy também encontrou tempo para ajudar os outros trabalhadores da fazenda. Durante um período, passou a também a ajudar na alfabetização desses profissionais. Emocionada, relembra que muitas dessas pessoas hoje são profissionais formados e conseguiram se levantar também através da cafeicultura.
Já são mais de 20 anos dedicados ao café e com muito afeto pela produção, nunca pensou seguir em outra área de trabalho. "É uma paixão, é uma coisa de querer estar ali, de querer viver aquela energia de estar no café. Eu buscava áreas que eu sabia que poderia ter alguma oportunidade dentro das fazendas. Porque eu queria continuar ali, com aquelas pessoas, naquele ambiente. É um lugar que me faz feliz, eu me sinto realizada na cafeicultura", conta.
A cafeicultura e atualmente gestora das duas fazendas do grupo BMG transmite na fala e no olhar aquilo que traz humanização para a produção de café: a alegria de saber que está colhendo bons frutos, apesar dos desafios enfrentados no campo. O campo para ela, é sinônimo também de felicidade. Na parte operacional, destaca que é um ambiente de alegria onde são ouvidas cantorias e o cafezal acaba se tornando palco de lembranças que hoje já deixam saudades.
Como já comentamos, começou a carreira junto com a mãe, que ela considera o grande diferencial para sua carreira sólida. Ela descreve dona Rosa como uma mulher sábia, corajosa e determinada.
"A palavra impossível nunca existiu para ela. Por mais que fosse impossível, ela sempre tinha uma solução para tudo. Ela passou isso para nós. Por mais simples que fosse o problema, ela estava ali do nosso lado para nos ensinar a buscar soluções. Mesmo de uma origem muito simples, minha mãe é muito sábia, ela tem uma sabedoria fora do comum", conta.
Aromas
O Entrelinhas do Cafezal tem como objetivo fazer com que os personagens voltem à sua história. E isso Lucy faz com maestria andando pelo parque cafeeiro. “Eu falo que minha saudade tem cheiro”, comenta quando perguntei qual a primeira lembrança que faz com que ela lembre do início da carreira.
O café, que tem como característica própria ter o cheirinho que faz parte do nosso dia a dia, é também um dos pontos mais marcantes da sua memória. “Principalmente os aromas da colheita que são únicos até hoje. Quando começa a colheita eu quero estar lá, quero viver esse momento, quero ter aquela sensação de novo porque é algo que me marca desde quando eu comecei”, conta.
Mas e para chegar até a gestão das fazendas?
Sempre muito curiosa e determinada, Lucy passou a trabalhar em todas as pontas da produção. Passando assim por cada etapa do processo e foi através do curso de segurança de trabalho que teve a primeira oportunidade na Guima Café. Na sequência, assumiu a coordenação das três fazendas e há pouco mais de anos assumiu 100% o antes, durante e depois da porteira, tomando a frente também a comercialização do café.
Traçando uma linha do tempo, entrando em um universo que majoritariamente conta com lideranças masculinas, foi através da sua determinação e conhecimento que ela conquistou a confiança e credibilidade no mercado de café.
“Eu vivi um pouco essa resistência por ser mulher. Nós temos que saber duas vezes mais que outros profissionais até que a gente conquiste esse espaço. Hoje eu não tenho mais esse problema, hoje não tenho essa questão de gênero, mas no início sim. Até que provei que era capaz e tinha essa habilidade, quebrar esses paradgmas”, relembra.
Apesar do reconhecimento, para Lucy ainda não é hora de parar. Principalmente quando se fala em contribuir com a cadeia do café, na esfera econômica, mas principalmente na social e continuar trabalhando para que seu legado continue sendo palco de inspiração para outras mulheres, outros cafeicultores e principalmente para as duas filhas que atualmente trabalham juntos com ela na gestão da fazenda.
“Meu sonho agora é mais conjunto do que individual. É fortalecer as mulheres da cadeia do café, é mostrar para as minhas filhas o mundo muito amplo que existe de oportunidades quando temos determinação, coragem e humildade”, comenta.
Sucessão familiar e sucessão empresarial
O termo “sucessão familiar” desde sempre é muito falado na cafeicultura. No caso da Lucy, as filhas escolheram cursar direito e agronomia, mas acompanham e trabalham diariamente com a mãe, que orgulhosa conta que elas também são encantadas pelo universo do café.
Para ela, vir de uma base muito simples é o grande diferencial para passar os ensinamentos para as próprias filhas e também para os demais trabalhadores da fazenda. “É entender as dificuldades de cada setor porque eu estive lá, hoje eu tenho a facilidade de entender porque eu estive lá naquela ponta. Estar lá, com toda certeza, é uma das minhas grandes ferramentas que tenho hoje”, comenta.
Cuidar do bem estar dos colaboradores e englobar todos como parte importante do processo também faz com que Lucy tenha a confiança para ter um time pronto para o que der e vier. “As pessoas que estão no dia a dia são elas que fazem as coisas acontecerem, elas precisam ter essa credibilidade. Hoje eu falo que eu me sinto realizada no meu trabalho porque tenho pessoas que acreditam no que eu falo, no que eu faço e por isso eu tenho uma equipe nota mil”, complementa.
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