Café certificado da ICE segue da Europa para os EUA em meio a aperto na oferta
Por Marcelo Teixeira e Maytaal Angel
NOVA YORK/ LONDRES (Reuters) - Traders de commodities estão embarcando café arábica dos armazéns certificados da bolsa Intercontinental Exchange (ICE) na Europa para os Estados Unidos, disseram cinco fontes à Reuters, em um negócio incomum que reflete o impacto que o clima errático causou na oferta global de café.
A maior parte do café arábica, a variedade mais utilizada no mundo, é produzida nas Américas do Sul e Central e normalmente segue para Europa ou Estados Unidos, os maiores mercados consumidores. Assim, enviar café verde da Europa para os EUA, um país consumidor para o outro, é algo que raramente acontece.
Retirar café dos estoques certificados da bolsa, em vez de buscá-lo nos armazéns privados de comercializadores, vai levar os estoques da ICE a níveis ainda mais baixos num movimento que pode elevar os futuros do café para além da máxima de 10 anos atingida em fevereiro.
"Eu nem me lembro de ter visto qualquer volume significativo de café indo da Europa pros Estados Unidos," disse um experiente trader de café na Suíça.
Segundo ele, um carregamento de mais de 100 mil sacas de café verde arábica saiu dos armazéns da ICE em Antuérpia na semana passada com destino aos portos da costa leste dos EUA.
Traders disseram que mais 250 mil sacas dos armazéns da ICE na Europa vão seguir para os EUA nos próximos dois meses. Se isso se confirmar, os estoques da bolsa, atualmente em cerca de 1 milhão de sacas, podem cair para os menores níveis desde 2000.
E não há perspectiva de novos cafés entrarem nos estoques certificados, já que os prêmios de preço no mercado físico estão bem mais elevados do que os futuros.
O café de Honduras por exemplo, um tipo referencial nos estoques certificados, está sendo negociado no mercado a 42 centavos de dólar por libra-peso acima dos futuros.
Por outro lado, o café da bolsa que traders estão enviando aos EUA tem cerca de três anos, e por isso é negociado com um desconto de 10 a 15 centavos de dólar por libra-peso em relação aos futuros, fazendo com que sejam até 25% mais baratos comparados ao café no mercado spot atual.
Esse desconto compensa o custo adicional de frete de levar o café da Europa para os EUA, disseram os traders. O transporte será feito em navios tipo break-bulk, para cargas em geral, uma modalidade cerca de 50% mais barata que o tradicional contêiner que é mais utilizado no comércio de café.
"A questão não é sobre os 100 mil sacos saindo agora, mas quanto mais deverá sair até que o mercado dispare," afirmou um analista de café que trabalha para uma comercializadora global de commodities.
Quase a totalidade dos estoques certificados da bolsa estão em Antuérpia, mostram dados da ICE.
Um dos traders afirmou que o café provavelmente foi negociado por um comercializador norte-americano que viu vantagem em trazer o produto da Europa e repassá-lo para torrefadores nos EUA que buscam alternativas mais baratas em meio aos preços extremamente elevados no país que é o maior consumidor da bebida.
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