Passagem de frente fria poderá causar geadas no Sul de Minas Gerais e atingir cafezais
Massa de ar polar à retaguarda de forte frente fria poderá provocar
geadas nas áreas de baixada na região cafeeira do Sul de Minas. Para o cafeicultor o
momento é de prudência. Qualquer atitude em relação a lavoura no atual momento pode
ser mais prejudicial do que benéfica.
O clima
Comum no clima de inverno, há atualmente uma frente fria posicionada, no território brasileiro, sobre a fronteira dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, a qual se desloca em direção a região mais central do Brasil, devendo modificar as condições de tempo nos próximos dias nas regiões Centro Oeste e Sudeste do país, afetandoprincipalmente a temperatura dessas regiões. Os ventos intensos (com escoamento de Oeste para Leste) chamados de “corrente de jato”, que são mais fortes no inverno e ficam posicionados nos níveis de altitude de aproximadamente 200 mb, nas camadas mais altas
da troposfera, têm contribuído para o movimento da nebulosidade, típico das frentes frias, se movimentar em direção do oceano Atlântico. Com a ajuda de um centro de Alta Pressão, posicionado no oceano Pacífico, próximo ao continente sul americano, o ar polar deverá ser impulsionado e chegará em Minas Gerais derrubando as temperaturas principalmente entre quinta e a próxima sexta-feira, dia 30 de julho.
Prognóstico do tempo meteorológico após passagem da frente fria
Nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul o frio mais intenso poderá ocorrer na noite de quarta-feira. Em Minas o amanhecer da próxima sexta-feira poderá ser o mais frio do ano, com anomalia negativas nos valores médios de temperatura de até 9 o C na região Sul de Minas, cujos valores médios normais para o mês de julho variam entre 14 – 16 o C, e nas Matas de Minas (média variando entre 16 e 18 o C), de 6 o C no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (média variando entre 18 e 22 o C) e até de 3 o C na região metropolitana de Belo Horizonte (média variando entre 16 e 18 o C). Destaca-se que as “anomalias negativas” são temperaturas atmosféricas que ocorrem abaixo da temperatura média do período avaliado, no presente caso, do mês de julho. Assim, poderão ocorrer, após a passagem da frente fria, temperaturas mínimas variando entre -2 e 0 o C numa faixa de área de fronteira entre os estados de Minas Gerais e São
Paulo, que compreende, principalmente, as microrregiões de Passos, São Sebastião do Paraíso, Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais e de São João da Boa Vista e Amparo, em São Paulo. Nas demais regiões do Sul de Minas a temperatura mínima do ar poderá variar entre 0 e 2 o C. Na região das Matas de Minas temperatura do ar poderá variar entre 4 e 8 o C, e na região Metropolitana de Belo Horizonte e no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, entre 6 e 8 o C.
Riscos para a cafeicultura
As condições de maior risco são para os talhões, nas lavouras, instalados em áreas com grande declividade, principalmente nas regiões de maiores altitudes no Sul de Minas, nas quais poderão ocorrer geadas devido ao efeito do vento Catabático, ou seja, quando o ar frio, mais denso, se movimenta das partes mais altas das montanhas em direção as mais baixas. As áreas de baixada, entre as montanhas, também poderão ser afetadas pela deposição do ar frio que fica aprisionado nos vales.
Considerando-se a atual configuração do centro de alta pressão posicionado sobre o Oceano Pacífico, próximo a parte Sul da América do Sul, há possibilidade de até a próxima sexta-feira, dia 30 de julho, esse centro se estender em direção ao continente Sul Americano e posteriormente se dividir dando origem em um segundo centro de Alta Pressão, de menor intensidade, posicionado à retaguarda da frente fria sobre o continente. Caso ocorra, intensificará o risco de geada causado pelo resfriamento
radioativo da superfície, ou seja, o calor armazenado na superfície terrestre durante o dia se perderá mais rapidamente durante a noite, em função da ausência de nuvens provocada pela presença do centro de alta pressão sobre o continente, que é caracterizado pela subsidência do ar em seu interior inibindo, assim, a formação de nebulosidade.
O café
A cafeicultura, assim como as demais culturas cultivadas em campo, fora de ambientes protegidos, é afetada diretamente por eventos climáticos extremos. Os cafezais, que passaram por seca severa na última safra, recentemente foram atingidos por geadas emgrande parte do parque cafeeiro de Minas Gerais e de São Paulo. No dia 20 de julho de 2021, terça feira, as temperaturas chegaram abaixo de zero graus em algumas regiões de
Minas e São Paulo, revelando, ao amanhecer, que a geada ocorrida na madrugada havia afetado muitas lavouras de café. Segundo produtores, especialistas e analistas de mercado cafeeiro, o frio intenso proporcionou a ocorrência de geada em algumas regiões do parque cafeeiro com mais intensidade e outras com menos, não sendo possível, até o momento, mensurar os danos para a próxima safra 2022.
A geada, fenômeno meteorológico natural que ocorre devido a ocorrência conjunta de uma série de parâmetros meteorológicos, entre eles a baixa temperatura do ar, provoca o congelamento e a expansão da seiva que está no interior dos vasos capilares das plantas.
Os danos tornam-se visíveis rapidamente, principalmente, nas folhas que ficam com a coloração marrom e aparência de queimadas. A geada pode interferir na capacidade reprodutiva e vegetativa dos cafeeiros, causando sérios prejuízos para a próxima safra caso as gemas reprodutivas e vegetativas, já presentes na planta, sejam danificadas.
Outro efeito danoso das geadas pode ocorrer nas plantas mais novas, de até dois anos de idade, nessas plantas o frio pode causar queima na parte mais baixa do tronco, na qual há maior deposição de ar frio (devido a sua maior densidade). É a conhecida “geada de canela” que ocorre devido a tais condições de tempo e pelo fato de ainda não existir proteção do tronco pela copa da planta, ainda nova (o efeito guarda-chuva).
Diante das atuais previsões meteorológicas, que alertam para a possibilidade de novos eventos de geadas na região do parque cafeeiro no Sul de Minas nos próximos dias, o momento é de “cautela”. Isto se deve ao fato de que é natural a ansiedade por parte dos produtores na tentativa de resolver a situação de suas lavouras.
Deve-se lembrar que as plantas atingidas pela última geada passaram por estresse muito intenso e ainda se encontram com o metabolismo praticamente paralisado, precisando “descansar”. Quando iniciar a próxima estação chuvosa e com ela vierem as brotações, as plantas irão reagir e revelar ao cafeicultor o melhor caminho/manejo (podas, pulverizações a base de aminoácidos e estimulantes etc.) a seguir.
Alerta-se que atitudes precipitadas podem prejudicar ainda mais as lavouras, pois as plantas ainda se encontram estressadas e, se elas forem sujeitas a poda, por exemplo, terão que ativar seu metabolismo para estimular a brotação, sendo que no momento as plantas estão enfraquecidas para isto. Além disto, plantas podadas (sem proteção) ficam mais expostas aos danos causados pelo frio intenso previsto para essa semana, fazendo com que as injúrias nas plantas possam vir a ser ainda maiores.
O momento atual é vigília em relação a reação por parte das plantas. Cada lavoura deve
ser analisada individualmente, com critério, principalmente, sendo a próxima safra de
bienalidade alta, porque quanto menores forem as podas maior poderá ser o rendimento
das lavouras.
A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foram elaborados com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente, daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se também as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e com base nos
dados climáticos disponibilizados pelo Inmet (5º Disme)/CPTEC-Inpe.
O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Portanto, é de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.
*Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura - [email protected]
*Assessora técnica da EPAMIG, especialista na cultura do café - [email protected]
*Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café [email protected]
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