Com recuo na Bolsa, estoque de café certificado na ICE sobe e Brasil passa Honduras mais uma vez
Desde o início da invasão da Rússia na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, o produtor de café viu dia após dia os preços recuaram na Bolsa de Nova York (ICE Future US). Após atingir níveis de até 250 centavos de dólar por libra-peso, com suporte na quebra de safra do Brasil, problemas climáticos na Colômbia e na logística comprometida, o contrato referência recuou nas últimas semanas, alcançando níveis vistos em novembro do ano passado. A condição que de certa forma chamou atenção do setor cafeeiro do Brasil, trouxe um novo ingrediente para o mercado nos últimos dias: os estoques de café certificados na ICE, antes em queda, registraram alteração com os preços mais baixos.
Com avanço de 12.160 sacas nos últimos dias, os estoques até a terça-feira (16) estavam em 1.072.292 sacas de 60 quilos. Haroldo Bonfá, analista da Pharos Consultoria, explica que o movimento na Bolsa reflete à baixa no preço observada nas últimas semanas, devolvendo de certa forma mais competitividade ao café brasileiro.
"Podemos considerar esses movimentos como momentâneos, mas fato é que o mercado aproveitou a oportunidade. O café do Brasil voltou a ficar mais competitivo e podemos observar essa alta", comenta. Segundo o analista, o que se pode observar neste momento é que na janela entre 2,10 e 2,20 o mercado volta a ser comprador para repor os estoques que há algumas semanas registrava níveis bem abaixo do que o observado pelo setor cafeeiro.
Segundo Haroldo é interessante observar que com a recomposição dos estoques o Brasil voltou a ficar na frente de Honduras como principal fornecedor de café na ICE. O país que atingiu volumes históricos na ICE no ano passado, liderando a oferta de café por nove meses, corresponde hoje por 46,19% dos cafés certificados. Honduras tem 44,58%.
A diferença, apesar de pequena, volta a chamar atenção já que era esperado que Honduras, após retornar a primeira posição, continuasse sendo a principal fonte de oferta. "Essa posição do Brasil voltar a predominar sobre Honduras, o que achava que nunca mais ia acontecer, é sim muito interessante", comenta. Além dos fundamentos em relação ao preço, vale lembrar que o Brasil ganhou destaque na ICE com a safra 20 - representativa em questão de quantidade, mas também na qualidade do café. No mesmo período Honduras enfrentou severos problemas climáticos, como dois furacões, grande incidência de ferrugem e problemas internos com a política hondurenha.
Para as próximas semanas, Haroldo comenta que o cenário continua sendo de muita incerteza para o mercado de café. Do lado dos fundamentos, o mercado ainda tem suporte para voltar a subir, sobretudo pela espera em saber como será a safra brasileira. As chuvas das últimas semanas aliviaram o estresse hídrico, são consideradas positivas para o desenvolvimento da planta para o ano que vem, mas os problemas climáticos permanecem no radar do setor, principalmente pela memória recente de uma geada tão intensa como aconteceu ano passado.
"Nós temos mais complicações pela frente. Como por exemplo a invasão da Rússia na Ucrânia, não podemos deixar de mencionar os novos casos de Covid na China - que faz um forte lockdown e é um hub muito importante não só de matéria-prima, mas principalmente para a logística a nível mundial", comenta. Questionado sobre os impasses logísticos, Haroldo afirma que eles também permanecem no radar do mercado, mas destaca que o café também obedece as leis de mercado e novas alternativas são encontradas diariamente para driblar os impasses e a mercadoria chegar até o destino final.
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