Nova cultivar de café tem potencial para mudar realidade do campo na Amazônia
A cafeicultura de Rondônia, segundo maior produtor de café conilon do País, teve aumento de 35% na produção nos últimos três anos e deve receber um impulso considerável nos próximos anos, de acordo com o pesquisador e economista da Embrapa, Samuel Oliveira. O especialista aposta na adoção da BRS Ouro Preto, cultivar clonal de café conilon desenvolvida pela Embrapa Rondônia, em parceria com o Consórcio Pesquisa Café
Adaptada às condições de solo e clima da Amazônia,a nova cultivar tem produtividades de 70 sacas/hectare sem irrigação e acima de 110 com irrigação, o que significa um salto de produtividade em Rondônia, por exemplo, onde a média atual é de 21 sacas por hectare.
Para Samuel Oliveira, ao analisar uma perspectiva de impacto da inserção da BRS Ouro Preto no mercado, calculando uma produtividade média chegando a 35 sacas por hectare (metade do potencial da cultivar) nos 90 mil hectares do grão cultivados em Rondônia, pode-se chegar a mais de 3 milhões de sacas de café – aumento considerável, já que a produção atual é de 1,9 milhão de sacas. Isto é possível considerando o menor custo de produção em relação a outras regiões grandes produtoras, como o Espírito Santo.
"As temperaturas elevadas e a maior precipitação pluviométrica, características de Rondônia, tornam alcançável esta projeção em um cenário de continuidade do processo de inovação tecnológica capitaneado pelo setor produtivo. E a BRS Ouro Preto, único material registrado para o cultivo na Amazônia, dará importante contribuição neste alcance, propiciando o aumento da produtividade da cafeicultura no estado e também na região, como nos estados vizinhos do Acre, Amazonas e Mato Grosso", destaca Oliveira. Esta previsão não considera o aumento do número de cafeicultores em Rondônia, 22 mil atualmente (Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, 2015), que, segundo o pesquisador, pode aumentar em função do retorno econômico apresentado pela atividade.
Oliveira explica que os cafeicultores, em sua maioria pequenos produtores, investem progressivamente em práticas corretas de plantio, cultivo, colheita e pós-colheita e, com a adoção da BRS Ouro Preto, os resultados podem ser potencializados: aumento da renda gerada pela agricultura, fixação do homem no campo e ainda contribuição para a preservação ambiental, já que se produz mais e melhor em menores áreas.
Mais renda para agricultura familiar
De acordo com estudos realizados pela Embrapa Rondônia, sistemas de produção intensivos podem aumentar a renda disponível para a agricultura familiar de meio salário mínimo mensal para até quatro salários "Um agricultor que hoje implantar este sistema no café colherá seus lucros já a partir de três anos. É uma verdadeira iniciativa de inclusão social sustentável: o pequeno agricultor, com o resultado de seu trabalho, tem viabilizado uma cafeicultura mais rentável, mais competitiva e que cuida melhor do meio ambiente. Outros pequenos agricultores podem trilhar esta trajetória de sucesso e certamente terão melhores condições de vida, gerando emprego e renda para a agricultura familiar", aponta o economista.
Produtores familiares da Amazônia Ocidental começam a implantar as primeiras lavouras da cultivar de café conilon BRS Ouro Preto. Entre outras características, o aumento da produtividade é o que mais tem chamado à atenção dos cafeicultores.
O produtor Gelsimar Bergamin, do município de Seringueiras (RO), foi um dos primeiros a adquirir a nova cultivar de café desenvolvida pela Embrapa. "A BRS Ouro Preto aqui vai alavancar a produtividade e melhorar também a vida. Se conseguirmos produzir mais, podemos comprar e investir mais. Não dá para ficar hoje naquele velho tempo de antigamente, na enxada e na base da espera. Temos que investir em tecnologia, em irrigação, adubação boa, e também melhorar o uso de fungicida, quando precisar", comenta.
A cafeicultura de Rondônia passa por importantes transformações. Entre 2011 e 2015, a área plantada diminuiu de 150 mil para 90 mil hectares, a produção evoluiu de 1,4 para 1,8 milhão de sacas e a produtividade, de 9 para 21 sacas por hectare e hoje já se aproxima da média nacional para o café conilon, 26 sacas por hectare, de acordo com dados da Conab.
BRS Ouro Preto chega às lavouras
As mudas da BRS Ouro Preto estão sendo comercializadas em Rondônia por viveiristas credenciados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa). Antônio Gotz é um deles e conta que a procura por mudas da cultivar está grande. "Recebemos bastante visita que vem ver essa variedade. Vem produtor do nosso estado, já tivemos produtor do Acre, Amazonas e Mato Grosso. Já estão nas lavouras de Rondônia umas 70 mil mudas e para o final do ano vamos ter mais umas 200 mil", explica o viveirista credenciado.
Ao visitar os jardins clonais e viveiros credenciados, algumas características da estrutura da nova cultivar têm chamado a atenção dos cafeicultores. Antônio conta que, ao olhar para a planta, os produtores já observam a quantidade de rosetas por ramo, demonstrando o potencial produtivo da cultivar. "Para os outros cafés da região, os espaçamentos dos ramos são longe um do outro e a BRS Ouro Preto é mais compactada, aí tem condição de dobrar a produção", comenta.
A curta distância entre as rosetas possibilita também que haja um maior número delas e, consequentemente, mais frutos por ramos. Assim, com o adensamento da lavoura, é possível ter mais plantas por área, utilizando-se com eficiência o espaço e favorecendo o aumento da produtividade. Além destas características, a BRS Ouro Preto possui uniformidade de maturação dos frutos, moderada tolerância à ferrugem e ao estresse hídrico. "O produtor fica feliz com planta saudável e colheita farta. É dinheiro no bolso e é esse nosso objetivo", finaliza o viverista.
O pesquisador da Embrapa Rondônia e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da BRS Ouro Preto, André Rostand, destaca: "A BRS Ouro Preto tem condições de promover a inserção competitiva da agricultura familiar no mercado, além de contribuir para a sustentabilidade econômica e social das pequenas propriedades rurais cafeicultoras no estado", comenta. O pesquisador reforça o papel de Rondônia na cafeicultura, que hoje é o quinto maior produtor de café do Brasil e juntamente com o Espírito Santo são responsáveis por 90% da produção nacional de café conilon/robusta.
Além da expressividade econômica para Rondônia, o cenário atual da cultura no estado também favorece a adoção da nova cultivar. Rostand explica que a BRS Ouro Preto está chegando ao campo em um excelente momento, em que os cafeicultores estão mais atentos à importância do uso de tecnologias e a cultivar é indicada para cafeicultores que já adotam algumas tecnologias básicas, como adubação, manejo de pragas e doenças, entre outras.
O cafeicultor e também viveirista Reonides Pezzin, do município de Buritis (RO), confirma os benefícios da adoção de tecnologias: "Os pequenos produtores têm que diminuir a área plantada, investir em tecnologia e, fazendo isso, eles vão aumentar a produção e ter uma renda grande para a família que tem que ficar no campo".
BRS Ouro Preto: primeira cultivar de café da Embrapa
A cultivar de café Conilon BRS Ouro Preto (Coffea canephora Pierre ex Froehner), a primeira lançada pela Embrapa no Brasil, é resultado de pesquisa conduzida pela Embrapa Rondônia e o Consórcio Pesquisa Café. Também é a primeira cultivar de café conilon do Brasil a receber o Certificado de Proteção, concedido pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Recomendada para Rondônia e região da Amazônia Ocidental, a cultivar possui 15 clones e foi obtida pela seleção de cafeeiros com características adequadas às lavouras comerciais do estado e adaptada ao clima e ao solo da região. Sua denominação é uma homenagem ao município de Ouro Preto do Oeste, centro pioneiro da colonização oficial do antigo território de Rondônia.
A comercialização da BRS Ouro Preto é realizada apenas por viveiristas credenciados pelo Mapa, de maneira que a qualidade da cultivar seja mantida e entregue ao cafeicultor. Os viveiristas e seus contatos podem ser obtidos no Portal da Embrapa.
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