Entrelinhas do Cafezal: Produtor de Campinas resgata história, foca em qualidade e movimenta a cena cafeeira na região
Quem conhece a trajetória do café no Brasil sabe: O município de Campinas, localizado a quase 100 quilômetros da Capital Paulista, teve peso importante na construção da história do país que hoje é o maior produtor e exportador de café do mundo.
A cidade, antes tomada pelos "Barões do Café" se tornou referência em pesquisa com a criação do Centro de Café Alcides Carvalho, do Instituto Agronômico de Campinas e até hoje respira "ar cafeinado" seja por quem passa pelas proximidades do cafezal do IAC, por apaixonados pela bebida e até mesmo por quem ainda, em 2022, encara o desafio de se produzir café arábica de qualidade no município.
Na década de 80 Campinas contava com muitas fazendas de café, logo mais à frente chegou também a infraestrutura com armazéns e estradas de ferro. Muitas dessas características ainda podem ser observadas pela cidade e, nas áreas mais afastadas da agitação urbana, também é possível encontrar cafés em plena produção.
ENCONTRANDO CAFÉ EM TERRAS CAMPINEIRAS…
Sítio Flor da Lua, em Campinas, resgata história da cidade e movimenta cena do café especial na região
(Foto: Entrelinhas do Cafezal/Notícias Agrícolas)
Cid Manicardi, morador do distrito de Sousa, atualmente dentista e produtor de café, não necessariamente nesta ordem, apaixonado pela bebida e tudo que envolve este universo resolveu arriscar e trazer ao solo campineiro um café produzido com sustentabilidade, qualidade, mas principalmente muita vontade em fazer dar certo. Assim como uma maioria esmagadora dos produtores com quem topamos por aí, Cid traz no olhar uma característica típica de quem está no campo: a paixão em produzir, independentemente se estamos falando de uma produtividade de 40 sacas por hectare ou apenas 10.
Foi em uma tarde ensolarada e regada a muito café e boa prosa, que Cid contou que com a carreira consolidada como dentista, foi em 2005 que ele se aventurou a produzir café. Voltando um pouco mais na história, a paixão pelo grão é antiga e traz lembranças da infância quando visitava um amigo em Mogi-Guaçu onde teve as primeiras vivências com o campo. Um pouco mais velho, Cid descobriu que o avô também tinha trabalho com no setor cafeeiro, com passagem pelo Escritório Carvalhaes - referência até os dias atuais no mercado de café.
Conhecendo de perto a produção que tem como pilar a sustentabilidade e foco em trazer uma bebida diferenciada ao mercado
(Foto: Entrelinhas do Cafezal/Notícias Agrícolas)
Quando chegou no local onde trabalha como cafeicultor, Cid relembra que quase não havia vegetação no sítio, mas a vontade de cultivar nasceu nos primeiros dias por lá.
Os primeiros pés de cafés, ainda lá em 2005, deram errado e o plantio mais expressivo aconteceu apenas em 2007 depois de muita pesquisa com aproximadamente 800 pés de café. Mas o desejo era de ir além e com o passar dos anos conseguir fazer também uma produção que além de qualidade, fosse também sustentável.
“Sítio Flor da Lua”, o nome escolhido para o local também traz história e dedicação: Com a rotina no consultório como dentista, o horário que sobra para Cid trabalhar e cuidar pessoalmente dos cafés é durante o período da noite. Literalmente embaixo da lua foi onde aconteceu os primeiros tratos culturais, as avaliações e até o início da colheita nos primeiros anos de produção.
Atualmente, com uma área maior de cultivo e produção em maior escala, ele tem o suporte de um técnico agrícola e mão de obra trabalhando durante o dia, mas ainda mantém a tradição de todas as noites visitar, e como ele mesmo diz “conversar pessoalmente com seu café''.
Logo quando começou, a iniciativa tinha como propósito apenas conseguir produzir bons para consumo da família e amigos mais íntimos, mas durante o processo e conhecendo outros apaixonados pela bebida, o Sítio Flor da Lua avançou e chegou a safra de 2022 com um café que entrega perfil sensorial diferenciado e conta ainda com o suporte de torrefadoras de Campinas que aceitaram o desafio de comercializar a bebida.
Após alguns anos de estudo, a varietal Arara foi a escolhida para o lançamento do Torra Campinas justamente pelas suas características sensoriais: muito doce, delicada, com uma acidez cítrica suave como a lima, e que se adaptou bem ao cultivo orgânico pelo vigor da planta. Além disso, conta ainda com características achocolatadas, açúcar mascavo e frutado, produz uma bebida com corpo delicado e acidez de lima-da-pérsia em uma torra média. Em uma torra um pouco mais clara, surgiram notas de frutas florais, jasmin e jambo.
Colheita seletiva é um dos processos que garantem bebida com perfil sensorial diferenciado
(Foto: Entrelinhas do Cafezal/Notícias Agrícolas)
CAFEICULTURA REGENERATIVA
O Sítio Flor da Lua traz para o cafezal campineiro o conceito que vem sendo bastante debatido no mercado: cafeicultura sustentável e regenerativa. As ruas do cafezal contam com manejo agroflorestal com plantação de árvores nativas, a prática busca minimizar os impactos climáticos e trabalha com o objetivo evitar que os recursos naturais como solo e água se esgotem na propriedade.
A ideia é que se faça a substituição de agroquímicos por produtos biológicos, assim como utilizar os produtos compostos por microrganismos que contenham doenças e bactérias, o que ajudam a dar vida longa ao sistema produtivo.
A expectativa é de uma produtividade de 40 sacas por hectare na colheita da safra 22
PROJETO TORRA CAMPINAS
"O projeto surgiu naturalmente pela afinidade e amizade entre a gente e a troca de experiências frequentes em nossos estudos de torra", comenta Cid.
Depois de conquistar bons cafés, a proposta do Sítio Flor da Lua conquistou outros apaixonados pela bebida na cidade. O projeto chamado Torra Campinas - Cafés Especiais, que reúne as minitorrefações Sítio Flor da Lua, D.Origem e 1727 Coffee Roasters.
“Cid é um produtor que faz toda a cadeia do café com certificado orgânico e isso valoriza o café especial na região. Nós unimos as torrefações para trocar conhecimento e trazer um produto diferente, um café orgânico, campineiro, que dará sensoriais diferentes com as torras feitas por cada um”, diz Hardeman, mineiro, que aprendeu a gostar de café desde criança e que saiu do mundo corporativo para abrir sua cafeteria após muitos cursos e especializações no universo da bebida.
Hardeman reforça que o objetivo do projeto é alavancar Campinas no cenário cafeeiro, com um produto de qualidade, café orgânico certificado em Joaquim Egídio, um distrito da cidade, mostrar que torrefações pequenas podem oferecer um produto de qualidade da região e valorizar a interação entre os profissionais. “É difícil ter um produtor daqui. A maioria é de Minas. Vamos fazer um café de Campinas, orgânico, de qualidade. Esse café tem tudo a ver com a história do café em Campinas”, afirma.
Além do resgate da história e da defesa do cultivo agroflorestal, o projeto se dedica a apresentar o café especial como uma bebida acessível. “É possível consumir um café orgânico, de qualidade, rastreado, produzido aqui na cidade, por um preço justo”, diz Felipe Pine, que realizou um sonho ao abrir a cafeteria junto com seu irmão Gabriel.
“Sempre pensamos em produzir em nossa microtorrefação café especial, de qualidade e oferecer soluções para cafeterias e abraçar o público em geral, mostrando que é possível beber um bom café, saudável, com paladar diferenciado. Nossa ideia é promover além do café de qualidade, a integração de pessoas da área. Com esse projeto temos muito a ganhar juntos. Não precisa haver concorrência. Tem muito público potencial, de pessoas abertas a novas experiências. E o café propicia a reunião. Por isso temos um espaço intimista proposital para receber clientes, bater papo e discutir sobre café, compartilhar boas experiências, sempre trazer referências e desenvolver o cenário da região em direção ao café de qualidade”, afirma Felipe.
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