Cafeicultura sustentável: É emitido primeiro certificado de café carbono neutro no Sul de Minas Gerais
A cafeicultura de carbono neutro é realidade no Sul de Minas Gerais, principal área de produção de café arábica do Brasil. O certificado de carbono neutro foi emitido na Fazenda Sete Cachoeiras, localizada no município de Três Pontas/MG. A produção sustentável vem ganhando destaque para o mercado de café e seu processo tem como diferencial permitir maior sequestro do que emissões de gases de efeito estufa.
Foram comercializadas 630 sacas de café da safra 21, com bônus de R$ 100,00 por saca. De acordo com o produtor Renato Brito, a compra desse café foi realizada pela Volcafé. Anteriormente, o Brasil já havia ganhado destaque com o primeiro embarque de café carbono neutro proveniente do Cerrado Mineiro, realizado pela mesma empresa.
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Marcelo Brito, cafeicultor e pai de Renato, afirma que a certificação é um grande passo para a produção do Brasil, mas destaca que a busca por uma produção mais sustentável já faz parte da trajetória da família. "Isso é muito importante para o agronegócio brasileiro que vem sendo criticado pelas práticas ruins, mas estamos mostrando que aqui fazemos uma cafeicultura sustentável, com foco no meio ambiente, mas também com foco em sustentabilidade social", afirma Marcelo.
As boas práticas no campo aplicadas no longo prazo, também resultam em melhores negócios para o produtor. A família Brito foi uma das primeiras a conseguir as certificações Utz Certified e Rainforest Alliance. Os dois certificados têm como objetivo garantir ao consumidor final que os produtos em questão foram produzidos através de boas práticas agrícolas, protegendo meio ambiente e com cultivo eficiente.
A preocupação para uma produção mais sustentável, segundo Marcelo começou em 2004, com foco que vai além do parque cafeeiro. Visando a orientação técnica para o reflorestamento da mata ciliar e nativa, o grupo firmou uma parceria com a organização S.O.S Mata Atlântica, com destaque para a construção de corredores ecológicos e diversificação da fauna e flora.
De lá para cá, Marcelo comenta que já promoveu diversas mudanças dentro da propriedade. Entre elas, a construção de uma usina de enrgia solar em 2007. Logo depois, foi feita a extensão dessa usina e mais três já foram instaladas. “Nós somos autossuficientes também quando se fala em energia limpa e isso nos abre muitas oportunidades”, acrescenta.
O porta-voz e diretor da Volcafé em Minas Gerais, Marcelo Pedroza, responsável pela compra, destaca que é justamente essa junção de fatores que faz com que esse tipo de café se destaque no mercado. “Realmente é uma via de oportunidades que se abre, mas é importante entender que não basta só o fator carbono neutro. É preciso ter outras boas práticas agrícolas, é um conjunto de fatores que garante essa certificação. O primeiro passo para contribuir, é fazer o produtor entender o que acontece e por isso que casos de sucesso como esse nos chama muito a atenção”, comenta.
Em relação ao cenário atual de mercado para esse tipo de negócios, Pedroza afirma que agora é justamente o momento de mostrar, enquanto maior produtor e exportador de café do mundo, que o Brasil também tem capacidade para uma cafeicultura sustentável. “Enquanto exportadora essa é nossa função atual: fazer a ponte da origem ao destino final. É o momento de mostrar isso”, comenta. Ainda de acordo com Marcelo, se trata de um mercado que acredita muito nas iniciativas sustentáveis, mas que precisa conhecer o produto que vai chegar aos compradores.
Com relação ao destino das sacas já compradas, Marcelo comenta que essa é uma nova fase também para a exportadora. Agora, o cenário é de prospectar novos clientes e encontrar potenciais compradores para o café do Sul de Minas. Comenta ainda que grandes torrefadoras já possuem os próprios projetos envolvendo sustentabilidade e por isso estas medidas são tão necessárias. “É muito importante para o consumidor saber que a agricultura tem esse potencial de ajudar o meio ambiente”, acrescenta.
Mas como funciona a certificação?
Marcio Mitideri, porta-voz da Agrogenius, empresa responsável pela emissão do certificado Carbono Neutro em Três Pontas, explica o processo para garantir uma produção de carbono neutro e porque isso tem chamado tanto assim a atenção do setor.
“O mercado de carbono foi criado na ECO-92, no Rio de Janeiro, mediante a um compromisso internacional entre os países em reduzir as emissões de GEE (gases do efeito estufa) e reduzir o aquecimento global”, explica. Segundo o especialista, para chegar aos números finais é feito uma base de dados onde é possível calcular as emissões a partir de um estudo chamado Inventário de emissões de gases do efeito estufa.
“O estudo seguiu a metodologia internacional do GHG Protocol, sendo certificada como fazenda carbono neutro. O trabalho apontou o balanço de emissões da fazenda, onde foi identificada a necessidade de aquisição de créditos para aposentar as emissões excedentes e neutralizar a produção”, comenta.
Ainda de acordo com as informações, o inventário não levou em consideração as áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, o que aponta que o sequestro efetivo de carbono do grupo será maior. Os créditos excedentes foram aposentados junto ao Verra, principal órgão certificador de créditos de carbono de reflorestamento internacional, de acordo com o porta-voz.
Em relação às demais práticas apontadas anteriormente pelo Volcafé, a empresa certificadora destacou que a Fazenda Sete Cachoeiras apontou no estudo baixo uso de adubação nitrogenada, uso de plantas de cobertura, produção de composto próprio com resíduos produzidos na própria fazenda e manejo com produtos biológicos. “São ações que o grupo tem tomado para neutralizar as emissões. Sem dúvida o mercado deve estar preparado para atender a essa nova onda de carbono neutro vinculada a produção de café, uma vez que o consumidor externo se mobiliza na exigência dessa consciência ambiental”, comenta.
Lideranças atentas às oportunidades e necessidade de avançar com cafeicultura sustentável
O assunto vem chamando cada vez mais a atenção do setor. No Brasil, importantes instituições cafeeiras investem a cada dia em pesquisas com objetivo de entender e aprimorar a produção do país. As práticas ESG (Ambiental, Social e Governança, em português) ganharam ainda mais destaque em novembro, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP 26).
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) divulgou recentemente um estudo que valida o bom de desempenho da pegada de carbono do café arábica em métricas tropicais. "A contabilidade da pegada de carbono e do perfil ambiental das culturas, por meio da ACV, considerando as características próprias da agricultura tropical, é essencial para o País se posicionar como referência em agricultura sustentável", destacou a entendidade.
Por meio da parceria com a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé) e apoio de especialistas na cultura, as equipes da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e da Embrapa Café (Brasília, DF) caracterizaram os principais sistemas de produção nas principais regiões brasileiras: Mogiana Paulista, Cerrado Mineiro e Sul de Minas, construindo seus Inventários do Ciclo de Vida (ICVs), constatando que a pegada de carbono do café em grãos brasileiro variou de 1,9 a 4,6 kg CO2 eq/kg café, dependendo da região e do sistema de produção adotado, sendo muito mais favorável do que a pegada de carbono do café colombiano, de 6,5 kg CO2 eq/kg café, por exemplo.
Leia mais:
+ Estudo mostra bom desempenho da pegada de carbono do café arábica em métricas tropicais
Também nesse sentido, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) também divulgou recentemente que, em conjunto com representante dos demais segmentos da cadeia produtiva, tem orientado e acompanhado o desenvolvimento de projetos, pelo Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, na temática dos “Serviços Ambientais Relacionados às Mudanças Climáticas”, cujos resultados futuros deverão embasar os protocolos da cafeicultura de baixo carbono no âmbito do Programa ABC+.
Segundo a publicação do artigo feita no último dia 10, com foco em resultados de curto prazo, visando conectar de forma mais ampla o setor cafeeiro às oportunidades da nova economia que se desenham com mais clareza após a COP-26, o Cecafé também está desenvolvendo um projeto de pesquisa, com a participação direta dos exportadores associados, para suprir a lacuna de informações científicas na área de emissões e sequestro de carbono, considerando os diferentes modais produtivos do café brasileiro.
Sob a liderança científica do professor Carlos Eduardo Cerri, da Esalq/USP, trincheiras foram abertas para a coleta de solo e cafeeiros foram extraídos em oito fazendas representativas dos sistemas produtivos das regiões Sul, Cerrado e Matas de Minas Gerais. A análise laboratorial dessas amostras permitirá quantificar e comparar, com base em metodologia validada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), a contribuição dos diferentes sistemas produtivos característicos da cafeicultura mineira para o sequestro de carbono da atmosfera e a consequente mitigação das mudanças climáticas.
Leia mais o artigo completo aqui:
+ Resultados da COP-26 geram oportunidades para a cafeicultura brasileira
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