Maior exportadora de café solúvel do Brasil evita novos contratos por falta de robusta
Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - A Cacique, maior exportadora brasileira de café solúvel, está evitando fechar contratos de exportação com entrega no curto prazo devido a incertezas sobre a oferta de grãos de robusta e teme perder participação de mercado para rivais de outros países.
O diretor de vendas de exportação da Cacique, Pedro Guimarães Fernandes, disse à Reuters nesta segunda-feira que a crise de oferta de robusta do Brasil está "muito séria" e que, sem uma abertura para importações, os embarques de solúveis começarão a despencar em breve.
"A essa altura, eu teria que estar fechado acordos para embarque em maio, mas não estou", disse Fernandes. "Eu não posso fechar um acordo se eu não sei se vou ter a matéria-prima para produzir", disse ele.
O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café verde e também é o maior exportador de café solúvel. Embora não haja problemas com embarques de café verde, já que a safra de arábica foi recorde em 2016, a indústria de café solúvel está sofrendo com uma acentuada redução na produção de robusta devido a dois anos de seca no Espírito Santo, maior Estado produtor da variedade.
O café arábica é geralmente usado para produzir café torrado e moído, enquanto o robusta é amplamente usado para produzir café instantâneo. O Brasil produziu um recorde de 43,4 milhões de sacas de 60 kg de café arábica em 2016, enquanto a produção de robusta caiu para 8 milhões de sacas, a menor desde 2004.
"O nível de estoques (privados contabilizados) pela Conab é irrisório, não dá nem pra chamar de estoque. Se colocar (o consumo destinado para) torrado e moído junto, isso aí daria pra um mês", disse Fernandes, que também lidera a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics).
O governo brasileiro projetou os atuais estoques privados de café robusta no Espírito Santo e outros Estados produtores em 2,14 milhões de sacas.
O Brasil não permite importações de café sob o argumento de que eles poderiam expor os cafezais a doenças.
Fabricantes de café instantâneo estão tentando convencer o governo sobre a necessidade de importar café robusta. Autoridades em Brasília ainda estão avaliando a questão, disse o Ministério da Agricultura nesta segunda-feira.
Fernandes disse que a indústria de café instantâneo também está pedindo a produtores de café, que historicamente se opõem a qualquer importação, para mudar sua postura e considerar uma janela temporária de importação.
Ele disse que se a indústria perder participação de mercado no exterior, será ruim para produtores também, já que isso iria reduzir a demanda por café no futuro.
O diretor da Cacique disse que produtores de café instantâneo do Brasil deverão importar café robusta do Vietnã se o governo decidir autorizar uma janela temporária de importação.
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