Mesmo atrasada, a atual estação chuvosa tem sido favorável à próxima safra de café

Publicado em 22/12/2017 09:50

Nas últimas semanas a presença de sistemas característicos do período de verão, como a Alta da Bolívia e os Vórtice Ciclônico que se formam na região Nordeste em altos níveis da atmosfera, passaram a atuar sobre a América do Sul favorecendo a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, a qual assegurou que as chuvas fossem mais concentradas na parte central do Brasil favorecendo o café, bem como o algodão, a soja e o milho de verão.

El Niño e La Niña

As atuais condições atmosféricas e oceânicas são semelhantes as que ocorreram nos últimos eventos de La Niña, e podem se estender durante todo o verão, que terá início no próximo dia 21 de dezembro as 14h28m (horário de Brasília). Nesse primeiro momento, a atual condição do oceano e da atmosfera aumentam a probabilidade de que 2018 volte a apresentar chuvas abaixo da média em toda a parte central do país, assim como ocorreu em 2017, mas devido a possibilidade de curta duração não deverá afetar muito o clima e às safras de 2018.

O clima de novembro

De acordo com o boletim mensal do 5º DISME, localizado em Belo Horizonte, o mês de novembro iniciou com registro de chuva em todo o estado de Minas Gerais. O aumento na frequência e volume de chuva ao longo desse mês assegurou estação chuvosa definida em todo o Estado. O mês encerrou com grande volume de chuva no Triângulo Mineiro, sendo que o total mensal variou entre 30 mm, em Guanhães, e 404 mm, em Uberaba. Valores variando entre a normal climatológica e ligeiramente abaixo da média foram observados em quase todas as regiões do Estado, exceto no Triângulo Mineiro que foi praticamente a única região que apresentou chuva acumulada acima da média. Na Figura 1 é possível observar o total de chuva acumulada e a anomalia mensal para o Estado no mês de novembro.

Figura 1 – Precipitação mensal acumulada para novembro (a) e Anomalia mensal de precipitação (b). Fonte: SEÇÃO DE ANÁLISE E PREVISÃO DO TEMPO (SEPRE - 5º DISME) BELO HORIZONTE.
Figura 1 – Precipitação mensal acumulada para novembro (a) e Anomalia mensal de precipitação (b). Fonte: SEÇÃO DE ANÁLISE E PREVISÃO DO TEMPO (SEPRE - 5º DISME) BELO HORIZONTE.

As chuvas em novembro estabeleceram recarga hídrica em todo o Estado. No dia 30, o armazenamento de água no solo superava 40 % da capacidade de campo (CAD) na maioria das regiões mineiras. Armazenamento abaixo de 30 % restringia-se à parte do Norte e Nordeste de Minas Gerais, o qual apresentavam déficit hídrico (Figura 2).

Figura 2 - Condição de déficit hídrico no dia 30 de novembro de 2017. Fonte: SISDAGRO – www.inmet.gov.br
Figura 2 - Condição de déficit hídrico no dia 30 de novembro de 2017. Fonte: SISDAGRO – www.inmet.gov.br

O comportamento das anomalias de temperatura atmosférica, Figura 3 (c e d) sugere, de acordo com o 5º DISME, que ocorreram dias e noites nublados na maior parte do Estado, ou seja, áreas que apresentam anomalia de temperatura máxima abaixo e temperatura mínima acima da média.  Por outro lado, em grande parte do Norte e Nordeste mineiro, as anomalias positivas de ambas as temperaturas sugerem dias com pouca nebulosidade e noites nubladas. Os valores de temperatura variaram entre 22 ºC e 34 ºC, a máxima, e entre 10 ºC e 23 °C, a mínima, Figura 3 (a e b).

​Figura 3 –Anomalias e Média mensal de temperatura: (a,c) máxima e (b,d) mínima, no mês de novembro de 2017: Fonte: SEÇÃO DE ANÁLISE E PREVISÃO DO TEMPO (SEPRE - 5º DISME) BELO HORIZONTE.
Figura 3 –Anomalias e Média mensal de temperatura: (a,c) máxima e (b,d) mínima, no mês de novembro de 2017: Fonte: SEÇÃO DE ANÁLISE E PREVISÃO DO TEMPO (SEPRE - 5º DISME) BELO HORIZONTE.

A chuva em janeiro

No verão as temperaturas mais elevadas no período diurno associada a maior disponibilidade de umidade, contribuem para que ocorra o aumento na formação de nuvens de chuva. O mês de janeiro, verão de 2018, deverá assegurar a continuidade do período chuvoso, principalmente nos estados de Minas Gerais e Roraima, bem como também na parte sul de Goiás, leste do Mato Grosso do Sul e norte do Amazonas. No estado de Minas Gerais, os maiores volumes de chuva são esperados na mesorregião da Zona da Mata, Campo das Vertentes, Metropolitana de Belo Horizonte e na faixa de divisa entre o norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha. Chuvas abaixo da média são esperadas para o leste maranhense e alagoano, agreste alagoano e pernambucano, para o estado Recife e para a região da Mata Pernambucana. Em Minas Gerais é esperado que o volume de chuvas seja reduzido no mês de fevereiro, todavia, as chuvas poderão ocorrer acima da média no sul de Minas nos meses de março e principalmente em abril.

A temperatura em janeiro

A maior presença de nuvens no verão é o principal fator regulador da temperatura atmosférica. No mês de janeiro espera-se temperaturas mais amenas no Matogrosso do Sul, no sul do Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Temperaturas mais altas que a média são esperadas nos estados de Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte, e na região Agreste de Pernambuco e, principalmente, na região norte do Ceará.

O Café

Após o atraso do início da estação chuvosa na região Sudeste, as chuvas de novembro/dezembro têm favorecido o desenvolvimento do café (safra 2018/19), que deverá ser de bienalidade positiva, aumentando a esperança dos cafeicultores na recuperação da produtividade, uma vez que apesar da possibilidade de redução das chuvas em janeiro, quando comparado ao mês de dezembro, janeiro ainda poderá ser considerado como um mês chuvoso. Esse período, de bom desenvolvimento vegetativo, deve ser aproveitado para realização das fertilizações no solo e foliares, além do acompanhamento dos tratos fitossanitários e demais tratos culturais. Porém, a previsão para fevereiro é de estiagem, o que pode afetar o enchimento dos grãos. Desta forma, dentre os métodos de controle de plantas daninhas, o mais recomendado é a roçada, por favorecer um maior acúmulo de matéria orgânica, e consequentemente, maior retenção de água e aproveitamento dos nutrientes no solo.

Outro fato importante, é que no período de estádio de chumbinho, amostras de folhas devem ser coletadas para análise de macro e micronutrientes, para auxiliar os cálculos de fertilização via solo e foliar das lavouras. A amostragem deve ser feita no terceiro e quarto pares de folhas, no terço médio da planta, de ambos os lados das fileiras, o mais homogêneo possível no talhão, perfazendo-se 100 folhas por talhão (4 folhas por planta).

O prognóstico

A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foi elaborada com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Foram consideradas ainda as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET/CPTEC-INPE. Pelo fato do prognóstico climático fazer referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Sendo de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.

1Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG UREZM na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais. - [email protected] ou [email protected]

2Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. [email protected]

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Epamig

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