Desafios: Para tentar cobrir custos cafeicultor precisará ter, pelo menos, 25 sacas por hectare na safra 22
O número de sacas que o cafeicultor brasileiro vai ter que alcançar na próxima safra para, pelo menos, pagar seus custos de produção pode não ser conseguido para alguns produtores da maior área de produção de café tipo arábica do país. Depois de lidar com a seca prolongada e três geadas, o produtor viu os preços de café subir na Bolsa de Nova York (ICE Future US) e no mercado interno, mas ao mesmo tempo viu o custo de produção disparar nos últimos meses. Com o problemas que vão do campo ao consumidor final, o primeiro desafio é enfrentado pelo produtor: driblar os custos de produção, tentar alcançar o mínimo de produtividade e garantir alguma rentabilidade.
"Há um grande otimismo com relação aos preços recebidos pelos cafeicultores, preços com tendência de alta que não se esgotou ainda, e que provavelmente permaneça favorecendo bastante o poder de barganha dos cafeicultores. Entretanto, o aumento dos custos de produção tem sido bastante significativo e esse aumento vai exigir uma elevada produtividade das lavouras para que elas sejam rentáveis, mesmo com esses preços elevados. Coisa que pode não acontecer para a maior parte da sua cafeicultura", afirma Celso Vegro, Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico, Diretor do IEA.
O economista destaca ainda que a grande alta nos custos de produção é puxada pelos fertilizantes, com alguns produtos ultrapassando 100% no último ano. "São custos que o produtor não tem como escapar. Você precisa ter uma estrutura de compras muito bem acertada para poder ter rentabilidade esse ano mesmo com esses preços que estão sendo praticados", acrescenta. Celso comenta ainda que, neste momento, é fundamental que o produtor tenha inteligência comercial para conseguir avançar com os negócios e tentar minimizar os impactos que, segundo especialistas, podem durar mais de uma safra para o produtor brasileiro.
Entre as alternativas, o economista chama atenção para o produtor trabalhar junto com as cooperativas, utilizando, por exemplo, as facilidades que o barter pode trazer nesse momento. "Isso vai exigir uma gestão muito bem acertada. O barter vai ser uma ferramenta muito importante nesse ano porque as empresas trabalham em dólar, então isso favorece uma relação menos ruim para o cafeicultor", acrescenta.
Celso acrescenta ainda que o desafio de gestão não fica apenas nas compras de insumos e custo com a mão de obra. Após a retomada das chuvas o produtor precisa equalizar os gastos com adubação e trazer para uma realidade de uma planta que não vai produzir como produziria dentro da normalidade.
Após o retorno das chuvas, recuperação parcial do solo e abertura da florada, José Donizeti Alves, professor e pesquisador da Universidade Federal de Lavras (UFLA), visitou os principais municípios produtores no Sul de Minas Gerais e chegou a conclusão de que para tentar suprir, pelo menos, o custo de produção, a produtividade precisa ficar entre 25 e 35 sacas de café, dependendo especificamente de cada caso.
"Para compensar e ter algum lucro, o produtor vai precisar, dependendo da região, produzir de 25 a 35 sacas. Isso vai depender muito da área, do tipo de mão de obra. As áreas montanhosas são as mais afetadas e claro que essa conta é levando em consideração o custo atual da saca praticada hoje, entre R$ 1.200,00 e R$ 1.350,00", comenta.
Segundo Donizeti, em algumas lavouras o produtor pode ter dificuldade para chegar até na quantidade mínima de produção, já que mesmo com o retorno das chuvas e a florada generalizada observada, o cenário ainda é muito crítico e de dificuldades para o setor cafeeiro. "A situação só vai normalizar mesmo em 2024. Em 2022 temos todos esses problemas climáticos e será uma safra baixa, em 2023 já seria de ciclo baixo, então se tudo ocorrer bem de agora em diante, voltaríamos a ter uma grande produção apenas em 2024", comenta.
O ano de 2022 era muito aguardado pelo produtor, já que na teoria voltaria a de ser ciclo alto para o café. Com os problemas climáticos afetando o desenvolvimento dos ramos, e consequentemente aumentando a incidência de doenças e praças, essa já não é mais uma realidade para o produtor. "O cafeicultor pode sim ter dificuldade para alcançar esse número. O problema que nós temos agora é que essa florada mascarou muito. Ter flor é uma coisa, ter café é outra. O problema é que o produtor ficou animado, mas na realidade quando foi ver o pós florada, viu que não tem tanto fruto assim", comenta.
O especialista destaca ainda que as áreas de sequeiro são as mais apresentaram florada generalizada e são justamente as que estão com frutos abaixo da média. "A florada estava mais bonita, mas a lavoura estava mais desfolhada. O problema precisa fazer análise de solo e da planta muito bem feita, é para economizar e ajustar os tratos culturais, mas não pode deixar de fazer porque se não os problemas lá na frente serão ainda maiores", finaliza.
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