Atraso na colheita do conilon ainda não traz preocupação; mercado tem preços firmes, mas pede produtor atento às negociações
A colheita do café tipo conilon no estado do Espírito Santo está mais lenta este ano. Produtores têm relatado nas redes sociais a dificuldade em encontrar mão de obra para avançar com os trabalhos no campo, condição reconhecida pelo Centro do Comércio de Café de Vitória, que via Márcio Cândido - presidente do CCCV, afirma que a colheita deste ano até esta quinta-feira (26), tem 5% de atraso em relação ao ciclo anterior e uma média entre 20% e 22% de área colhida no estado.
"Sim, é uma realidade no estado, estamos observando essa falta de mão de obra, mas o grau de maturação do fruto ainda aguenta mais um tempo na planta, por isso não vemos como nada que atrapalhe a safra neste momento", afirma.
O mercado trabalha com a expectativa de uma boa produção para o café conilon neste ano, e de acordo com o presidente este número é de, no mínimo, 22 milhões de sacas para o ciclo atual. O volume excede a capacidade de armazém existente atualmente hoje no Espírito Santo, que por muitas vezes acaba construindo armazéns temporários para manter esse café até sua comercialização.
"Então além de não prejudicar a qualidade deste café, o produtor do conilon tem ainda esse "armazém" na própria planta, ainda dá para esperar mais um pouco e o produtor também não tem pressa para vender esse café", acrescenta.
O número de 22 milhões de sacas é significativo, já que em 2021 só no consumo interno Brasil totalizou 21.5 milhões de sacas, de acordo com o último levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). Neste sentido, Márcio destaca que o volume na produção capixaba não representa excedente na oferta.
"O mercado não trabalha com menos de 22 milhões de sacas, mas isso não representa um excedente de café. A safra de arábica está mais lenta e fica muito em cima", acrescenta. Márcio acrescenta que o mercado normalmente opera com base nas duas últimas safras, sendo assim, o cenário neste ano deve ser ainda mais apertado com o conilon mais demandado.
Problema climático e preço
Vale lembrar que ainda em 2020 os problemas climáticos começaram a impactar severamente a safra de cafe arábica. Seca prolongada e três geadas reduziram a capacidade de produção, e desde então o conilon tem sido fortemente demandado pela indústria no mercado interno, refletindo inclusive nas exportações do grão. Para o produtor brasileiro, com a entrada da safra do Vietnã com o café mais competitivo no exterior, tem sido mais vantajoso deixar o produto em território nacional.
"Nós tívemos uma situação favorável para o produtor, que era alta nas bolsas e alta do dólar, e o efeito disso no café era muito relevante. Há de se lembrar que a safra 21 sofreu prejuízo na produção e a safra 22 também no arábica foi afetada pela estiagem e pela geada", comenta.
Depois de tanta irregularidade climática, a tendência é que a recuperação na safra do Brasil aconteça só em 2023, ainda a depender das condições climáticas daqui pra frente. "Ainda no mês de maio, na semana passada, enfrentamos o mesmo período de frio e as bolsas subiram na ordem de 5%, o que mostra a sensibilidade do mercado para o frio", comenta em relação aos preços da semana passada.
Comenta ainda que o produtor precisa estar atento aos custos do café brasileiro e o café do Vietnã. "A análise de exportação é correta, mas não se pode abandonar a relação entre preço conilon brasileiro e preço do Vietnã, já tem muito tempo que o Vietnã vem muito mais competitivo. Com a quebra substancial do arábica a indústria precisa muito do conilon, ao mesmo tempo a mesma indústria não pode se dar ao luxo de esperar o conilon vir muito abaixo. Existe a possibilidade do mercado ceder um pouco mais, estamos no início da safra", comenta.
Márcio reforça mais uma vez a importância do produtor conhecer de ponta a ponta os custos de produção e estar atento ao preço do café em real e em dólar, e a partir disso encontrar sua margem para garantir lucratividade. "Quando os preços sobem relativamente ele deve acelerar a venda, mas quando cede reter um pouco a venda, isso é natural. O que ele tem que evitar são os pontos fora da curva que acham que os preços vão permanecer", comenta.
O mercado, neste momento, segundo Márcio realiza ajustes natural nos preços com a entrada da safra brasileira, mas ainda assim o produtor segue observando muita volatilidade nas bolsas, sobretudo pelos fatores externos como por exemplo a guerra entre Rússia e Ucrânia, além da logística que voltou ao radar com os novos casos de Covid-19 na China. "Não existe um excesso de produção de conilon, a safra é boa, mas o consumo interno somado à exportação, é quantidade suficiente para garantir a safra. Lembrando que hoje o conilon representa mais de 60% do blend dos cafés consumidos no Brasil", finaliza.
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