Café: Honduras também terá quebra na safra, diz Omar Funez (especial para o NA)
O setor cafeeiro mundial está de olho nas lavouras brasileiras. Com os problemas climáticos na maior região produtora do país, a quebra na safra 21 já é dada como certa, e o primeiro levantamento da Conab prevê uma baixa entre 32% e 39% para a produção de arábica.
Claro que uma menor oferta do maior produtor de café arábica do mundo chama atenção do mercado, mas é importante ressaltar que outros importantes polos produtores de arábica – como Honduras - também enfrentam dificuldades, o que deve diminuir ainda mais a oferta global de café no longo prazo.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas, Omar Funez, Secretário-Geral da CONACAFE Honduras, relembra os dois furacões que atingiram a região no ano passado, comprometendo não apenas a distribuição do café hondurenho, mas principalmente todo setor de logística do, até então, maior representante de cafés certificados da ICE.
Três meses depois da passagem do fenômeno, Omar destaca que os danos para a produção chegam a 1 milhão de sacas, levando em consideração que o produtor observou uma incidência maior de doenças, consequência do excesso de água nas lavouras. O Conacafe observa ainda que os níveis de ferrugem no país estão, neste momento, com alerta de incidência denominados como amarelo, laranja e vermelho, levando em consideração o nível de cada produtor.
"Afetou a produção exportável. Houve uma redução direta de 160 sacas de 46 kg, mas indiretamente, devido ao aumento da incidência de ferrugem, falta de mão de obra e grãos danificados, o impacto é de 1 milhão de sacas de 46 kg. A previsão inicial era de 8,2 milhões de sacas e em janeiro fizemos um ajuste para 7,2 milhões de sacas para exportação", afirma Omar.
Em relação aos problemas logísticos, Omar afirma que o governo trabalha em um projeto de recuperação da área rural de Honduras. "Os danos causados são significativos, estamos trabalhando em um plano de reconstrução das estradas rurais, obras de drenagens e pontes, mas isso deve demorar cerca de seis anos", comenta.
Falando sobre o estágio de produção, Omar comenta que 55% da área já foi colhida, e os trabalhos estão cerca de 35 dias atrasados no campo. É importante ressaltar que Honduras, além dos problemas climáticos, enfrenta desde o ano passado um problema econômico social, com parte da população fazendo movimentação migratória para outros países, limitando assim a mão de obra na colheita do café.
De acordo com dados levantados pela Pharos Consultoria, liderada por Haroldo Bonfá, cerca de 8 mil emigrantes de Honduras entraram na Guatemala, em 15 de Janeiro, fugindo da pobreza e violência causadas pela pandemia e pelos 2 furacões que atingiram o país em novembro.
Exportação e Estoques na ICE
Tradicionalmente falando, Honduras sempre representou a maior parcela dos estoques certificados na ICE. O mercado observa, no entanto, essa participação diminuir a cada mês.
Segundo dados levantados pela Pharos, em comparação com o mês passado, Honduras registrou uma baixa de pouco mais de 2% nos estoques, representando assim 47,99% do volume total. Quando fazemos a comparação para o período de um ano, a diferença é ainda mais expressiva. No dia 20 de janeiro de 2020, Honduras representava pouco mais de 70,03% dos estoques certificados.
Comparando os dados com a participação do Brasil, os números são positivos para o maior produtor de café do mundo. Há pouco mais de um ano, a participação do Brasil era apenas de 0,05%, mas atualmente os gráficos da Pharos mostram o Brasil como segundo produtor que mais abastece a ICE, com 39,92% - 669 mil sacas, contra 804 mil sacas de café hondurenho.
Fonte: Pharos Consultoria
O resultado é reflexo da produção em alta escala, mas principalmente do produtor capitalizado que consegue fazer os investimentos necessários para conseguir atender as exigências da ICE.Os números levantados pela consultoria mostram ainda o reflexo da baixa nas exportações Honduras.
Em janeiro de 2021 foram exportados 17,8% a menos do que no mesmo período em 2020. Questionado sobre as baixas nos estoques, Omar afirma que é um reflexo natural do mercado, levando em consideração uma produção em menor escala e o excesso de chuvas que acabam comprometendo também a qualidade do café.
Fonte: Pharos Consultoria
Falando em preços na Bolsa de Nova York (ICE Future), os números mostram que o produtro hondurenho está no limite do nível mais baixo para o preços. Sem romper a casa dos 130 centavos de dólar por libra-peso, Omar Funez afirma que 125 é o valor mais baixo que o produtor tem e ainda consegue ter alguma remuneração. "O ponto de equilíbrio para o produtor hondurenho em média é de US $ 125 / saca de 46, o produto tem uma margem positiva quando a saca está acima desse preço", afirma.
Segundo Haroldo, dentro das condições atuais do principal produtor do mundo (Brasil) e em outros países como produtores, o mercado teria fundamentos para registrar alta, mas os volumes de exportação que o Brasil vem registrando nos últimos meses acaba limitando a valorização do café na Bolsa.
Segundo dados do Cecafé, o Brasil bateu recorde de exportação por três meses consecutivos (outubro-novembro-dezembro). Em janeiro, os embarques chegaram a 3,1 milhões de sacas. "Nós tivemos essa diferença no mês passado, mas com certeza essa diferença foi exportada naquele número bem alto dos embarques de dezembro", complementa Haroldo.
O especialista afirma ainda que, se por um lado os preços não remuneram o país concorrente, com uma safra recorde e de qualidade, o Brasil tem aproveitado o momento justamente para aumentar a participação nos estoques. "O Brasil nunca teve essa oportunidade, com cafés nesses volumes. É importante ver de quem ele está tomando esse lugar. Isso mostra o Brasil mais competitivo no mercado", afirma.
Já em Honduras, com preços abaixo do ideal, a preocupação é justamente com a oferta limitada global de café que pode acontecer no longo prazo. "Ele fala em queda na produção, supondo que você tenha esse equilíbrio com o mercado por 125 cents/lbp, no entanto, ele está recebendo menos dinheiro e ele está consequentemente exportando menos porque teve além dos furacões, os problemas com a Covid e a imigração", diz Haroldo.
O analista de mercado explica ainda que o mercado deve tentar romper a casa dos 130 cents/lbp no longo prazo, e que isso ainda não aconteceu porque a demanda de café, devido a pandemia do Coronavírus, ainda não foi pressionada. "O mercado não está antecipando as altas porque a demanda ainda não explodiu. O pessoal ainda não voltou para as ruas por conta da Covd. Enquanto pelo menos 60% da população mundial não for vacinada, o consumo segue limitado dentro de casa e estababilizado", explica o analista.
A tendência, segundo Haroldo, é que o mercado então continue acompanhando as condições climáticas no Brasil, mas afim de saber como se comportar daqui pra frente, se haverá mais impactos - como geadas e como a planta deve se desenvolver para 2022. "A safra de 2021 já está quebrada, isso não é mais novidade, mas quando a demanda voltar a ficar aquecida, podemos romper esses níveis de mercado", completa.
Saiba mais:
Mercado do café já se prepara para oferta limitada com quebra do Brasil, diz consultor
Depois de uma safra recorde para o Brasil, o setor cafeeiro já começa a se preparar para as consequências dos problemas climáticos que atingiram a maior região de arábica no Brasil no ano passado.
Levantamento feito pela Pharos Consultoria, liderado pelo analista de mercado Haroldo Bonfá, destaca que o mercado já se preparada para o segundo semestre de 2021. Com uma oferta limitada e preços mais altos, a tendência é que o mercado consuma esse estoque já sendo preparado pela ICE. Vale lembrar que em 2020, o que motivou a mudança no consumo foi a pandemia do Coronavírus. Com as incertezas sobre os embarques, importantes polos consumidores como Europa e Estados Unidos passaram a fazer uso dos cafés que já estavam disponíveis, indicando assim um cenário confortável para o consumo de café mesmo com lockdown acontecendo mundo afora.
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